Carlos Lyra, o lírico e o militante

Morto no último sábado, aos 90 anos, ele foi um dos maiores criadores da nossa canção popular de todos os tempos

Por: Julinho Bittencourt  -  20/12/23  -  06:24
  Foto: Divulgação

A Bossa Nova teve vários grandes artistas. A considerada tríade principal contava com Tom Jobim, o poeta Vinícius de Moraes e o cantor e violonista João Gilberto, sem ordem de importância.


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Vários outros artistas excelentes também fizeram parte e foram imprescindíveis para o movimento. Não fosse pelo excesso de genialidade dos três já citados, dois outros grandes compositores e um letrista também merecem este primeiro time: o letrista Ronaldo Bôscoli e os compositores Roberto Menescal e Carlos Lyra. Este último considerado o maior melodista do movimento.


Difícil dizer, mas duas coisas são fatos consumados. Lyra, morto no último sábado (16), aos 90 anos, foi um dos maiores criadores da nossa canção popular de todos os tempos. Com a sua partida, a Bossa Nova fica apenas com Menescal, que continua com seu eterno Barquinho singrando mares do mundo afora.


Nunca a nossa consagrada música popular chegou tão longe, alcançou tantos países e, verdade seja dita, teve um patamar de qualidade tão elevado. Não fosse pelos seis moços acima citados e não haveria Chico Buarque, Caetano Veloso, Edu Lobo e tantos outros. E não fosse esses não haveria... enfim, não haveria nada.


Vinícius de Moraes, entre as suas enormes qualidades, tinha uma que se sobressaia sobremaneira: escolher seus parceiros. E, entre eles, lá estava Carlinhos Lyra, “parceiro cem por cento/ Você que une a ação ao sentimento e ao pensamento”, dizia o poeta em seu antológico “Samba da Benção”, parceria com Baden Powell.


Com Vinícius, Lyra fez "Você e eu", "Coisa mais linda", "Primavera", "Minha namorada" entre muitas outras canções que não aceitam nada menos do que o rótulo de maravilhosas. Só no “Pobre Menina Rica”, comédia musical escrita e lançada pelos dois em 1963, tem várias delas.


A partir de 1961, convencido de que aquela conversa de amor, o sorriso e a flor não se encaixavam muito na situação política e econômica do Brasil se tornou um dos fundadores do Centro Popular de Cultura, da UNE (União Nacional dos Estudantes).


A partir de então, sua obra começou a ser mais política. Desta fase é o então proibidíssimo disco “Canção do Subdesenvolvido”, lançado pelo CPC e cantado escondido nas décadas seguintes em que a ditadura se instaurou.


Lyra, então, resolveu se mandar do país, em 1964, durante o regime militar. Morou no exterior até 1971, tocando nos Estados Unidos e lançando dois discos no México. Voltou de bem com a vida, fez as pazes com seu passado e circulou durante anos com um lindo show onde contava as histórias da Bossa Nova, sua parceria com Vinícius entre outras.


Era um espetáculo lindo, leve e agradável que nos lembrava algo simples e óbvio: o quanto Carlos Lyra colaborou para tornar o Brasil melhor com a sua música. Teve, enfim, uma vida longa e amplamente reconhecida.


A nós, resta agradecer e referendar.


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