Falta de independência entre os poderes é uma séria ameaça à democracia

Ambiente político que o Brasil vive hoje é de um barril de pólvora prestes a explodir diante de qualquer faísca

Por: Júnior Bozzella  -  16/08/21  -  08:04
 Quanto mais impopular Bolsonaro se torna, mais caro custa a ele a “amizade” do Centrão
Quanto mais impopular Bolsonaro se torna, mais caro custa a ele a “amizade” do Centrão   Foto: Reprodução/Twitter Jair Bolsonaro

Eu ando nas ruas e converso com as pessoas por onde eu passo. Rodo em média 3 mil quilômetros por mês e a insatisfação do povo com o país e com o governo Federal é geral. Uma das coisas que mais eu tenho ouvido nas minhas andanças é a pergunta: “Bozzella, como foi que chegamos aqui?”.


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal e dezenas de descontos em lojas, restaurantes e serviços!


Meus amigos, o desespero leva a atitudes extremas. E foi esse desespero que nos levou a diante da revolta com tanta corrupção colocarmos a nossa liberdade em risco escolhendo um presidente cujo histórico já demonstrava a sua falta de comprometimento com a ética e, principalmente, com as instituições democráticas e valores republicanos.


Já diz o ditado, quem não tem competência não se estabelece. O presidente da República nunca teve condições intelectuais para exercer o cargo que ocupa. Hoje faltam-lhe também condições políticas. Decorridos mais de dois anos de mandato com o país enfrentando recordes de desemprego, a economia patinando, dólar e inflação nas alturas e o Brasil ainda contando os mortos pela Covid-19, que até aqui já somam 570 mil vidas perdidas, ficou evidente que o Bolsonaro não tem condições de governabilidade.


Hoje, a cada semana, temos uma manchete de jornal estampando uma bravata do presidente Jair Bolsonaro ameaçando as instituições e flertando com o autoritarismo. Não bastassem as ameaças verbais, o ambiente político que o Brasil vive hoje é de um barril de pólvora prestes a explodir diante de qualquer faísca.


A punhalada veio com a oficialização das bodas entre o Bolsonaro e o Centrão, que rebatizou o termo “velha política”, fomos do mensalão ao tratoraço. O buraco é muito mais embaixo. O discurso golpista com direito a tanqueciata é apenas o circo que o Bolsonaro monta pra atender à audiência da seita bolsonarista. A democracia corre mais risco a cada chuva de bilhões despejados em emendas para agraciar parlamentares em troca de apoio do que com as ameaças verbais às instituições, mas o povo sequer se deu conta do quanto essas negociatas estão afetando a democracia no Brasil.


Em 2020 foram mais de R$ 75,8 bilhões do Orçamento da União em troca de apoio. Isso sem contar as dezenas de apadrinhados distribuídos pelos ministérios. O Bolsonaro foi fatiando a estrutura do governo entre os partidos do Centrão de acordo com o potencial de votos de cada legenda. O PP do senador Ciro Nogueira (PP-PI) recebeu do Executivo as chefias do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que, juntas, correspondem a R$ 55,07 bilhões. Enquanto o PL, do ex-deputado Valdemar Costa Neto, emplacou vários nomes no governo e garantiu um orçamento inicial de cerca de R$ 10 bilhões e por aí vai.


A escolha do senador Ciro Nogueira (PI), presidente do Progressistas (PP) e líder do Centrão, para ocupar o ministério mais importante do Palácio do Planalto no lugar do general da reserva Luiz Eduardo Ramos, colocou o Centrão no comando do Governo à frente da Casa Civil. Para quem não lembra, isso significa dizer que o governo Bolsonaro terá os capitães do Centrão, Ciro Nogueira e Valdemar Costa Neto (presidente do PL), que foram protagonistas de escândalos como o Mensalão e a Lava-Jato, na linha de frente do Planalto. Esse é o preço que o Brasil está pagando pelo plano de poder da família Bolsonaro.


Existem hoje uma centena de pedidos de impeachment tramitando na Câmara dos Deputados, uma série de motivos legais para que o processo fosse instaurado, mas também existe um grande grupo de parlamentares subservientes ao Planalto porque são alimentados pelas fartas tetas bolsonaristas. É o toma lá, dá cá com o Centrão para manter o apoio, esse fisiologismo que enfraquece as instâncias democráticas do país.


O nível de corrupção do governo Bolsonaro é diretamente proporcional ao tamanho da sua ineficiência, ou seja, é gigante. Quanto mais impopular Bolsonaro se torna, mais caro custa a ele a “amizade” do Centrão. E esse dinheiro sai de todo lugar, da saúde, da educação, da segurança, da habitação, sangra os cofres públicos sem dó!


Os ataques à democracia não estão só nas bravatas e no desfile de tanques, estão nos bilhões liberados em emendas antes de votações importantes de assuntos diretamente ligados ao Palácio do Planalto, como é o caso do voto impresso. A sorte do brasileiro é que o Centrão custa caro, se não a esta altura já teríamos institucionalizado um instrumento para que o Bolsonaro pudesse tumultuar o processo eleitoral.


Essa relação espúria é grave, perigosa e muito mais corrosiva à democracia do que as falas irresponsáveis do Bolsonaro. É isso que não podemos tolerar e precisamos combater!


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter