Política de varejo

Vila Belmiro não pode se perder no tempo e ignorar a nova realidade

Por: Marcio Calves  -  08/06/22  -  12:39
Vila Belmiro não tem representado ganhos financeiros significativos ao Santos
Vila Belmiro não tem representado ganhos financeiros significativos ao Santos   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Até pelo atual nível técnico do time, a Vila Belmiro é um aliado muito importante para o Santos. Por sua história e configuração física, é um fator de pressão para os adversários e os últimos resultados demonstram claramente. São seis vitórias e um empate, contribuindo muito para as campanhas nas três competições em disputa. O outro lado também é verdadeiro: fora de casa, a equipe perde muito de sua força, claramente sente falta do ambiente e do apoio da torcida. Na prática, se intimida, perde muito de sua personalidade, as fracas apresentações comprovam claramente.


Na busca por receita e para prestigiar os torcedores da Capital e Grande São Paulo, o Santos jogou recentemente na Arena Barueri e apenas empatou com o Ceará. Apesar da polêmica em torno do gol anulado, mais uma vez o time não correspondeu e perdeu uma grande oportunidade de buscar até a liderança temporária do Campeonato Brasileiro.


Na Sul-Americana, por força do regulamento, que exige estádios com capacidade mínima para 20 mil torcedores, o Santos não poderá atuar na Vila Belmiro, que atualmente, sem nenhum conforto, pode receber no máximo 16 mil. Um grande prejuízo técnico, sem dúvida, além de financeiro. Tal competição, a cada fase tem proporcionado bons prêmios, ajudando o clube a manter uma pequena estabilidade administrativa.


Não é de hoje que se discute a modernização, com ampliação de capacidade, ou até a construção de um novo estádio. Ao longo dos anos, muitos foram os projetos apresentados, quase sempre seguidos de manifestações otimistas. Talvez só perca para a travessia Santos-Guarujá, que já teve várias maquetes, obras mirabolantes e hoje ainda se debate se será ponte ou túnel. Consta que a primeira iniciativa de ligaras duas margens é de 1950.


Esse ano, no Santos, mais uma proposta foi debatida, até mesmo envolvendo diretamente o Conselho Deliberativo, alimentando o sonho de o clube realmente iniciar uma nova fase. Uma comissão reunindo conselheiros e representantes da empresa foi formada logo na sequência, mas a impressão é de que já não está mais na chamada ordem do dia. A empresa, de sua parte, ficou encarregada de buscar novos investidores, na medida em que o projeto, por sua complexidade, alterou o orçamento inicialmente previsto. As chamadas arenas multiuso são hoje ‘cases’ em vários centros do mundo, viabilizando receitas que muito contribuem para a manutenção do clube.


No Brasil, o Palmeiras é o maior exemplo, tanto nos dias de jogos como de shows e outras promoções. A gestão compartilhada é uma realidade, sem que o futebol deixe de ser uma prioridade. Estádios modernos, além de viabilizar grandes públicos e expressivas arrecadações, atraem novos patrocinadores.


O Atlético-MG também está seguindo pelo mesmo caminho, apesar de a capital, Belo Horizonte, ter um complexo do porte do Mineirão. O futuro estádio já tem até o chamado naming rights (direitos de nome, numa tradução literal), uma nas novas formas de patrocínio. A prática de concessão de direitos de nome é comum entre grandes empresas, com grande retorno publicitário até para produtos isolados. As obras foram iniciadas em 2020 e a previsão é de que sejam concluídas em outubro desse ano, a um custo estimado de R$ 500 milhões.


O Barcelona, da Espanha, é outro exemplo a ser considerado. Apesar de contar com um grande estádio, com capacidade para 99 mil torcedores, a diretoria anunciou a realização de um projeto de modernização, que incluirá a arena multiuso onde o time de basquete manda seus jogos e até mesmo a área urbana que envolve o chamado Espaço Barça. Ainda na Espanha, o Atlético de Madrid também partiu para uma nova estrutura, comprovando que vale a pena investir.


A Vila Belmiro, é inegável, tem tradição e dezenas de lembranças históricas, porém, não pode se perder no tempo, ignorando a nova realidade. O estádio tem que ser também uma grande fonte de receita, como é hoje também a Neo Química Arena, do Corinthians. Cada jogo tem normalmente 40 mil torcedores, com rendas na casa dos milhões. Por sua limitação física, a Vila Belmiro é muito mais fonte de prejuízo.


Isso sem contar especificamente a parte técnica. Por várias vezes, a exemplo do que ocorrerá agora na Copa Sul-Americana, o Santos foi obrigado a jogar em São Paulo em momentos decisivos, principalmente na Libertadores. Ainda que o público seja maior, como até ocorreu na Arena Barueri, no jogo contra o Ceará, com certeza o ambiente é diferente. Há muito que o futebol se transformou em um grande negócio. É preciso visão e arrojo. A política de varejo é curta e se perde no tempo.


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