Em Tempo: Perdeu, Mané

Ficou até barato, como se diz popularmente

Por: Marcio Calves  -  25/02/24  -  06:47
  Foto: Reprodução/Twitter

Ficou até barato, como se diz popularmente. O Ministério Público de Barcelona pediu nove anos de prisão e a defesa da jovem estuprada foi mais além, lutando pela pena máxima, de 12 anos. No final, o brasileiro Daniel Alves recebeu uma sentença de quatro anos e seis meses de reclusão.


Pelo que fez e pelas mentiras ao longo do processo, foi mesmo muito pouco. Foram cinco versões diferentes sobre o episódio na boate, beirando o cinismo, a desfaçatez. A última, claramente estratégica, era de que estava bêbado e que por isso não tinha consciência de seus atos.


Como está há cerca de 13 meses preso, sua pena na prática será de três anos e meio. Como se esperava, a notícia teve repercussão mundial, até nos Estados Unidos, onde o futebol ainda luta para se consolidar. Se fosse no Brasil, o jogador nem iria para regime fechado, iria direto para o semiaberto ou até mesmo para o aberto.


Na Espanha, porém, é diferente, o ex-lateral da seleção brasileira vai pagar rigorosamente pelo que fez. Aliás, a legislação espanhola passou por uma alteração recente, inserindo a condição de agressão sexual. Esse, na prática, foi o crime pelo qual Daniel foi condenado.


Segundo especialistas, ao contrário do que se imagina, a agressão sexual é um tipo mais grave do que o estupro, criado justamente para permitir uma punição mais forte. Um advogado brasileiro com forte ligação acadêmica com a Universidade de Salamanca, na Espanha, explicou ainda que o fato de Daniel Alves ter pago, a título de reparação moral, exatos 100 mil euros, aproximadamente R$ 800 mil, contribuiu muito para a aplicação da pena de quatro anos e seis meses.


Também diferentemente do Brasil, na Espanha não há ‘saidinha’ temporária por bom comportamento ou a chamada progressão de pena. As informações ainda são contraditórias, algumas opiniões garantem que o jogador poderá deixar a prisão em liberdade condicional, ou vigiada, em cerca de dois anos.


Se conseguir a liberdade, terá que seguir um rigoroso programa de conduta, envolvendo até a necessidade de pedir autorização para circular internamente ou deixar a Espanha. Com certeza, eventual solicitação para viajar para o Brasil deve ser indeferida, pois representaria o fim de qualquer restrição de sua vida pública.


Em termos de atletas brasileiros, Daniel Alves não é o primeiro a se envolver em casos de estupro ou agressão sexual. Antes dele, infelizmente, os atores foram Cuca e Robinho, ambos ainda no tempo de jogador. O atacante foi condenado a nove anos na Itália e se refugiou no Brasil, cuja Constituição Federal não prevê a extradição de brasileiros natos. Corre o risco, porém, de ainda ser preso, em seu próprio País, basta o Superior Tribunal de Justiça (STJ) aceitar o pedido da Justiça italiana para que a pena seja cumprida em uma unidade prisional brasileira.


Cuca também foi condenado, mas recentemente recorreu e teve a condenação anulada por um vício processual no início envolvendo a sua defesa. O treinador, contudo, vive um “exilio forçado”: clube nenhum parece disposto a contratá-lo e enfrentar uma onda de protestos, como ocorreu em sua passagem pelo Corinthians.


Mancini, ex-lateral do Atlético-MG, Roma e Milan, em novembro de 2011, foi outro brasileiro condenado por estupro, recebendo uma pena de quase três anos de prisão.


Pelo mundo, outros atletas também pagaram por casos de violência sexual, como o atleta galês Chad Evans, revelado pelo Manchester City, e Alexis Zárate, argentino, condenado a mais de seis anos de reclusão.


Daniel Alves, que perde apenas para Lionel Messi em termos de conquistas de títulos, é um jogador mundial, com passagens por alguns dos maiores clubes do planeta, como PSG e Barcelona. Sem contar suas muitas atuações pela seleção brasileira. Chama a atenção o silêncio de todos seus amigos de clubes e do time nacional, ninguém absolutamente ousa condenar publicamente sua atitude ou pelo menos comentar o assunto.


Segundo consta, apenas Neymar o ajudou, emprestando (ou doando) cerca de 150 mil euros para o lateral oferecer uma “indenização voluntária” e custear outras despesas decorrentes do processo – a quantia depositada para reparação moral foi considerada como atenuante. É óbvio que se trata de um assunto muito delicado, porém, impunha-se uma posição pública pelo menos das grandes lideranças do futebol brasileiro e até mundial. Não dá para admitir a ausência total de reação do meio.


A advogada do brasileiro, Inês Guardiola, anunciou que vai recorrer da sentença, em busca da absolvição. A defesa da vítima disse que ainda estuda a apresentação de um recurso, por considerar que a pena foi relativamente branda.


Independentemente da postura das partes, Daniel Alves continuará preso, cumprindo o restante da pena. Triste fim de uma carreira vitoriosa, de muito glamour, festas e badalações. Com certeza, ao sair da prisão retomará sua vida privilegiada, ganhou muito e ainda tem uma boa quantia a receber do São Paulo. Carregará, entretanto, por toda a vida o crime absurdo que cometeu.


Perdeu, mané.


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