Vacinação infantil é ciência, não ideologia!

Declarações públicas do presidente colocaram em xeque a credibilidade da Anvisa

Por: Júnior Bozzella  -  10/01/22  -  06:58
De acordo com os especialistas, a vacinação infantil é segura e essencial
De acordo com os especialistas, a vacinação infantil é segura e essencial   Foto: Matheus Tagé/AT

Em meio a um tsunami de fake news envolvendo a vacinação infantil contra a Covid-19 os ataques do presidente da república, Jair Bolsonaro, à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) chamaram a atenção na última semana. As declarações públicas do presidente questionando a autorização da Anvisa para a vacinação de crianças a partir de 5 anos colocaram em xeque a credibilidade do órgão baseados em um entendimento pessoal e sem qualquer fundamentação científica do presidente.


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Vacina é ciência e não ideologia, e é desta forma, de maneira transparente e responsável, que a Anvisa vem conduzindo todo o processo de autorização de vacinas no Brasil desde o início da pandemia. Dizer sem qualquer prova ou embasamento científico que a Anvisa tem interesses na vacinação infantil é de uma ignorância criminosa. Está claro que a Anvisa, assim como boa parte dos brasileiros, tem interesses sim na vacinação infantil: salvar a vida das nossas crianças. Agora é um absurdo o presidente Jair Bolsonaro insinuar algo diferente disso. Se o Bolsonaro não age com lisura, ele que não meça os outros com a sua régua.


É, por exemplo, mentirosa a postagem dizendo que a vacina da Pfizer causa mais casos de miocardite do que salva vidas de crianças. O imunizante é recomendado por autoridades sanitárias brasileiras e estrangeiras. Nos Estados Unidos a FDA, agência de saúde norte-americana, teve dados misturados por um site de cunho ideológico com postagens de conteúdo falso para enganar sobre a efetiva proteção da vacina. Os estudos mais recentes e reais sobre a imunização infantil de acordo com as análises das agências reguladoras norte-americana, europeia e brasileira afirmam que o imunizante da Pfizer é seguro para as crianças.


Os casos de miocardite pós-vacinação são raríssimos até o momento e, quando ocorrem, têm se manifestado de forma leve. A vacina da Pfizer já está sendo usada em mais de 30 países em crianças a partir de 5 anos. De acordo com dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) norte-americanos, só nos Estados Unidos até 7 de janeiro, 7 milhões de crianças entre 5 e 11 anos foram imunizadas com pelo menos uma dose. Os poucos casos de miocardite relatados em alguns países no pós-vacinação, vem sendo apontados por especialistas como eventos adversos raros que não invalidam a segurança dos imunizantes. A FDA concluiu que na maioria dos cenários “os benefícios da série primária de duas doses da vacina da Pfizer-BioNTech contra a covid-19 claramente supera os riscos para as idades entre 5 e 11 anos.


De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), o risco de desenvolver miocardite durante a covid-19 é vinte vezes maior do que o risco de desenvolvê-la devido à vacina, fator que isoladamente já justificaria a importância da vacinação, sem contar o papel de vetor das crianças na transmissão da Covid-19 para adultos e idosos do grupo de risco. Analisando os números, as pesquisas e o avanço da vacinação infantil ao redor do mundo fica claro que a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária em aprovar a vacinação com o imunizante da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos tem total embasamento científico. O que nos causa espanto é a acusação leviana do presidente Jair Bolsonaro de insinuar que haveriam interesses obscuros do órgão em ampliar a faixa etária da vacinação.


Felizmente, à frente de um órgão sério como a Anvisa temos o presidente Antônio Barra Torres cuja conduta ética e firme colocou o presidente da República, Jair Bolsonaro, no seu devido lugar. Em nota oficial ele rebateu o presidente Jair Bolsonaro e pediu para que o mandatário apresente provas caso tenha informações sobre eventuais ilegalidades ocorridas na agência na liberação da vacina contra a covid-19 para crianças. Barra Torres também cobrou uma retratação do presidente dizendo: "Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar".


Parabéns ao presidente da Anvisa pela ética e pela coragem de mesmo diante de pressões políticas seguir defendendo a ciência e a vida do povo brasileiro. Sobre a postura do Jair Bolsonaro, mais uma vez fica claro que o seu problema extrapola a ignorância e incompetência e entra na seara da falta de caráter. Para ele, na sua megalomania paranóica, todos aqueles que ousam contrariar a sua mente perturbada se transformam em inimigos do país.


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