O desemprego mata

O Brasil registrar cerca de 12 milhões de desempregados é um sinal muito preocupante

Por: Kenny Mendes  -  06/09/19  -  11:13
A fila de candidatos chamou a atenção por dar a volta na quadra
A fila de candidatos chamou a atenção por dar a volta na quadra   Foto: Rodrigo Nardelli/AT

Contrariando o que cantava o poeta, às vezes tenho a sensação de que o tempo parou. Como se uma densa nuvem tivesse pousado sobre o país, impedindo-o de olhar para frente. Um incômodo fenômeno que antes ficava relegado a cada dois anos, durante as eleições, hoje parece figurar entre nós em tempo integral. A autocrítica é necessária se quisermos mudar a atual situação.


A classe política precisa parar de demagogia, de partidarismo extremo, de se preocupar em apontar quem é esquerda e quem é direita. Criou-se um círculo vicioso, que só alimenta o mal-estar geral. É algo urgente nos debruçarmos sobre os verdadeiros problemas da nação. As guerras ideológicas que se arrastam pelos últimos anos já se mostraram um empecilho para o país se reerguer – geram instabilidade, revanchismo e parcialidade. É hora de parar de brincar com vidas humanas.


O Brasil registrar cerca de 12 milhões de desempregados é um sinal muito preocupante. Não é um fato que se resume à pessoa que está fora do mercado de trabalho – traz impactos drásticos a toda a cadeia produtiva, gerando instabilidade social, problemas na saúde e na área da segurança. A fila com mais de três mil pessoas em São Vicente, na terça-feira, em busca de uma vaga numa rede de fast-food, é sintomática.


Não são poucas as famílias que acabaram se desestruturando com a falta de emprego. É difícil para um pai ou mãe, de repente, se ver sem recursos para sustentar seus filhos. A relação do casal pode sofrer consequências. A ausência de dinheiro no fim do mês deságua na queda de qualidade de vida, gerando estresse, ansiedade e mesmo depressão pela falta de esperança numa melhora. Não à toa, aqueles que possuíam plano de saúde são levados a acessar a rede pública, o que aumenta a demanda dos serviços, que, infelizmente, já são deficientes. Isso sobrecarrega UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e contribui para filas intermináveis na espera por um exame.


Como o quadro não se altera com o passar do tempo, o efeito-cascata se acentua. A partir do momento em que a pessoa não tem um emprego, tende a deixar de consumir. Como consequência, o comércio e os produtores de bens reduzem o número de vagas ou, dependendo da situação, fecham suas portas. Sem contar os aspectos da falta de segurança, um problema antes mais comum nos grandes centros, mas que hoje afeta qualquer localidade. Qual empresário tem a predisposição de manter seu negócio após ser alvo de assaltos?


A vulnerabilidade social é uma questão séria. A rua não faz distinção de classe social, escolaridade ou formação. A pessoa dificilmente escolhe viver ao relento – as circunstâncias falam mais alto. São várias as histórias de pais, maridos, filhos, enfim, gente que já teve uma ocupação permanente anterior perder tudo por falta de alternativas.


Nós, políticos, precisamos nos unir para desburocratizar o estado. Incentivar os empreendedores, facilitar sua vida para que novos postos sejam criados. É imprescindível privatizar autarquias que só servem de cabides de emprego. Enquanto vice-presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação e Informação da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), insisto em bater na tecla de que a educação é uma vacina para a geração de empregos.


Na Baixada Santista, região de onde venho, o turismo tem um papel primordial nesse processo – ou, pelo menos, deveria ter. Em meio às discussões sobre a ligação seca entre Santos e Guarujá e a retomada da linha turística do trem Capital-Santos, bandeiras encampadas por nós, venho sugerindo que o Terminal Marítimo de Passageiros (em Santos) seja reposicionado – proposta que vem ganhando adeptos. Defendo que o equipamento, hoje situado no meio do nada, seja transferido para o entorno da Estação do Valongo (desativada), próximo ao Museu Pelé, o Museu de Arte Sacra, ou seja, em pleno Centro Histórico santista, o que fatalmente reativaria a cadeia econômica naquela área. É uma ideia.


Completei cinco meses na Alesp. Mesmo estando no começo do mandato, me sinto determinado a fazer a diferença na vida das pessoas. Deixemos a politicagem e as disputas ideológicas de lado. Um país dividido não avança junto.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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