Milton é tão grande quanto Paul, mas é da América do Sul

Foi impossível não lembrar da canção Para Lennon e McCartney, sucesso do Clube da Esquina

Por: Julinho Bittencourt  -  06/12/23  -  06:23
O cantor e compositor Milton Nascimento foi ovacionado ao entrar na arena MRV, em Belo Horizonte
O cantor e compositor Milton Nascimento foi ovacionado ao entrar na arena MRV, em Belo Horizonte   Foto: Divulgação

O cantor e compositor Milton Nascimento foi ovacionado ao entrar na arena MRV, em Belo Horizonte, no domingo, para assistir ao show de Paul McCartney. Milton, que foi convidado pela produção, fez várias postagens feliz da vida feito um menino ao receber um presente dos sonhos. Além do convite, ainda vinha no pacote uma camiseta da turnê que ele vestiu para ir ao show.


Clique aqui para seguir agora o novo canal de A Tribuna no WhatsApp!


Ao ver a cena, foi impossível não lembrar da canção Para Lennon e McCartney, sucesso do Clube da Esquina composto por Lô e Márcio Borges e Fernando Brant, em que os mineiros anunciam em alto e bom som: “Eu sou da América do Sul e sei vocês não vão saber”.


Milton Nascimento é um artista da mesma grandeza de Paul McCartney. Um não deve nada ao outro e vice-versa. São dois gênios da canção popular que, ao menos artisticamente, se equivalem. Mas os Beatles, ao contrário dos mineiros, muito ou quase nada souberam mesmo a respeito do que se passava em Minas e adjacências nas décadas de 60 e 70.


O que Paul McCartney faz, ou seja, lotar estádios mundo afora várias vezes por semana nos quatro cantos do planeta, para Milton foi apenas uma exceção, quando ele fez o show de despedida de sua carreira no Mineirão.


Foi curioso ver o próprio Milton tecendo loas a McCartney, ouvindo Beatles e extremamente entusiasmado com as canções e o fato de ir ver o show. Tudo bem, todos nós ficaríamos. Mas adoraria imaginar o contrário. MacCartney deslumbrado ao descobrir todas aquelas canções, o canto mágico de Milton, enfim, aqueles álbuns fabulosos e, assim como o colega, vibrar de entusiasmo ao poder, finalmente, assisti-lo.


Márcio Borges conta em seu belo livro Os sonhos não Envelhecem – Histórias do Clube da Esquina, que o guitarrista americano Pat Metheny, assim que chegou a Belo Horizonte, pediu para ser levado à esquina onde seria o tal clube. Explicaram a ele que “era só uma esquina” do bairro de Santa Tereza, na capital mineira. Ele insistiu e assim foi feito. Ao chegar lá, ficou parado, estático por uma enormidade de tempo diante das ruas Paraisópolis com Divinópolis: “Ele ficou emocionado. Disse que se sentiu como quando foi à cidade dos Beatles”, lembra Salomão Borges, patriarca da família Borges.


Milton Nascimento é enorme. O Clube da Esquina, com seus múltiplos cantores, compositores e instrumentistas, é enorme. Mas são da América do Sul. Um pequeno grande detalhe econômico, que reparte o planeta entre os ricos do Hemisfério Norte e os pobres do Hemisfério Sul, tem determinado que assim seja.


Milton tem quase dois milhões de ouvintes mensais no Spotify. Paul McCartney, sozinho, conta com mais de 22 milhões. Os Beatles têm mais de 35 milhões. São dimensões totalmente diferentes que nos dão a impressão que eles foram os grandes inventores e nós os copiamos ou perseguimos.


A música popular brasileira é um dos nossos grandes produtos de exportação, mas não chegamos nem nos calcanhares do que vendem os artistas do Norte. Não cantamos em inglês, não temos mercado que se compare ou tecnologia; enfim, infraestrutura que se compare.


Mas que deu vontade de gritar ao mundo, ah, isso deu: “olha, este homem negro e lindo que é ovacionado ao passar pela arena MRV é tão grande, tão imenso, talentoso e genial quanto o que vocês vão ouvir cantar nesta noite”.


Tudo sobre:
Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter