Primeiro plano

Primeira convocação do novo técnico da seleção brasileira, Dorival Júnior, naturalmente provocou algumas contestações

Por: Marcio Calves  -  03/03/24  -  07:39
  Foto: Reprodução/ Redes Sociais

Unanimidade é impossível. Aliás, segundo Nelson Rodrigues, “toda unanimidade é burra”. Nesse contexto, a primeira convocação do novo técnico da seleção brasileira, Dorival Júnior, naturalmente provocou algumas contestações. Porém, no geral, foi bem recebida. A razão maior foi o sinal claramente indicado de que ele pretende realizar uma grande renovação. Não se trata de uma ruptura com o passado perdedor, mas sim um processo inevitável, que há muito deveria ter sido considerado. Por exemplo, Dorival manteve jogadores como Ederson (Manchester City), Danilo (Juventus), Casemiro (Manchester United) e Marquinhos (PSG), que podem ser considerados “veteranos”, independentemente da idade.


No mais, a grande maioria é de jovens que fazem muito sucesso em seus clubes. A exceção é apenas Rafael, goleiro do são Paulo, que tem 34 anos. Mas, Dorival trabalhou recentemente com ele no São Paulo e conhece bem seu potencial. E mais: se trata de uma posição em que a idade não tem grande influência. Dos 26 chamados, 11 jogam na Inglaterra, sem dúvida onde hoje se pratica o melhor futebol do mundo.


A rigor, a única surpresa foi Andreas Pereira (Fulham), que jogou muito bem pelo Flamengo. Infelizmente, ficou marcado pela falha que cometeu na final da Copa Libertadores de 2021, entre o clube carioca e o Palmeiras. Por isso, acabou não sendo contratado em definitivo. Andreas, porém, sempre demonstrou qualidade técnica diferenciada, tanto que se recuperou na Inglaterra. Executa como poucos o trabalho de armação e ligação entre o meio e o ataque, além de chutar de fora da área. No Brasil, poucos têm essa característica.


Dorival também reabilitou alguns jogadores, como Raphinha (Barcelona) e Lucas Paquetá (West Ham). Ambos ficaram de fora das últimas convocações em razão de problemas extracampo, aparentemente superados. Os dois vivem ótimo momento em seus clubes, justificando a presença. Compõem, apesar da experiência internacional, a chamada nova geração, pela idade também. Na defesa, o treinador também fez justiça técnica convocando jogadores como Yan Couto, Wendell e Ayrton Lucas, esse último uma das grandes revelações do futebol brasileiro na posição. A lateral-esquerda tem sido uma preocupação, pois vários foram testados e nenhum deles mostrou credenciais para ser titular. Ainda no setor defensivo, merecidamente, foram chamados Beraldo, Murilo e Gabriel Magalhães, também representando renovação em termos de faixa etária.


No meio, a filosofia se manteve, com dois brasileiros em grande fase: André (Fluminense) e Pablo Maia (São Paulo). Ainda que não estejam consolidados como jogadores acima da grande média, merecem ser observados. No ataque, a grande surpresa foi Savinho (Girona), destaque do time que sensação de La Liga, assustando até o gigante Real Madrid. Ainda no último final de semana, o jogador foi o destaque da rodada do futebol espanhol. Sua convocação demonstra que Dorival está atento ao futebol internacional, como obviamente tem que ser.


Ainda no setor ofensivo, o técnico acertou ao chamar o jovem Endrick (Palmeiras), talvez a maior revelação do futebol brasileiro. Tanto é que há muito foi negociado para o Real Madrid. Por várias vezes, equivocadamente, a juventude foi um fator impeditivo para atuar pela seleção brasileira principal. Neymar e Ganso são bons exemplos. Vale lembrar que Edu, um dos grandes jogadores da história do Santos, foi convocado com apenas 16 anos. No mais, ainda no ataque, Dorival fez o óbvio, convocando os craques Vinicius Júnior, Rodrygo e Gabriel Martinelli.


A expectativa é de que o Brasil finalmente inicie numa nova fase, se recuperando nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026. A equipe nacional é apenas a sexta colocada, numa campanha pífia e muito aquém da história do futebol brasileiro.


Em seus últimos trabalhos, no Flamengo e no São Paulo, Dorival demonstrou liderança natural, conseguindo se impor com tranquilidade. Mesmo no clube carioca, onde imperavam as vaidades e o egocentrismo, saiu-se muito bem. Na seleção, seu maior desafio será incutir no grupo o espírito coletivo, com a seleção em primeiro plano.


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