Imprensa esportiva cumpre seu papel

Por mais que o presidente do Santos reclame, finanças do clube são do interesse de todos

Por: Heitor Ornelas  -  08/01/20  -  18:38
Atualizado em 08/01/20 - 18:57
Jesualdo e Peres durante a apresentação do técnico português no Santos, nesta quarta
Jesualdo e Peres durante a apresentação do técnico português no Santos, nesta quarta   Foto: Ivan Storti/Santos FC

A apresentação do técnico Jesualdo Ferreira no Santos foi marcada por um desabafo do presidente José Carlos Peres. Segundo ele, a imprensa está preocupada demais com as finanças e os bastidores do clube. Esses temas, de acordo com o dirigente, só dizem respeito aos dirigentes. Os jornalistas deveriam se restringir a noticiar as questões do futebol, como análises de jogos e entrevistas de jogadores e treinador, conforme o raciocínio de Peres.


A opinião do presidente do Santos talvez seja compartilhada pela maioria dos dirigentes e até por alguns torcedores. Contudo, em tempos nos quais a comunicação move o mundo, a imprensa esportiva cumpre o seu papel. Por mais que desaprove o que lê, Peres sabe que as contas são tudo em um clube de futebol. E sendo assim, são necessariamente objeto de apuração e informação, desde que tudo seja feito com correção e responsabilidade.


Em um país no qual a maioria dos clubes é mal-administrada, sem falar nos casos de corrupção e de conluio entre dirigentes e empresários de jogador, o papel dos repórteres ganha ainda mais importância. Talvez, a questão deva ser vista pelo ângulo inverso: se o noticiário sobre os bastidores da bola tivesse despertado mais cedo no Brasil, hoje a situação seria mais favorável, e dirigentes como José Maria Marin, Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero nem tivessem surgido. Além disso, Flamengo e Palmeiras, dois casos claros de boa gestão, não estariam tão à frente dos demais. E potências como Botafogo, Fluminense, Vasco e São Paulo não dariam tantos vexames como nos últimos anos.


O Cruzeiro é o exemplo mais emblemático da importância da transparência. Embora tenha sido bicampeão da Copa do Brasil, por dentro um câncer dilacerava as entranhas do clube, alimentado por desmandos e amadorismo. Em 2019, a conta chegou da maneira mais pesada possível: rebaixamento para a Série B e caos financeiro, com potencial para comprometer o futuro do clube – a ponto de se falar até em refundação.


O Santos, historicamente, luta contra dificuldades financeiras. O clube, o único grande fora de uma capital no Brasil, se vira com receita de time médio e, mesmo assim, muitas vezes conquista títulos ou realiza boas campanhas, como no Campeonato Brasileiro do ano passado. Apesar disso, as falhas de gestão também vêm desde tempos remotos. Contratações mal-feitas e o costume de gastar mais do que arrecada são práticas nocivas, que já trouxeram – e ainda trazem – muitos problemas, vide Leandro Damião e Cueva. Para virar esse jogo, ou ao menos para evitar o agravamento, a atuação da imprensa que expõe números e relata questões decisivas,, ainda que internas, é fundamental.


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