Em Tempo: Vida que segue

Um dos principais assuntos da semana, sem dúvida, foi o registro dos 30 anos da morte de Ayrton Senna da Silva

Por: Marcio Calves  -  05/05/24  -  07:30
  Foto: Divulgação/Planet F1

Um dos principais assuntos da semana, sem dúvida, foi o registro dos 30 anos da morte de Ayrton Senna da Silva, ou melhor: Ayrton Senna do Brasil. Se não foi uma unanimidade, ficou bem perto desse status, talvez para comprovar a tese de Nelson Rodrigues, que disse certa vez: “Toda a unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar”. Senna, com certeza, tinha alguns desafetos, entre eles o também tricampeão de Fórmula 1 Nelson Piquet, com a sua verborragia destemperada.


Desavenças pontuais à parte, Senna era um ídolo nacional e mundial. Até hoje sua morte prematura é sentida por qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade. A passagem dos 30 anos de sua morte, no circuito de Ímola, na Itália, rigorosamente movimentou a mídia em geral e o automobilismo.


Os programas de rádio e televisão, além das matérias em jornais e revistas, se sucederam, com lembranças e entrevistas de namoradas famosas como Xuxa ou Adriane Galisteu. O resultado foram histórias mil e algumas revelações da intimidade do grande ídolo brasileiro. Obviamente, o acidente fatal foi um dos temas centrais, na famosa curva Tamburello, praticamente paralisando o mundo esportivo.


De tudo que foi dito, comentado e revelado pelos mais variados personagens, um ponto chama a atenção, que poderia ter mudado o rumo da história. Segundo o repórter Roberto Cabrini, na época assessor de imprensa do piloto brasileiro, os dois se encontraram e Senna falou:


“Não posso te dar entrevista, estou muito impactado, mas preciso contar para você: o cara morreu na pista, não pode divulgar, porque se isso for comprovado, não tem corrida. A lei na Itália prevê que um evento com morte tem que ser suspenso e a corrida, portanto, não aconteceria nesse caso. Mas quem é que para a máquina de fazer dinheiro da Fórmula-1?”.


O impacto a que Senna se referiu foi o acidente fatal com o piloto austríaco Roland Ratzenberger, no treino livre de sábado, no autódromo de Bolonha, na Itália. Na véspera, na sexta-feira, o brasileiro Rubens Barrichello sofreu um dos mais graves acidentes da Fórmula 1, na chamada Variante Baixa. O brasileiro admitiu depois o erro, ao entrar muito rápido naquele trecho, com o carro decolando e depois capotando, numa imagem espetacular. Rubinho milagrosamente só sofreu uma pequena luxação na costela e fratura do nariz.


Os dois acidentes eram o sinal claro de um Grande Prêmio fatal, mas impossível de prever o resultado final. Senna, ao longo do final de semana, emitiu sinais claros de que não queria correr, preocupado também com o desequilíbrio de seu carro. Em nenhum momento, contudo, externou seu desejo de abandonar a corrida, por tudo que envolvia a Fórmula 1.


A revelação de Roberto Cabrini, na essência, indica que a morte de Ayrton Senna poderia ter sido evitada, com o cancelamento da corrida. O ‘sistema’, porém, anunciou que o piloto austríaco morreu a caminho do hospital, descaracterizando a ocorrência na pista. Dessa forma, a corrida foi mantida e o piloto brasileiro morreu na forte batida na curva Tamburello.


As imagens do choque e posteriormente de Senna mexendo a cabeça (na prática, segundo os médicos, um espasmo muscular), ainda no cockpit, até hoje estão no arquivo emocional dos brasileiros e de muitos fãs pelo mundo. Cabrini sintetizou bem aquele Grande Prêmio: “Nunca houve uma névoa tão grande de negatividade quanto nessa corrida”.


Infelizmente, não dá para alterar a história, mas é importante que o mundo saiba todas as circunstâncias que envolveram a morte de Ayrton Senna do Brasil.


Senna foi um dos fenômenos que o Brasil produziu espontaneamente ao longo de sua história. Sua dimensão, pelo menos no coração dos brasileiros, se assemelha à de Pelé. No planeta, é óbvio, o Rei do Futebol é único, mas Senna é inesquecível. Sua morte dói mais ao saber que poderia ter sido evitada.


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