Ataques à democracia não podem ser confundidos com liberdade de expressão

"Bolsonaro corre o sério risco de novamente, assim como aconteceu na 'tanqueata', errar a mira e atirar no próprio pé"

Por: Júnior Bozzella  -  06/09/21  -  06:52
 Assim como aconteceu na 'tanqueata', presidente pode errar a mira e 'atirar no próprio pé', destaca deputado
Assim como aconteceu na 'tanqueata', presidente pode errar a mira e 'atirar no próprio pé', destaca deputado   Foto: Reprodução/TV Globo

Ir às ruas para manifestar pacificamente o descontentamento com algo ou alguém é digno e legítimo. Desde que o presidente Jair Bolsonaro e os seus seguidores começaram a anunciar protestos para o dia 7 de setembro fiquei bastante curioso sobre qual seria a pauta das manifestações.


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O chamado inicial foi o impeachment dos ministros do STF. Em quais razões e circunstâncias seria fundamentado esse pedido, até agora ninguém conseguiu esclarecer, pois a única motivação é um desentendimento pessoal entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro Alexandre de Moraes. No meu entendimento as picuinhas do presidente da República Jair Bolsonaro não são justificativas para mobilizar uma nação a ir às ruas defender um capricho pessoal. Mais grave do que isso, é o que está por detrás desse capricho, que vai além de medir forças, mas visa acoar as instituições democráticas, e isso não tem legitimidade nem aqui e nem em lugar nenhum do mundo.


É uma afronta que o presidente, diante da tragédia econômica, política e institucional que o Brasil enfrenta se ache no direito de convocar a nação para defender as suas rusgas pessoais e atacar a democracia.


Bolsonaro corre o sério risco de novamente, assim como aconteceu na “tanqueata”, errar a mira e atirar no próprio pé, fazendo com que a população em vez de apoiá-lo se revolte ainda mais contra ele.


De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, a inflação nos últimos 12 meses ficou em 8,99% e o brasileiro vem sentindo isso na mesa, com o preço dos alimentos disparando. Hoje, as família assistem o arroz, o feijão e a carne bovina ficarem até 50% mais caros nos supermercados e, consequentemente, desaparecerem do prato.


Concomitantemente, o país está também sob o risco de uma nova crise energética, que jogou lá em cima o preço da energia elétrica, trouxe de volta o medo de um apagão e a possibilidade de racionamento de energia. O valor do gás de cozinha também não está nada favorável, e na última semana vimos uma mãe ficar entre a vida e a morte com 90% do corpo queimado, e o seu bebê com quase 20%, depois de substituir o gás por álcool para cozinhar. O desespero está em praticamente todas as classes, mas vem massacrando especialmente os menos favorecidos, com o desemprego batendo recordes e se aproximando de 15 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho.


A gestão que o presidente faz do Brasil não funciona e é uma das piores da história da redemocratização. Nenhum setor tem bom desempenho no país e a política econômica é um verdadeiro fiasco. Com a credibilidade internacional abalada pelos discursos e ações do presidente, o Brasil, isolado, não tem muitas saídas sob o governo Bolsonaro. Aliado a isso, a cada semana vemos uma nova denúncia de corrupção nas capas dos jornais envolvendo o presidente Bolsonaro, seus filhos e familiares.


Ciente do seu próprio fracasso, o presidente apela mais uma vez às ameaças e tenta manipular os seguidores que ainda possui para tentar intimidar o povo, ameaçar as instituições democráticas e criar um falso cenário de apoio popular. Dia 7 de setembro é o dia da independência do Brasil. Ir às ruas atacar os ministros do STF e as instituições democráticas, defender a fome, o desemprego e a corrupção não tem qualquer relação com independência ou liberdade de expressão. Os que forem às ruas no dia 7 estarão demonstrando que apoiam e compactuam com tudo isso.


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