De fora para dentro

Demissão de Abel no Flamengo mostra como cartolas têm sido omissos diante da pressão de torcedores

Por: Alexandre Fernandes  -  30/05/19  -  01:12
Abel Braga deixou o comando técnico do Flamengo nesta quarta-feira após poucos mais de seis meses
Abel Braga deixou o comando técnico do Flamengo nesta quarta-feira após poucos mais de seis meses   Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

"Este é o Flamengo que, para a tristeza de alguns, retoma sua história de campeão. 


Talvez seja por isso que vemos aparecer, em certos veículos de comunicação e em algumas redes sociais, os ataques mentirosos e as tentativas de se criar crises infundadas, que recorrentemente aparecem às vésperas de jogos importantes. 


Mais uma vez elas estão de volta, com toda a força, antes de um momento decisivo para nosso Flamengo.


Estes ataques vêm daqueles que viram cessar seus privilégios dentro do Clube, daqueles que vivem do sensacionalismo barato, daqueles que perdem com um Flamengo mais forte".


O texto acima foi extraído de uma nota oficial divulgada pelo Conselho Diretor do Flamengo no último dia 3 de maio. Pois não demorou um mês para que esse "Flamengo mais forte" perdesse o seu treinador. A demissão de Abel Braga nesta quarta-feira (29) reflete uma tendência cada vez mais forte no futebol brasileiro, do clube que é administrado de fora para dentro.


Por pior que tenha sido o trabalho de Abel, e não foi bom mesmo, a diretoria do Flamengo consegue sair dessa história mais desmoralizada que ele. Em entrevista coletiva, o presidente do clube, Rodolfo Landim, deu a entender que o técnico é que não soube lidar com a pressão da torcida e pediu para ir embora. Não quis fazer como o presidente do Vasco, Alexandre Campello, que logo após ver o time perder a final do Campeonato Carioca - justamente para o Flamengo - assumiu que demitiu o técnico Alberto Valentim porque a pressão vinda de fora começara a atingir a equipe. Campello foi muito criticado na ocasião. Pelo menos foi corajoso.


É claro que o barulho que se faz nas redes sociais é muito forte. Hoje, até entre os torcedores simples que põem sua hashtag #foraesse ou #foraaquele há umas lideranças reverberando os protestos. Desde influenciadores digitais a jornalistas que soltam comentários raivosos a cada derrota do time do coração, de um jeito que não faria se falasse de outra equipe.


Agora, se a diretoria do clube tem realmente convicção no trabalho de seu treinador, não haverá barulho em rede social que o derrube. E também não há necessidade de soltar nota oficial para reforçar sua confiança no trabalho dele. Até para não passar rídiculo menos de um mês depois.


Abel caiu atirando. Sai do clube chamando Landim - que, coincidentemente, rima com Caim - de traidor Segundo ele, a cúpula do Flamengo já procurava outro treinador enquanto tentava arrumar um bom motivo para mandá-lo embora.


Já os membros da diretoria, que se portaram da pior maneira possível no episódio do incêndio no Ninho do Urubu, mostraram novamente sua omissão diante de um fato bem menos grave. Mas para eles, se isso já foi suficiente para diminuir a pressão que vem de fora, tudo bem. E assim vai.


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