Monterrey ensinou caminho ao Flamengo no Mundial de Clubes

Mexicanos expuseram falhas defensivas do Liverpool, especialmente em contra-ataques. Reforços podem dificultar vida dos brasileiros

Por: Bruno Gutierrez  -  19/12/19  -  15:14
Marcação forte e sob pressão foi a tônica do Monterrey contra o Liverpool
Marcação forte e sob pressão foi a tônica do Monterrey contra o Liverpool   Foto: GIUSEPPE CACACE/AFP

A estrada não é muito pavimentada e com buracos traiçoeiros mas, de certa forma, o Monterrey mostrou ao Flamengo um caminho para triunfar no Mundial de Clubes da Fifa, disputado em Doha, no Catar.


O Rubro-Negro disputa a grande final do torneio, neste sábado (21), contra o Liverpool. Os ingleses eliminaram os mexicanos, na última quarta-feira (18). A vitória, diferente dos que os admiradores dos Reds pensavam, foi suada, nos últimos minutos, com um gol de Roberto Firmino.


Jorge Jesus e seus comandados acompanharam 'in loco' a disputa da semifinal. Com certeza, já estão estudando o adversário deste fim de semana. E o Monterrey conseguiu "desmistificar" o bicho-papão de Liverpool.


O Monterrey conseguiu furar a defesa vermelha. E levou perigo ao gol de Alisson, que salvou o futuro do Liverpool no torneio. Poucas vezes um clube fora da América do Sul ameaçou tanto um europeu.


A tática foi simples. Quando o Liverpool estava no primeiro quarto do campo, ainda em sua defesa, os mexicanos apareciam com quatro atletas para marcar a saída de bola e dificultar o passe para jogadores mais cerebrais como Salah, Keita ou Shaqiri. Com isso, os Reds necessitavam jogar com seus laterais, Robertson e Milner (improvisado) ou com Oxlade-Chamberlain, que está longe de ter a qualidade de Fabinho (contundido e fora do Mundial).


Quando o time inglês passava do meio-campo, o Monterrey tratava de povoar a entrada da área. Mesmo que a bola caísse nos pés de Lallana ou Keita, a infiltração se tornava difícil. Até porque os defensores mexicanos marcavam sob pressão os atacantes dos Reds, além de isolar Origi dentro da área.


As poucas vezes que o Liverpool encontrava espaço dentro da área, ele surgia da genialidade de Mou Salah. Primeiro, com a enfiada de bola que culminou no gol de Keita. Depois, o genial passe de calcanhar para Milner. No entanto, era pouco para bater Barovero.


Aliás, as subidas de Milner foi o primeiro ponto a ser explorado pelo Monterrey. Volante improvisado e veterano, o jogador de 33 anos deixava um buraco na ponta esquerda do ataque mexicano. Por ali, Pizarro pode explorar a velocidade para puxar o ataque e deixar companheiros como Funes Mori e Pabón em boas condições para o arremate. Porém, a má pontaria do time campeão da Concacaf também ajudou ao Liverpool.


Ou seja, minando a saída de bola e isolando os jogadores mais cerebrais, o Monterrey fez com que o Liverpool avançasse outros atletas e expôs as falhas defensivas inglesas, o que facilitou os contra-ataques do time do México.


Mas...


Apesar desse ser um caminho para o Flamengo explorar, ainda mais tendo jogadores como Bruno Henrique, Gabriel e Arrascaeta, é preciso ponderar algumas particularidades da semifinal do Mundial de Clubes.


O primeiro ponto: como dito no texto, Milner jogou improvisado na lateral-direita. O titular, Trent Alexander-Arnold ficou no banco e atuou somente por 15 minutos. Além de ser um lateral de origem, também é cerebral, tendo sido responsável pelo gol surpresa do Liverpool na partida contra o Barcelona, na goleada que classificou a equipe inglesa para a decisão da Liga dos Campeões.


O segundo ponto é: Joe Gomez é um zagueiro lento. O titular, Matip, está lesionado e nem viajou para o Catar. Seu parceiro de zaga foi Henderson, só que o capitão do time, assim como Milner, é volante e foi improvisado - talvez pela primeira vez na carreira, como defensor. O dono da posição é Virgil Van Dijk, o melhor zagueiro do mundo. Contra o Monterrey, o holandês estava doente e nem saiu do hotel. Pode se recuperar e ir para a final.


O terceiro ponto é: Jurgen Klopp poupou dois dos três jogadores de frente. Por mais que sejam bons jogadores, com um grande histórico nas seleções de seus países, Origi e Shaqiri são boas opções para o segundo tempo, mas não são titulares. Essas vagas são, respectivamente, de Roberto Firmino e Sadio Mané. Ambos, assim como Alexander-Arnold, ficaram no banco e entraram durante o jogo.


Firmino, aliás, jogou pouco mais do que cinco minutos. E foi numa jogada entre Salah, Alexander-Arnold e o brasileiro, que saiu o gol da classificação. Ou seja, a missão do Flamengo pode ser mais ingrata do que a do Monterrey.


Último ponto é: Filipe Luís. Sadio Mané, Mou Salah, Alexander-Arnold...todos tem um ponto em comum. Eles gostam de atuar pela direita (Mané atua bem nas duas pontas), em cima do lateral-esquerdo do time rival. Filipe Luís demonstra que tem sentido o peso da maratona de jogos e foi alvo de críticas da torcida na partida contra o Al-Hilal. Além disso, o brasileiro já não é um garoto e os 34 anos podem pesar para suportar os 90 minutos (ou mais) de jogo.


Com isso, Gerson pode acabar sendo sacrificado, forçado a cobrir o lateral-esquerdo para dar maior segurança defensiva. Com isso, o Rubro-Negro perderia aquele atleta do primeiro passe, que dá a saída rápida para o ataque. Isso passaria a ser função de Everton Ribeiro, que não rende tão bem quando é posicionado de forma mais recuada.


Jorge Jesus tem poucos dias e muito trabalho para encontrar, em meio a trilha esburacada aberta pelo Monterrey, um caminho tranquilo rumo ao bicampeonato mundial.


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