Sinais de alerta

Até hoje, felizmente, o Brasil jamais ficou de fora de uma Copa, mas a ordem mundial mudou muito

Por: Marcio Calves  -  18/02/24  -  07:20
Seleção brasileira não ficou entre os dois primeiros classificados do Pré-Olímpico e está fora das Olimpíadas de Paris, em junho
Seleção brasileira não ficou entre os dois primeiros classificados do Pré-Olímpico e está fora das Olimpíadas de Paris, em junho   Foto: Joilson Marconne/CBF

No ano passado, a derrota da seleção brasileira foi no Mundial sub-20, disputado na Argentina. O Brasil perdeu para Israel, por 3 a 2, nas quartas de final, teoricamente para um adversário fácil, sem grande tradição no futebol mundial. E a equipe israelense ainda perdeu duas penalidades no texto extra. Para muitos, uma “grande surpresa”, ou uma “zebra”, como se rotula tradicionalmente uma derrota para um adversário considerado fácil.


Mais recentemente, uma grande decepção, em Caracas: a seleção brasileira não ficou entre os dois primeiros classificados do Pré-Olímpico e está fora das Olimpíadas de Paris, em junho. O pior: na fase de classificação, perdeu para a Venezuela, por 3 a 1, e no quadrangular final sofreu mais duas derrotas, uma para o Paraguai e outra para a Argentina, ambas por 1 a 0. Dos três jogos da fase decisiva, venceu apenas um, contra a Venezuela, por 2 a 1. Novamente, porém, jogou muito mal e teve sorte, pois o time venezuelano teve um gol anulado quando a partida estava 1 a 1, causando muitos protestos. Com certeza, não foi por falta de qualidade técnica, pois o time contou com jogadores como Endrick e John Kennedy.


Na seleção principal, o quadro não é diferente: são três derrotas consecutivas e a atual 6ª colocação nas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026, com 7 pontos, bem perto da zona de exclusão para a conquista de uma vaga ao próximo Mundial, que ocorrerá nos Estados Unidos, no México e no Canadá. A liderança é da Argentina, com 15 pontos. É claro que as Eliminatórias estão apenas começando, mas não é possível ignorar tantos sinais de alerta. Até hoje, felizmente, o Brasil jamais ficou de fora de uma Copa, mas a ordem mundial mudou muito. Como se diz comumente, “não há mais bobo” no futebol mundial.


Para agravar ainda mais o quadro, o comando da seleção brasileira foi radicalmente alterado, com a surpreendente demissão de Fernando Diniz e o anúncio de Dorival Júnior como treinador. O sonho de Ednaldo Rodrigues, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), era Carlo Ancelotti, porém, efetivamente tudo não passou de um grande devaneio e o técnico renovou seu contrato com o Real Madrid até 2026.


Além de Dorival Júnior, a CBF anunciou oficialmente Rodrigo Caetano como diretor de seleções e o ex-zagueiro Juan, com longo histórico vitorioso no Flamengo e no próprio time nacional, como gerente técnico. Ambos, sem dúvida, são experientes, têm credibilidade e podem encaminhar o time brasileiro ao rumo certo. Em tese, trata-se de um trio experiente, sério e conhecedor profundo das mazelas que envolvem o futebol brasileiro. Esse grupo só precisa ser blindado de interferências políticas e de instabilidade gerencial.


Pelas Eliminatórias, o Brasil só volta a jogar em setembro, mas haverá um grande teste, a Copa América, que por coincidência será disputada nos Estados Unidos, entre junho e julho. Serão 16 seleções, sendo dez da América do Sul e seis das américas Central e do Norte. A última edição do torneio, em mais um alerta importante, ocorreu em 2021, no Brasil, e a seleção brasileira acabou derrotada pela Argentina por 1 a 0, em pleno Maracanã.


Com certeza, a edição deste ano será um grande teste para o Brasil e sinalizará o rumo das Eliminatórias. Está claro que o problema do Brasil é fora do campo, principalmente em termos de organização. Numa rápida reflexão, fica nítido que nosso país ainda reúne vários dos melhores jogadores do mundo. Na Espanha, dentre outros, Vinicius Júnior e Rodrigo, ambos do Real Madrid, vivem uma fase espetacular. Na Inglaterra, muitos outros se destacam a cada rodada, em uma jornada iniciada décadas atrás pelo centroavante Mirandinha, o primeiro a romper a barreira do idioma, da cultura e do “futebol diferente”.


Por exemplo, dois dos cinco melhores goleiros do mundo jogam na Inglaterra, Alisson e Ederson. Gabriel Martinelli e Paquetá são outros destaques, assim como Gabriel Jesus e Matheus Cunha, atacante do Wolverhampton. Cunha é o brasileiro com o maior número de participações em gols na atual liga inglesa. Não é possível que, com tantos jogadores de alta qualidade, o Brasil não consiga montar uma seleção que evite novas decepções. Contudo, inegavelmente, o futebol mudou e evoluiu, cabendo ao Brasil se atualizar, se organizar e dar tempo e tranquilidade para que um trabalho sério seja desenvolvido.


P.S.: no tênis mundial, um grande fato ocorreu neste sábado (17). Luisa Stefani conquistou ao lado da holandesa Demi Schuurs o título de campeã do WTA 1000 de Doha, no Catar. Com a vitória, a brasileira deve aparecer amanhã como a 12ª colocada no ranking mundial de duplas. Luisa parece ter encontrada a parceira ideal, formando uma dupla moderna, com muito jogo de rede, como exige a modalidade. No feminino, é a grande esperança do Brasil para sonhar com a posição de número 1 do mundo e com a conquista de uma medalha de ouro em Paris.


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