Uma boa lição

É importante apoiar a filosofia de Diniz, mesmo com revés na final do Mundial de Clubes

Por: Marcio Calves  -  24/12/23  -  06:01
Julián Álvarez, do Manchester City, comemora quarto gol da equipe na partida contra o Fluminense.
Julián Álvarez, do Manchester City, comemora quarto gol da equipe na partida contra o Fluminense.   Foto: Manu Fernandez/AP/Estadão Conteúdo

O gol de Julián Álvarez, aos 40 segundos de jogo, foi decisivo na final do Mundial de Clubes. Assim como o segundo tento do Manchester City, creditado a Nino, contra, após chute do atacante Foden. Entre um e outro, o Fluminense apresentou cerca de 15 minutos de seu conhecido futebol de toques em curto espaço, arrancando aplausos dos torcedores e elogios do técnico do time inglês, Pep Guardiola. Mas, independentemente dos dois gols, dificilmente o Flu conseguiria vencer o City, um dos três maiores clubes do mundo. A conquista da tríplice coroa na última temporada - Copa da Inglaterra, Campeonato Inglês e a tão sonhada Liga dos Campeões da Europa - e o título obtido na última sexta-feira demonstraram que a equipe inglesa é diferenciada, num nível igual ou superior ao Real Madrid.


Na final contra o time carioca, o City fez quatro gols e poderia ter anotado outros mais, a exemplo da derrota do Santos para o Barcelona, também por 4 a 0, em 2011. Paulo Henrique Ganso viveu os dois momentos, com seu futebol de craque que mereceu até o reconhecimento de Guardiola. Com isenção, era difícil acreditar numa vitória do Fluminense, principalmente pela diferença técnica e física. Entre os dois clubes, há ainda um grande abismo financeiro, influenciando diretamente o rendimento em campo. Importante lembrar que o Manchester City jogou sem Haaland e De Bruyne.


Mais do que a dimensão das duas equipes, a derrota comprovou novamente a grande distância entre o futebol europeu e o sul-americano. Guardiola apresentou um ângulo bem real, lembrando que os principais jogadores do Brasil há muito estão na Europa. Fato incontestável, cujo exemplo mais recente é o jovem Endrick, do Palmeiras, contratado pelo Real Madrid por quase meio bilhão de reais com apenas 17 anos. Só continua por aqui por não ter completado a maioridade legal. Os que retornam ao Brasil ou estão na reta final de carreira ou fracassaram na Europa, como Gabigol, Cebolinha e muitos outros.


Taticamente, mesmo sabendo dos riscos naturais, Fernando Diniz foi coerente na decisão do Mundial, mantendo sua filosofia diferenciada de jogo. Pelo poder do adversário, houve quem defendesse uma mudança radical, porém, o treinador ignorou. Dessa forma, foi um bom coadjuvante, procurando manter a posse de bola desde a saída da defesa. Essa postura deu ao jogo momentos incríveis, num bonito confronto entre a pressão alta dos ingleses e o toque refinado do time carioca. Mas, infelizmente, o estilo do Fluminense não evoluiu ofensivamente, limitando a possibilidade de surpreender os ingleses. Talvez o único equívoco de Diniz tenha sido começar o jogo com John Kennedy no banco.


O jovem atacante, cuja qualidade técnica é incontestável, entrou apenas no segundo tempo. Pouco fez, assim como Cano. A fraca atuação do atacante argentino, artilheiro isolado da temporada brasileira, foi outro indicativo claro da diferença entre os dois times e mostrou que ser goleador no Brasil não tem um significado mundial. Porém, ao contrário do que muitos críticos imaginam, apesar da goleada, Diniz não sai enfraquecido como treinador. Em entrevista após o jogo, considerou amargo o resultado, mas se mostrou feliz pelo fato de o time ter demonstrado personalidade e coragem em campo. Corretamente, elogiou seus jogadores e enalteceu o grupo, destacando os 15 minutos em que o Fluminense rigorosamente envolveu o Manchester City com seu futebol de toques, independentemente do setor do campo. No mínimo, serve como consolo.


No Brasil, é importante continuar apoiando a filosofia de Fernando Diniz. Na decisão, ficou clara a semelhança tática entre os dois times, sugerindo que esse é o caminho para mudar a cara do futebol brasileiro. É claro que o esquema do Manchester City passa pela qualidade de seus jogadores e pelo comprometimento com um futebol solidário. Os quatro gols tiveram na essência o nível dos atletas, a visão de jogo e a busca pela vitória. Não importa a autor, o que prevalece é o coletivo. A goleada sofrida pelo Fluminense tem que ser interpretada também como uma dura lição para o futebol brasileiro. O último clube fora do Velho Continente a conquistar o Mundial foi o Corinthians, em 2012. Depois, foram cinco títulos do Real Madrid, dois do Bayern de Munique, um do Liverpool, um do Chelsea, um do Barcelona e um do City. Fatos que confirmam a inferioridade do futebol brasileiro.


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