Em Tempo: A mesma cartilha

Muitas são as histórias de jogadores que se perderam em meio a uma carreira de sucesso

Por: Marcio Calves  -  21/04/24  -  06:47
  Foto: Unsplash

Muitas são as histórias de jogadores que se perderam em meio a uma carreira de sucesso. Na maioria das vezes, o fracasso veio pelo comportamento equivocado fora do campo e principalmente pela falta de estrutura intelectual para gerenciar a vida particular.


O caso mais recente é o do meia Luan, que um dia, como atleta do Grêmio, foi eleito ‘Rei da América’ por suas atuações na conquista da Libertadores pelo Tricolor gaúcho. Suas performances renderam até convocação para a seleção brasileira.


Em 2020, com status de estrela, foi vendido para o Corinthians, numa das maiores transações do futebol brasileiro. O fato de o Grêmio liberá-lo com relativa facilidade rendeu muitos comentários nos bastidores do futebol, indicando que o jogador tinha efetivamente perdido o foco na carreira.


Emerson Sheik, ídolo do Corinthians por muitos anos e hoje metido a comentarista de televisão, foi contundente ao se referir ao colega: “O Luan só quer saber de bagunça”. Aos poucos, o jogador passou a ser odiado pela torcida corintiana, que até o agrediu num flagrante em uma festa num motel da Capital. Execrado, foi emprestado ao Santos, prometendo empenho, dedicação e, principalmente, gols, para recuperar o prestígio adquirido no inicio da carreira. À época, Lisca, ‘o doido’, era o técnico santista, acreditando que conseguiria recuperar o atacante, até por semelhança e temperamento.


O tempo até o fracasso foi curto, nada rigorosamente acrescentou ao Santos, retornando ao Corinthians para usufruir de um salário milionário do contrato ainda em vigor. Novamente decepcionou e acabou no Grêmio, na expectativa de retomar o futebol nas mãos do ídolo e treinador Renato Gaúcho.


O técnico o recebeu como um verdadeiro pai, confiante de que poderia recuperá-lo como atleta e como homem. Renato nunca foi um modelo de comportamento fora do campo, pelo contrário, muitas vezes se envolveu em polêmicas. Porém, principalmente por corresponder como jogador, fazendo gols e liderando seu time, jamais perdeu a condição de ídolo. Renato Gaúcho fez de tudo para recuperar Luan, mas, diante da apatia do jogador, desistiu da missão.


Em janeiro, nova chance: o Vitória. Ele desembarcou no dia 15 desse mês em Salvador, e na entrevista de apresentação repetiu as promessas feitas no Santos e no Grêmio: “Eu quero fazer história aqui. Estou feliz pelo apoio de cada um que está aqui. Vamos para cima”, disse. Sua contratação envolveu até um dos grandes patrocinadores do clube, de modo a viabilizar o investimento em termos contratuais. Não faltou uma fala sensacionalista do presidente do Vitória, Fábio Mota, qualificando Luan como um dos maiores jogadores do País. E mais: disse que, antes de decidir pela contratação, teve uma conversa “olho no olho” e que sentiu grande disposição do jogador em retomar sua carreira e ajudar o Vitória no Campeonato Baiano e na disputa do Brasileirão. O contrato, contudo, envolveu produtividade em campo, com apenas uma pequena parte fixa.


Entre a chegada e o primeiro jogo foram 41 dias, a pretexto de recuperar inicialmente o condicionamento físico do jogador. A estreia ocorreu no dia 25 de fevereiro, num jogo pelo Campeonato Baiano. A atuação foi considerada discreta, sem nenhum brilho ou esperança de um grande futuro.


Na última quinta-feira, mais precisamente 95 dias após a chegada a Salvador, Vitória e Luan anunciaram uma rescisão amigável de contrato. No total, Luan atuou somente 188 minutos pelo Vitória, em três partidas pelo Campeonato Baiano e mais três pela Copa do Nordeste. Só começou como titular num jogo contra o Treze, num time considerado reserva em campo.


Salvo melhor juízo, como dizem os juristas, Luan realmente é um caso perdido. Teve grandes oportunidades de recuperação, sempre em grandes times, e desperdiçou todas. Aos 31 anos, o mais provável é que encerre a carreira ou ainda consiga iludir alguns dirigentes que acreditam em Papai Noel.


Luan não foi o primeiro e não será o último. A cada dia se tem notícia de jogadores ou ex-atletas envolvidos em confusão. Recentemente, Carlos Alberto, ex-jogador do Corinthians, foi flagrado danificando um carro de um condomínio, revoltado por ter sido denunciado em mais de 50 incidentes. Os vizinhos exigem o despejo sumário, por absoluta incapacidade de convivência.


Luan, infelizmente, está seguindo a mesma cartilha.


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