Verdadeiro balé

Clodoaldo Tavares Santana é um dos ídolos eternos dos Santos. É praticamente uma unanimidade

Por: Marcio Calves  -  17/03/24  -  07:38
  Foto: Matheus Tagé/AT

A memória remete a 1967, na Vila Belmiro, mais precisamente no vestiário. O então técnico Antoninho deu a camisa 8 para Clodoaldo e a 5 para Zito, o grande líder do Santos por muitos e muitos anos. Consta que até Pelé tinha medo de José Eli de Miranda, imortalizado pelo pseudônimo de Zito. Tem até estátua de frente para a Vila Belmiro. Depois de receber a camisa do então treinador, Zito atravessou o vestiário e falou diretamente com Clodoaldo: “A partir de hoje a 5 é sua, eu vou jogar com a 8”. A emoção foi absurda, afinal, Clodoaldo tinha Zito como grande ídolo, a referência no futebol. Na prática, o eterno capitão iniciava a própria sucessão no Santos e na seleção brasileira. Ambos ainda jogaram juntos por um tempo, compondo um dos melhores meios-campos da história do clube.


Na prática, Clodoaldo “herdou” até o setor em campo, atuando como o verdadeiro volante. Zito, humildemente, foi para a “meia”, com a camisa número 8. Clodô tem agora 74 anos, natural de Itabaiana, Sergipe. Surgiu na chamada várzea de Santos, ao lado de Negreiros, outro grande jogador da história do clube. Clodoaldo Tavares Santana, ou simplesmente Clodô, ou Corró (esse apelido não gosta muito), é um dos ídolos eternos do Santos. É praticamente uma unanimidade, contagiando a todos com sua simpatia e sorriso fácil. Colabora com o Santos diariamente e sempre que pode integra a delegação nas viagens pelo Interior de São Paulo e pelo Brasil. É um conselheiro permanente, do presidente ao massagista ou roupeiro.


Trava intimamente uma luta contra viajar de avião, tem um “certo receio” em voar, porém, enfrenta com a mesma coragem que exibia em campo. Recentemente, foi intimado a viajar com o time sub-20 para o Catar, mas, com habilidade, escalou o velho amigo Edu, outro que vive o dia a dia da Vila Belmiro. Afinal, sem escalas, seriam 14 horas de voo. Nas viagens de ônibus no Campeonato Paulista, quase sempre está ao lado do técnico Fábio Carille, a quem admira muito. As conversas são longas, na maior parte do tempo sobre futebol. Numa grande troca de experiências que tem o clube como objetivo final.


Clodoaldo será homenageado hoje no intervalo da partida contra a Portuguesa, pelas quartas de final do Campeonato Paulista. Pelo Santos, foram 512 jogos e 14 gols, entre os anos de 1966 e 1980. É o sétimo jogador que mais vezes defendeu o clube. Na seleção brasileira, foram 55 partidas. Muitos não o viram jogar, afinal abandonou o futebol há quase 50 anos. Sua popularidade, porém, mesmo entre os jovens, é incrível.


Recentemente, no MorumBis, ao final da partida contra o São Bernardo, pelo atual Campeonato Paulista, quase não conseguiu chegar ao vestiário, como sempre faz após as partidas. A cada passo, uma parada para foto ou para um autógrafo. Num determinado momento, se viu envolvido por uma pequena multidão, todos ávidos em registrar o momento nos recursos da telefonia celular. Só conseguiu chegar ao elevador que o levaria até o vestiário com auxílio de um segurança e de um velho amigo. Atendeu a todos com um sorriso e muita paciência, sem esconder também a alegria pelo reconhecimento.


Muitas são as lembranças pelos gramados do mundo e dos muitos amigos, como Zito e o eterno Rei Pelé. Pelo Santos, garantiu que uma de suas maiores conquistas foi o tricampeonato paulista em 1967, 1968 e 1969. A Recopa Sul-Americana, de 1968, em um dos jogos contra o Peñarol, no Maracanã, é outro momento guardado com muito carinho. Foi o autor do gol da vitória.


Pela seleção brasileira, foram várias alegrias e momentos que até hoje estão na história do futebol brasileiro. O primeiro foi contra a seleção do Uruguai, na Copa de 1970, com o Brasil perdendo por 1 a 0. Clodoaldo fez o gol de empate, numa jogada que começou com Everaldo e contou com um passe genial de Tostão. “Esse gol foi histórico, recolocou nosso time no jogo e vencemos por 3 a 1”.


Na final, contra a Itália, Clodoaldo também fez história, vivendo momentos extremos. Ele relembrou, brincando, que recebeu (passe de risco) uma “jaca, uma melancia” do zagueiro Brito, perdeu a bola e o lance acabou com o empate da Itália em 1 a 1. Mas, depois, veio a glória final, quando o Brasil já vencia por 3 a 1. Num lance, driblou quatro italianos e humilhou os adversários. Sorrindo, definiu: “Aquele momento foi um verdadeiro balé, entrou para a história”.


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