João Pedro, do Fluminense, resume a falência brasileira

Com 17 anos e início arrasador, ele já está vendido para o inexpressivo Watford

Por: Heitor Ornelas  -  25/05/19  -  19:39
É inadmissível que um jogador esteja apenas de passagem no país de origem aos 17 anos
É inadmissível que um jogador esteja apenas de passagem no país de origem aos 17 anos   Foto: CARL DE SOUZA/AFP

João Pedro tem 17 anos e, nas dez primeiras partidas como profissional, marcou sete gols pelo Fluminense. Em condições normais, pelo menos em termos de Brasil, o atacante  estaria começando recebendo propostas do exterior. Mas aqui o buraco é mais embaixo: ele não vai receber oferta nenhuma porque já está vendido ao modesto Watford, da Inglaterra.


Ainda que as economias brasileira e inglesa sejam incomparáveis, é inadmissível que um jogador, especialmente um promissor, esteja apenas de passagem no país de origem aos 17 anos. Afinal, não estamos falando de um atleta de um time pequeno, de um centro distante, e sim do Fluminense, uma das forças do futebol nacional.


A situação é tão descabida que virou piada. Após João Pedro marcar três gols na vitória por 4 a 1 sobre o Atlético Nacional, pela Copa Sul-Americana, as redes sociais do Watford postaram mensagens saudando o jogador e lembrando que em janeiro ele estará na nova casa. Um autêntico “riam enquanto podem”.


De 30 anos para cá os clubes cariocas se afundaram em problemas econômicos e administrativos. Deles, o Flamengo foi o único capaz de se reerguer – com muita competência, diga-se de passagem. Entretanto, nada justifica vender um jogador que ainda nem completou 18 anos  por pouco mais de R$ 10 milhões.


Exceções existem, como o caso do santista Rodrygo, que aos 18 anos vai trocar o Santos pelo Real Madrid por quase R$ 200 milhões. Aí não dá para segurar mesmo. Só que em casos como o de João Pedro, os clubes precisam estar minimamente organizados para estarem aptos a rejeitar café pequeno. E para isso, têm a obrigação moral de se reerguer econômica e administrativamente.


Apesar do começo de carreira excepcional, ninguém sabe até onde João Pedro chegará. Se será um novo fenômeno, um bom jogador ou alguém que ficará marcado pela largada fulminante e em seguida nada mais de relevante vai produzir. O que se pode dizer desde já é que o futebol brasileiro tem como missão de primeira ordem colocar cadeado na porteira e tirar o pescoço da guilhotina.


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