O desemprego na pandemia e os jovens no epicentro do furacão

Sete meses após o início da pandemia no país, os números ratificam a nossa preocupação inicial colocando os jovens no epicentro

Por: Júnior Bozzella  -  05/10/20  -  12:52
Atualizado em 19/04/21 - 18:50
  Foto: Irandy Ribas / AT

Há algum tempo temos alertado sobre quem seriam as grandes vítimas da crise econômica advinda com a pandemia do novo coronavírus. Infelizmente hoje, sete meses após o início da pandemia no país, os números ratificam a nossa preocupação inicial colocando os jovens no epicentro deste furacão que devastou o mercado de trabalho.


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Para ilustrar melhor o que estou dizendo, vamos nos ater aos números. Desde o início da pandemia o desemprego da população entre 18 e 24 anos passou a ser mais que o dobro da taxa nacional. Especialistas apontam que essa é uma situação que preocupa, pois pode condenar a população ao subemprego em busca de alguma renda o que deve ter implicações crônicas na carreira de um jovem profissional, com o chamado “efeito cicatriz”.


Esse efeito consiste no fato de que o processo seletivo no mercado de trabalho exige experiência e um jovem que inicia a sua vida profissional atuando num determinado segmento passa a ter experiência apenas naquela atividade e, ao longo dos anos exercendo tal função, vai tendo cada vez mais dificuldade em migrar dela.


Levantamento do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV Social) apontam que pessoas de 15 a 19 anos foram as que tiveram o maior recuo na renda entre 2015 e 2019, com uma queda de 24%, seguidas por aquelas que tinham entre 20 e 24 anos, cujos rendimentos caíram 11%. Agora, entre o primeiro e o segundo trimestre deste ano, esses grupos perderam 34,2% e 26% da renda, respectivamente.


São dados preocupantes que colocam todo este grupo em uma condição de desemprego e abandono. Sem políticas específicas, vemos esta geração presa num ciclo vicioso no qual foi colocada por uma longa crise econômica agravada pela pandemia.


É fundamental ressaltar que a problemática vai muito além da questão econômica. Especialistas afirmam que estudos feitos na Inglaterra mostram que recessões no início da carreira profissional também aumentam a probabilidade de os jovens entrarem para o crime ou reduzirem a produtividade do país. Para ilustrar melhor, em um momento de crise e recessão as empresas fecham as portas para novas contratações. Sem opções, o jovem, mesmo qualificado, para se sustentar acaba buscando emprego nos poucos segmentos disponíveis, hoje, um grande exemplo, são os entregadores de aplicativos. A pandemia despejou centenas de profissionais para atuarem nessa área, que foi um dos segmentos que teve vasto crescimento durante este período. No pior cenário, o jovem, especialmente nas periferias, diante da dificuldade de colocação no mercado de trabalho e de ofertas de emprego, acaba sendo cooptado pelo crime.


Vale lembrar que a crise dos anos 1980 no Brasil foi um dos fatores que levaram a taxa de criminalidade no País a patamares mais altos nos 15 anos seguintes. Alem disso, a crise achata as expectativas do chamado “efeito diploma”, onde logo que alguém consegue um título, o ganho de renda costuma ser maior. Se o indivíduo perde essa janela de oportunidade por causa da pandemia é possível que não haja uma recuperação depois.


Na região da Baixada Santista a situação é ainda mais grave. Ao passo que grande parte do Brasil já começa a se recuperar, aqui, provavelmente pela forte característica turística da região, a perda de postos de trabalho segue em alta com um média mensal de cerca de 1,5 mil postos.


No acumulado do ano, entre janeiro e julho, foram 16.929 postos de trabalho perdidos. Fazendo um comparativo entendemos a severidade com que a região foi economicamente atingida pela pandemia. No mesmo período em 2019, a região perdeu 2.459 postos de trabalho. Em outras palavras os números Cadastro Geral de Empregos e Desempregos (Caged), do Ministério da Economia mostram que o desemprego cresceu cerca de 85% em 2020, em comparação com 2019, na Baixada Santista.


Por isso é fundamental que os gestores públicos encontrem mecanismo para salvar toda uma geração de ser condenada pela pandemia, pois fazendo isso estará investindo também no futuro econômico do país.


Na Câmara dos Deputados tenho mesmo antes da pandemia sido um grande defensor das políticas públicas voltadas para o fomento de emprego entre as parcelas mais jovens. Como presidente da Frente Parlamentar dos Jovens Aprendizes tenho não só discutido a problemática com os demais pares da Casa em busca de caminhos para minimizar a crise, mas principalmente tenho buscado junto à iniciativa privada parcerias para abrir as portas do mercado de trabalho para esse grupo que está sendo tão duramente afetado pela pandemia do coronavírus. Como disse Franklin Roosevelt certa vez, nem sempre podemos construir o futuro para nossa juventude, mas podemos construir nossa juventude para o futuro.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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