Bom exemplo

Torcedores do Chivas Guadalajara invadem hotel na Cidade do México

Por: Marcio Calves  -  09/06/22  -  09:59
Torcedores do Chivas Guadalajara tentam invadir hotel onde jogadores estavam concentrados
Torcedores do Chivas Guadalajara tentam invadir hotel onde jogadores estavam concentrados   Foto: Reprodução

Não foi a primeira e, com certeza, não será a última vez que torcedores fanáticos ameaçaram jogadores de futebol. Aliás, tais fatos não são um ‘privilégio’ do Brasil. Na sexta-feira, por exemplo, torcedores do Chivas Guadalajara invadiram um hotel, na Cidade do México, onde o time estava hospedado, e tentaram agredir os jogadores. Não conseguiram, mas promoveram um grande quebra-quebra no local, causando grandes prejuízos. O motivo foi o de sempre: a péssima campanha do time no campeonato - atualmente é o 15º colocado. Segundo o noticiário, os torcedores exigiram (sim, esse foi o termo utilizado) conversar com os jogadores para cobrar explicações sobre as últimas atuações. No último dia 5 de março, ainda no México, na partida entre Querétaro e Atlas, pela mesma competição, também ocorreram cenas de grande violência.


A reação das autoridades, porém, foi imediata: conforme a Procuradoria Geral do estado de Querétaro, os 10 primeiros suspeitos foram presos e responderão até por tentativa de homicídio. No recente caso envolvendo atletas do Corinthians, entre eles o goleiro Cássio, finalmente as autoridades agiram com rapidez e competência e identificaram os autores que prometeram até a morte pelas redes sociais.


O principal autor, que ameaçou a esposa do goleiro e o personal trainer dela, sabendo que já havia sido identificado, se apresentou a uma delegacia como “Sheik Caçador” e garantiu ter agido num momento de raiva. E mais: assegurou que estava arrependido. Com certeza, foi bem orientado por seu advogado, com o claro intuito de aliviar eventual condenação.


É importante que seja exemplarmente punido pela Justiça, envolvendo até mesmo a proibição de acesso aos estádios. Na Europa, principalmente na Inglaterra, é comum até o banimento dos torcedores e os resultados têm sido positivos.


O Brasil, infelizmente, ainda está longe dessa realidade, tanto é que a violência continua nos campos e vai além da ameaça aos jogadores. Ainda recentemente, o técnico da Desportiva Ferroviária, Rafael Soriano, deu uma cabeçada na auxiliar de arbitragem Marcielly Netto, no intervalo da partida contra o Nova Venécia, pelo campeonato do Espírito Santo. O motivo foi o encerramento do primeiro tempo do jogo antes da cobrança de uma falta para o seu time. O treinador, além de demitido pelo clube, foi levado para a delegacia e responderá por agressão e, provavelmente, lesão corporal. Na área esportiva, falou-se em suspensão de 180 dias, abrindo a possibilidade de volta ao futebol. Decisões como essa em nada contribuem para o difícil caminho de extirpar a violência dos estádios.


No Brasil, é público, o “poder” das torcidas teve origem, na maioria das vezes, na própria diretoria dos clubes. Algumas “organizadas”, durante um bom tempo, foram estimuladas por dirigentes e até custeadas em viagens, compras de instrumentos e de fogos de artifício. Gradativamente, porém, perderam o controle, e o resultado aí está. O pior é que as brigas entre torcidas ocorrem até foram dos estádios, com hora e local bem definidos. Vários foram os confrontos que terminaram com vítimas fatais, indicando que há muito passou da hora de efetiva ação.


Na essência, é verdade, a falta maior é de educação e de respeito ao próximo. A derrota e o fracasso são considerados questões de vida ou morte, como se o futebol não fosse apenas um esporte. O Flamengo, há alguns dias, conseguiu na CBF o direito de enfrentar o Palmeiras, em breve, no Maracanã, com torcida única. Invocou o princípio da reciprocidade, já que, em 2019, seu adversário, alegando risco de grave confronto e orientação do Ministério Público de São Paulo, conseguiu o direto de vetar a presença dos torcedores adversários.


A CBF, que na época aceitou a argumentação, agora se viu obrigada a proceder da mesma forma. A alegação é o sério risco de confronto nas arquibancadas, pela grande rivalidade hoje entre os dois clubes. Muito triste, sem dúvida. Demonstra o quanto o Brasil está longe da civilidade.


Essa semana, correu o mundo uma imagem de mais de 30 mil alemães cruzando as ruas de Barcelona, a pé, para acompanhar o Eintracht Frankfurt na partida contra o time catalão, tudo na mais absoluta paz. Aliás, foi a primeira vez na história do Barcelona que o Camp Nou tinha mais torcedores do adversário.


Bom exemplo!


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