A internet não deve ser espaço para idiotas

Muitos de nós não conseguem sequer lembrar como eram as nossas vidas antes dessa radical mudança

Por: Paulo de Jesus  -  04/05/24  -  06:41
  Foto: Unsplash

É inegável que a ascensão da internet e das redes sociais marcou uma era de conexão global sem precedentes, catapultando a humanidade para um novo estágio de comunicação e interação. Muitos de nós não conseguem sequer lembrar como eram as nossas vidas antes dessa radical mudança. No entanto, por trás dos avanços tecnológicos e das oportunidades de compartilhamento de informações, surge uma sombria realidade: a amplificação das vozes da ignorância e da intolerância.


Não podemos negar que a internet revolucionou a forma como nos comunicamos e acessamos o conhecimento. Em poucos cliques temos acesso a uma vastidão de informações que antes estavam fora do alcance. Contudo, junto com essa democratização do conhecimento, surgiu uma nova dinâmica social, na qual qualquer indivíduo, independentemente de sua competência ou discernimento, pode se autoproclamar um especialista e propagar suas opiniões de forma indiscriminada. Observo com preocupação esse movimento, especialmente quando noto que milhões de pessoas hoje consomem na internet quaisquer conteúdos sem conhecer a trajetória daqueles que os oferecem.


Conversando com o meu amigo e sócio Érico Lafranchi a respeito desse assunto, revisitamos o renomado escritor e intelectual Umberto Eco e relembramos a brilhante captura dessa realidade feita por ele quando afirmou de forma contundente que a internet deu voz aos idiotas. Nesse bate-papo concluímos, por mais ácida que essa ideia possa parecer, que esta reflete o que ocorre nas redes sociais atualmente. Nestes espaços virtuais, não é incomum encontrar indivíduos que, desprovidos de qualquer embasamento ou conhecimento, se manifestam de maneira ruidosa e agressiva, impondo suas opiniões como verdades absolutas.


Ponderamos, inclusive, que um dos aspectos mais preocupantes dessa situação é a propagação da ignorância e da desinformação. Nas redes sociais, a falta de filtro e a ausência de responsabilidade permitem que teorias conspiratórias, notícias falsas e discursos de ódio se espalhem como um vírus, contaminando mentes desprevenidas e minando a construção de um debate saudável e fundamentado. Tanto isso é verdade que, atualmente, evito até comentar eventualmente em postagens feitas para evitar conflitos desnecessários com pessoas que, aparentemente, tem todo o tempo do mundo para isso.


Isso se dá em razão da cultura do ódio e da intolerância que floresce nas entranhas das redes sociais. Tratei em inúmeras crônicas trazidas neste espaço a minha crítica àqueles que, sob o véu do anonimato e da impunidade virtual, se sentem encorajados a proferir ataques pessoais e ofensas gratuitas contra aqueles que ousam discordar de suas opiniões. A discordância é vista como uma ameaça ao ego frágil desses "especialistas de teclado", que respondem com agressividade e violência verbal.


É preciso reconhecer que a liberdade de expressão, um dos pilares democráticos da internet, está sendo distorcida e pervertida por aqueles que usam sua voz não para promover o diálogo e o entendimento mútuo, mas para disseminar o caos e a discórdia. A era digital deveria ser um espaço de enriquecimento intelectual e cultural, entretanto, está se transformando em um campo de batalha onde a razão e o bom senso são frequentemente sacrificados no altar da ignorância e da intolerância.


Diante desse cenário, é imperativo que sejam tomadas medidas para combater os efeitos nocivos das redes sociais. Isso não significa suprimir a liberdade de expressão, mas sim promover uma cultura de responsabilidade e respeito mútuo. As plataformas digitais devem implementar mecanismos mais eficazes de moderação e combate à desinformação, além de incentivar o pensamento crítico e a busca pelo conhecimento. Devemos resistir à tentação de nos render ao discurso da ignorância e do ódio, e em vez disso, promover uma cultura de diálogo, tolerância e respeito. Somente assim poderemos transformar a internet em um verdadeiro espaço de aprendizado e crescimento para toda a humanidade.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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