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O técnico Carlo Ancelotti, do Real Madrid, fez semana passada uma defesa veemente de Vinicius Júnior

Por: Marcio Calves  -  10/03/24  -  07:08
  Foto: Reprodução/Twitter

O técnico Carlo Ancelotti, do Real Madrid, fez semana passada uma defesa veemente de Vinicius Júnior, que há tempos vem sofrendo injúrias raciais de toda sorte. O treinador, sem dúvida, prestou um grande serviço ao futebol espanhol, em particular, e ao mundo, assumindo uma postura de enfrentamento à discriminação racial.


A defesa de Ancelotti é tardia, mas extremamente válida. Por sua autoridade pessoal e profissional, com certeza sua manifestação terá forte eco, quem sabe sensibilizando a Fifa a assumir e propor uma solução para esse grave problema.


O técnico do Real Madrid foi além da discriminação racial, alertando que, na prática, o brasileiro também precisa de proteção dentro de campo. Ancelotti ponderou também, com muita procedência, que os árbitros tratam Vinicius Júnior de forma diferenciada durante as partidas, com um rigor que fere a imparcialidade.


Tem sido comum o craque sofrer advertências e até expulsões em lances quando deveria ocorrer exatamente o contrário, com enquadramento disciplinar dos adversários. Sem se limitar a exercício de retórica, deu um bom exemplo: “Na partida contra o Rayo Vallecano, Vini levou um golpe de caratê na cabeça e o adversário nem amarelo levou. Se ele dá um empurrão, como aconteceu contra o Leipzig, pedem até vermelho”, acrescentou.


Quem acompanhou os jogos, inegavelmente concordará com o treinador italiano. Na verdade, por sua habilidade e estilo de jogo, Vinicius Júnior incomoda os adversários e torcidas rivais. Do ponto de vista individual, é um dos poucos jogadores do mundo que têm o drible como prioridade.


Ancelotti ressaltou também que nunca viu um jogador tão perseguido como ele. “Vini recebe chutes, é vaiado, insultado... O que ele pode fazer? Responde com gols e assistências. Todo mundo deve mudar a atitude com o Vinicius. Nunca aconteceu com um jogador de grande talento passar por isso”.


No chamado ‘um contra um’, é quase impossível marcá-lo; evitar sua progressão em direção ao gol é quase impossível. O único recurso é a falta, quase sempre com violência, no sentido também de intimidá-lo. Infelizmente, por isso, a reação contundente de Carlo Ancelotti, pois a arbitragem releva ou até ignora, provocando a reação do craque brasileiro.


A questão também passa por aspectos culturais, de pura educação dentro de campo. Recentemente, numa partida pelo Campeonato Inglês, entre Manchester City e Manchester United, até o minuto 35, nenhuma falta foi registrada em campo, fato raríssimo no futebol, comprovando que o futebol inglês está muito acima do restante do planeta.


Além do nível educacional, o atleta que atua no futebol inglês tem plena consciência de que qualquer abuso em campo será prontamente punido, seja quem for. No campo, a arbitragem é fundamental em todos os momentos, para coibir a violência ou até mesmo o antijogo e o insulto racial. Em partidas recentes do Campeonato Paulista, a passividade para garantir o fluxo de jogo foi evidente, irritando desde os jogadores até os torcedores. A criação desse clima estimula reações intempestivas em todos os setores, contribuindo para todo e qualquer tipo de ação.


Vinicius Júnior é hoje, sem dúvida, um dos três maiores jogadores do mundo. É a sucessão natural de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, que há anos disputam a condição de número 1. Fora do campo, ao contrário de outras grandes estrelas, o brasileiro é reservado, vivendo uma vida sem badalações ou ostentações descabidas, que só provocam inveja e raiva.


Semana passada, grandes jornais da Europa levantaram a possibilidade de Vinicius Júnior trocar o Real Madrid pelo Paris Saint-Germain, também no contexto da mais do que provável chegada de Mbappé ao Real. Essa eventual saída do brasileiro seria péssima para o clube, para o futebol espanhol e para Vinicius Júnior. O correto é enfrentar o problema com vontade e rigor, principalmente em relação à discriminação racial.


Naturalmente, por sua condição de ídolo mundial, Vinicius deve ser transformado numa liderança contra o racismo. Precisa, porém, de apoio inconteste, desde a Fifa aos clubes e dirigentes comprometidos com o respeito à dignidade humana.


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