Os sonhos são como janelas para um mundo além do alcance do consciente, onde a realidade se dissolve em uma dança de possibilidades infinitas. Para alguns, essas janelas estão constantemente entreabertas, revelando vislumbres de universos alternativos onde o impossível se torna plausível. Para outros, como eu, essas janelas parecem estar sempre cerradas, deixando-nos na escuridão da noite sem lembranças vívidas do que se passou durante o sono.
Confesso que ambiciono ser como aqueles que conseguem descrever com minúcias os seus sonhos, como se estivessem narrando uma história tão real quanto o próprio despertar. Enquanto isso, eu me contento em vagar por um vazio de memórias oníricas, onde o sono é um mergulho profundo em um abismo escuro, do qual emergimos apenas quando o sol desponta no horizonte.
Todavia, há uma exceção a essa rotina de esquecimento. Recentemente, numa noite dessas, em um momento fugaz entre o sono e a vigília, fui presenteado com um vislumbre de um mundo verde e exuberante, onde uma estação de trem se erguia como um farol no horizonte. E ali, entre as árvores e os trilhos, estava ela: minha filha. O que conversamos naquele instante fugaz, não consigo recordar, mas a sensação que me envolveu foi de uma doçura indescritível.
Foi como se por um breve instante eu tivesse tocado o céu com as mãos, sentido o calor do sol e a brisa suave acariciando meu rosto. E então, como um sopro de vento que se dissipa na noite, o sonho se desfez, deixando-me apenas com a memória de uma felicidade efêmera, mas intensa. É curioso como algo tão fugaz pode ter um impacto tão profundo em nós. Mesmo sem lembrar os detalhes do que se passou durante a noite, acordamos com uma sensação de plenitude, como se tivéssemos experimentado algo verdadeiramente especial. E é nesse mistério dos sonhos que reside sua importância em nossas vidas.
Durante os dias que se seguiram, refleti muito a respeito desse singelo acontecimento e cheguei a conclusão que mesmo não podendo recordar o caminho que percorremos enquanto dormimos, o simples fato de sabermos que os sonhos existem, nos fazem lembrar da capacidade infinita da imaginação humana, da esperança que reside em nossos corações e da certeza de que, enquanto pudermos sonhar, sempre haverá um motivo para acordar com um sorriso nos lábios e o coração cheio de expectativas.
É essencial que continuemos a sonhar, mesmo que nossos sonhos sejam como estrelas cadentes, piscando brevemente no firmamento antes de se extinguirem. Pois é através dos sonhos que damos asas à nossa alma, voando para além das limitações do mundo material, rumo a um universo de possibilidades onde tudo é possível, onde tudo é permitido. E é lá, nos confins dos sonhos, que encontramos a verdadeira essência da vida: o amor, a esperança e a eterna busca pela felicidade.