Em Tempo: Sofrimento eterno

A agonia em torno do desfecho finalmente terminou

Por: Marcio Calves  -  24/03/24  -  07:02
  Foto: Fábio Pires/TV Tribuna

A agonia em torno do desfecho finalmente terminou. Em tese, para os dois lados. Cada um vivendo a sua expectativa pessoal. A jovem albanesa ‘torcendo’ para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) validar a decisão da justiça italiana, que condenou o ex-jogador Robinho a uma pena de nove anos de prisão por estupro, em última instância.


O ex-atacante, por sua vez, torcendo para que o tribunal brasileiro não reconhecesse a sentença. Robinho perdeu feio, de goleada, por 9 a 2. É óbvio que a decisão, de validar a sentença, obedeceu a tratado internacional, tudo rigorosamente dentro da lei, mas na prática o jogador deu sua contribuição, com seu comportamento público.


Robinho e muitos não acreditavam que o STJ reconheceria a sentença italiana. Em vez de um recolhimento pleno, optou por viver a vida como melhor lhe conviesse, imaginando que nada o afetaria.


Em muitos momentos, afrontou a tudo e a todos, com seu futevôlei na praia e outras atividades públicas de pura diversão. Deu sempre a entender que ‘não estava nem aí’ com o andamento do processo. A pressão da sociedade, porém, cresceu gradativamente, na medida em que se aproximava a data do julgamento.


À exceção de Robinho, familiares e amigos, a decisão do STJ foi amplamente comemorada, com grande destaque no Brasil e nos principais jornais do mundo. Na tentativa de um ‘drible’ final, o ex-jogador, por intermédio de seu advogado, um dos melhores do País, ainda tentou um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF).


Como se diz popularmente, na distribuição interna, que sorteia o ministro relator, ‘deu azar’. O processo caiu para Luiz Fux, ministro considerado rigoroso em suas decisões. Sem hesitar, negou o pedido da liminar ao HC, que poderia adiar a expedição do mandado de prisão.


A decisão do STJ também quebrou o silêncio de personalidades do futebol, como os técnico Tite e Dorival Júnior, além da própria CBF. Os dois treinadores, dentro de suas limitações, repudiaram o crime cometido por Robinho, fazendo questão, contudo, de separar o jogador do homem, como se isso fosse possível.


Impossível, é inegável, apagar o que Robinho fez pelos campos do mundo, porém seu crime contamina e suja a história do atleta. Essa nova vida do jogador vai ser muito difícil, como manda a lei, na penitenciária de Tremembé, no Interior de São Paulo.


Tal unidade é considerada ‘o presídio dos famosos’ por abrigar há tempos presos que cometeram crimes de grande repercussão. Nem por isso a vida será fácil, pelo contrário, o dia a dia será muito duro, bem distante da realidade anterior.


O depoimento de um jornalista que cumpriu pena em Tremembé, por crime de opinião, deu exata dimensão do funcionamento do sistema prisional por lá. Do isolamento inicial, por segurança, com a água fria da transferência para uma cela com pelo menos mais cinco detentos, para qualquer melhoria, ainda levará bom tempo. Assim como terá que aguardar a oportunidade para o tradicional banho de sol e até participar de uma recreação esportiva com seus colegas.


A vida será dura, merecidamente. Com base nos artigos 126 e 130 da Lei de Execução Penal (LEP), se tiver bom comportamento e trabalhar internamente, para fazer jus à remição de pena, poderá até seguir para o regime semiaberto em até quatro anos. Como a tradicional ‘saidinha’ parece finalmente com os dias contados, talvez não tenha nenhuma chance de sair antes.


Simultaneamente, em Barcelona, depois de condenado a uma pena de quatro anos e meio de prisão, também por estupro, a Justiça Espanhola arbitrou uma fiança em 1 milhão de euros para que Daniel Alves aguarde em liberdade a apreciação de um recurso contra a sentença. Apesar do excessivo valor, a decisão causou revolta em Barcelona e no Brasil, por beneficiar um réu que efetivamente cometeu crime de estupro. O ex- jogador está preso há mais de um ano, tempo que será abatido da condenação.


Daniel Alves e Robinho colocaram o Brasil novamente no cenário mundial, de forma imensamente negativa. Ainda que sejam pais, maridos e tenham familiares, não são dignos de pena. Não merecem esse sentimento.


Numa conversa recente, uma autoridade foi incisiva: “Eu tenho pena da vítima”. Ou das vítimas, que sofrerão eternamente.


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