Não podemos ter medo do escuro

A sociedade atual, em comparação com aquela época, demonstra uma maior preocupação com a interação entre as crianças

Por: Paulo de Jesus  -  10/02/24  -  06:35
  Foto: Divulgação

Numa noite dessas, enquanto minha filha e eu buscávamos algo para assistir na TV, deparei-me com o filme "Orion e o Escuro", animação da DreamWorks feita em parceria com a Mikros Animation, empresa francesa de efeitos visuais. Com o cuidado de não trazer nenhum “spoiler”, o trabalho trata da história de Orion, um garoto solitário no Ensino Fundamental, que enfrenta não apenas os desafios típicos da pré-adolescência, mas também um mal mais complexo: o medo de quase tudo. Apesar da singeleza do tema, este relato ressoou profundamente em mim, levando-me a refletir sobre como os medos enfrentados na infância, muitas vezes erroneamente considerados obstáculos, podem se tornar molas propulsoras para o sucesso na vida adulta.


Orion, personagem central do filme, enfrenta não apenas a ansiedade comum à sua idade, mas também luta para lidar com suas próprias emoções, temendo falhar, ser ridicularizado e sofrer bullying. Esses medos, longe de serem exclusivos de sua realidade fictícia, refletem desafios universais enfrentados por crianças em diversas épocas, inclusive pela minha própria experiência como uma criança lá nos anos 80 que, apesar de muitas pessoas talvez não acreditarem, era tímido e até certo ponto introvertido.


A sociedade atual, em comparação com aquela época, demonstra uma maior preocupação com a interação entre as crianças, promovendo o respeito às diferenças e abordando questões relacionadas ao bem-estar infantil. No entanto, apelidos, isolamento e bullying, que à época eram aceitos como “brincadeiras”, persistem como desafios reais. Apesar dos avanços, é imperativo que estejamos mais atentos às crianças, fornecendo ferramentas eficazes para que enfrentem os medos impostos por essa fase desafiadora.


Minha própria jornada, semelhante a de Orion, envolveu superar a timidez e os desafios do Ensino Fundamental. A diferença temporal destaca a necessidade constante de evolução nas abordagens educacionais e sociais. As dificuldades enfrentadas na infância, se acompanhadas de perto pela família e escola, não apenas moldam a força de caráter, mas também preparam um terreno fértil para o sucesso futuro.


"Orion e o Escuro" e minha própria experiência revelam que os medos infantis não devem ser encarados apenas como obstáculos, mas como ferramentas de desenvolvimento. A melhoria significativa na conscientização social é admirável, mas é essencial ir além. Devemos proporcionar às crianças não apenas um ambiente seguro, mas também as habilidades necessárias para enfrentarem os desafios com confiança.


Ao acompanharmos de perto os medos que permeiam a infância, familiares e educadores têm o poder de oferecer suporte emocional e orientação prática. Essas situações, apesar de desafiadoras, podem se transformar em impulsionadores cruciais para a construção de personalidades resilientes e bem-sucedidas. Portanto, ao reconhecer e superar os medos na infância, não apenas cultivamos indivíduos fortes, mas também semeamos as bases para uma vida adulta repleta de conquistas. Não podemos ter medo do escuro.


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