Rafael Motta: Acordo do túnel é um gol da política

As partes poderão contar que foram decisivas e ainda estarão blindadas da ‘blogueirice' de aliados e opositores

Por: Rafael Motta  -  02/02/24  -  06:33
  Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Não foi mais do que a vitória da política o acordo formal que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador Tarcísio de Freitas firmarão hoje, em Santos, para que o túnel entre Santos e Guarujá seja aberto em conjunto pelos governos Federal e Estadual. Os políticos que têm mandato e apoiam um ou outro darão suas versões do fato, ajustando seu discurso a aquilo que acham que o eleitorado deles pensa — e nem sempre dizendo o que eles próprios acham, um mistério que guardam para si.


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Uma das versões dá conta de que o Governo Estadual teria sido firme em não aceitar que a União tocasse o empreendimento sozinha, e isso, supostamente, forçou Brasília a ver que, sem São Paulo, o negócio não vai. Daí, o acerto entre eles. Mas há algo que deveria ser levado em consideração, e é a qual ente ‘pertence’ o canal de navegação do Porto no qual se faria o túnel imerso. O complexo está sob controle federal, o que impediria o Estado de abrir qualquer coisa ali sem autorização superior.


Esse elemento dá força a outra hipótese. Segundo o Governo Federal, o Estado vinha demorando a entregar documentos e analisar autorizações para a obra do túnel. Estava definido, desde o ano passado, que os dois trabalhariam unidos e partilhariam custos. Porém, tal lerdeza teria irritado Brasília, que chutou o pau da barraca. Mas não foi com muita força. Serviu apenas para abalar os brios do Estado. E este mordeu a isca: para também entrar para a posteridade, correu para Brasília.


Mais importante do que o seu presidente, governador ou deputado(a) federal ou estadual favorito(a) está querendo lhe dizer nas redes sociais ou em comunicados à imprensa é que a cooperação técnica para a construção do túnel Santos-Guarujá será assinada hoje, no Porto. As duas partes poderão contar que foram decisivas no projeto. Se não ficarão livres de críticas do público, estarão blindadas da ‘blogueirice’ de aliados e opositores: nenhum poderá falar mal do projeto, pois todos estão nele.


Talvez este último efeito do saudável entendimento entre Lula e Freitas se torne um problema caso a obra leve mais do que o previsto. É de se imaginar o que políticos de um lado e de outro diriam, se atrasasse. Algo como “devemos confiar no presidente, pois ele tem vontade política” ou “o governador é um gestor sensível e não permitirá retrocessos” ou, ainda, “vamos acreditar, porque é o futuro da região em nossas mãos, e estaremos de olho, sempre acompanhando e fiscalizando”.


Ao menos as barbaridades cometidas por políticos nos últimos dez anos para atiçar o povo, como Aécio Neves exigindo recontagem de votos após perder para a reeleita presidente Dilma Rousseff, e Jair Bolsonaro emanando a pureza, a nobreza e as qualidades que não tem para bradar que não se entendia com a ‘esquerda’, serviram para trazer a política de volta ao mundo real do entendimento. Até mesmo entre adversários, quando se trata de algo pelo bem comum. Falta ir além das palavras.


Em todo cenário, mau governante sai perdendo. Agora ou na eleição.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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