Em Tempo: Que assim seja!

Ainda num tom relativamente reservado, o futebol brasileiro parece próximo de uma grande revolução

Por: Marcio Calves  -  31/12/23  -  07:09
  Foto: FreePik

Ainda num tom relativamente reservado, o futebol brasileiro parece próximo de uma grande revolução. No epicentro está a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), sob intervenção do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.


Em síntese, a Justiça anulou a assembleia que elegeu Ednaldo Rodrigues, em março de 2022, tirou-o do cargo, nomeou um interventor e determinou a realização de uma nova eleição.


Pelo menos inicialmente, por não ter sido considerado inelegível, imaginou-se que o dirigente se candidataria e até venceria o novo pleito, por ter em mãos o poder político da CBF. De repente, porém, numa entrevista à revista Veja, anunciou que não postulará o cargo, abrindo um vácuo importante no comando do futebol brasileiro.


Na sequência, causando grande turbulência na instituição, o Real Madrid anunciou a renovação do contrato de Carlo Ancelotti até 2026, anulando qualquer possibilidade de ele assumir a seleção brasileira no próximo ano. O treinador era o preferido de Ednaldo Rodrigues, que muitas vezes, nos bastidores, garantiu o acordo verbal com o técnico.


Pura falácia. Afinal, se houvesse um compromisso tácito, além do interesse em dirigir o time brasileiro, Ancelotti não teria iniciado conversações para renovar seu contrato com o Real Madrid.


Nos últimos dias, um novo fato colocou o futebol brasileiro em xeque, quase um xeque-mate, num posicionamento raro no meio político que envolve a CBF. Tendo como signatários oito federações estaduais e 30 clubes das séries A e B, foi lançado um manifesto sob o título Unidos por um Novo Futebol. Numa avaliação preliminar, o conteúdo é um claro rompimento com o modelo atual e chama a atenção o estilo forte e agressivo.


Já no início, os signatários do manifesto falam que “há pelo menos uma década o futebol brasileiro tem sangrado”. Na sequência, registram uma crítica contundente, e altamente procedente, aos últimos dirigentes da CBF, lembrando que, “afastados ou banidos”, nenhum dos últimos cinco presidentes conseguiu concluir seus respectivos mandatos.


Pura verdade. Nesse bolo estão Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero, todos afastados e banidos do futebol sob acusações de corrupção, e mais recentemente Rogério Caboclo, este por denúncia de assédio sexual contra uma funcionária da instituição.


No manifesto, os signatários destacam também que o futebol sofre ingerências externas que “tumultuam o já complexo ambiente do esporte, a pretexto de interesses individuais duvidosos”. Mais uma grande verdade.


Os reflexos de tantas gestões desastrosas, infelizmente, atingiram a seleção brasileira, que decepcionou nos últimos mundiais e atualmente faz uma péssima campanha nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026.


E mais: tem um técnico interino, Fernando Diniz, que agora, diante da decisão de Carlo Ancelotti, pode se tornar efetivo, obviamente dependendo do futuro presidente da CBF. Para piorar, Fifa e Conmebol acenam com sanções contra a CBF, por não admitirem ingerências da Justiça comum na gestão da entidade. Na prática, apesar do interesse nacional, trata-se de uma instituição privada.


Por tudo isso, o manifesto indica um movimento único e inédito de claro rompimento com o ‘establishment’, que na Sociologia e na Ciência Política significa o grupo social dominante ou a elite que controla uma política, uma organização ou uma instituição. A importância do manifesto está também na representatividade e poder dos signatários, entre eles clubes como Atlético-MG, Athletico-PR, Cruzeiro, Fluminense, Guarani, São Paulo, Santos, Palmeiras, Corinthians, Internacional e Sport, entre muitos outros.


Por fim, para implantação de um projeto moderno e ambicioso, além de uma mudança efetiva na CBF, manifestam apoio público à candidatura de Reinando Carneiro Bastos, atual presidente da Federação Paulista de futebol, que realiza um bom trabalho em São Paulo.


Independentemente do nome do candidato, finalmente os grandes clubes e federações decidiram se insurgir contra um modelo que só tem causado prejuízos ao futebol brasileiro. A persistir essa união, com certeza se iniciará uma nova fase no futebol brasileiro.


Vale o velho jargão: uma luz no fim do túnel. Essa expressão, tão comum nos últimos anos, na prática quer dizer que há uma saída para uma situação difícil, que parece irreversível.


Que assim seja!


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