Em Tempo: Oportunidade única

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) está novamente envolvida com a Justiça

Por: Marcio Calves  -  17/12/23  -  06:49
  Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Sem entrar no mérito, pelo menos preliminarmente, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) está novamente envolvida com a Justiça. E o pior: está claramente desafiando uma decisão do Poder Judiciário, que em duas instâncias decretou a intervenção na entidade, afastou o então presidente Ednaldo Rodrigues e determinou a realização de novas eleições no prazo de 30 dias.


A decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, confirmada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), envolveu também a nomeação de um interventor, José Perdiz, presidente do STJD, para responder pelo expediente diário e, principalmente, realizar a nova eleição. A sentença, de maneira simples, anulou a assembleia que elegeu Ednaldo Rodrigues, portanto, a única opção é um novo pleito para eleger o presidente.


Numa postura absurda, caracterizando até intromissão indevida em assuntos internos, a Fifa e a Conmebol, entidades que, respectivamente, comandam o futebol no mundo e na América do Sul, contrariando decisão judicial, não reconheceram publicamente a intervenção na entidade. E mais: condicionaram eventual nova eleição à autorização prévia das duas entidades, como se fossem o poder supremo no futebol brasileiro e no País. É óbvio que não são e que só lhes cabe acatar a decisão em absoluto silêncio.


É claro que a decisão judicial, independentemente de quem seja o futuro presidente, de imediato tem consequências no futebol brasileiro. Num primeiro momento, coloca novamente em dúvida a credibilidade da CBF como gestora do futebol nacional. Numa rápida volta a um passado relativamente recente, remete a alguns dirigentes que, ou foram presos, ou não podem deixar o Brasil.


Paralelamente, até de forma positiva, fortalece o projeto de criação de uma nova liga nacional, sonho de muitos grandes clubes brasileiros. Talvez seja o momento exato para os clubes se unirem e implantar um novo projeto para o futebol brasileiro, se libertando do jugo da CBF. Ou, pelo menos, garantindo um compartilhamento de decisões.


O poder do atual presidente, mesmo fora do cargo, não pode ser subestimado. Talvez possa até participar do pleito, já que a decisão judicial apenas anulou a assembleia, por vícios de realização. Caso, porém, não possa participar da eleição, fatalmente tentará fazer o sucessor, para garantir pelo menos condição de influenciar no futuro da entidade.


A eleição do novo presidente em breve poderá também mudar radicalmente o futuro da seleção brasileira, que estava sob comando direto de Ednaldo Rodrigues. Foi ele quem definiu Fernando Diniz como treinador temporário e definiu que o comandante na próxima Copa do Mundo será Carlo Ancelotti, atualmente no Real Madrid.


O ideal, pelo trabalho que realiza no Fluminense, é que Fernando Diniz seja mantido no cargo. Por enquanto, sua filosofia não foi assimilada pelos atletas brasileiros, tanto é que a campanha nas Eliminatórias é fraca, o Brasil é apenas o sexto colocado e vem de derrotas contra Colômbia, Argentina e Uruguai.


Apesar da evolução de algumas seleções do Cone Sul, é lícito acreditar que a seleção brasileira garantirá uma vaga para o Mundial. Muitos serão os jogos a realizar, com certeza o quadro atual será revertido.


Nesse contexto, é importante a permanência de Fernando Diniz, também por sua filosofia de trabalho. Trata-se de uma grande mudança do perfil tático do futebol brasileiro, que há anos é sinônimo de fracasso, pelo menos nas grandes competições internacionais. Poucos são os países que têm à disposição um grupo de qualidade técnica como o Brasil em praticamente todos os setores.


E esse nível não é recente, a cada ano o Brasil produz e exporta jogadores para a Europa e outros continentes. Assim, a questão não é qualidade, mas, sim, a forma como são utilizados. Isso comprova que é preciso mudar o conceito do futebol brasileiro.


Diniz já deixou de ser uma dúvida, as recentes campanhas nos campeonatos Carioca, Brasileiro e na Libertadores demonstraram competência e liderança.


Nesse contexto, amplia-se a importância de acelerar e definir o processo eleitoral na CBF. A união dos grandes clubes de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul pode mudar o futuro do futebol brasileiro. Com certeza, não são maioria entre os afiliados da CBF, o chamado colégio eleitoral, contudo, têm poder para liderar um movimento rumo a novos tempos, apagando definitivamente o passado e afastando aventureiros que têm apenas vaidades e interesses.


A oportunidade é única, não pode ser desperdiçada.


Tudo sobre:
Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter