Antonio Leoni: álbum com ironia e boas canções

Filho de Leoni, cantor lança o primeiro EP em parceria com o amigo e músico Gabriel Amorim

Por: Julinho Bittencourt  -  13/03/24  -  06:29
  Foto: Divulgação

O cantor e compositor Antonio Leoni acaba de lançar seu primeiro EP, Ciclos e Portais, que conta com seis canções escritas por ele entre seus 13 e 23 anos.


O EP tem produção em parceria com o músico Gabriel Amorim. Os dois são amigos de infância.


Apesar de já caminhar sozinho, Antonio é filho do cantor e compositor Leoni. E não apenas isso. Seus primeiros passos, como não poderia deixar de ser, foram dados ao lado do pai. E, apesar de mostrar uma clara influência aqui e ali, sua música já traz uma personalidade forte.


Sua pegada é inescapavelmente pop. E isso fica claro nas influências que ele diz ter. Antonio é fã das composições de Hebert Vianna e Cazuza, artistas contemporâneos do pai. Ao mesmo tempo, afirma se interessar por artistas que, assim como ele, produzem as próprias gravações, como Lulu Santos, Ana Frango Elétrico e Tyler The Creator.


Sua predileção por vários gêneros indecifráveis fica clara na divertida e suingada Não Sei Fazer Bossa. Antonio confessa um dilema de várias gerações que vieram depois dos chamados grandes gênios da nossa música e lasca, com bom-humor: “E quando a obra-prima acabou/só enxergo mais um clichê de amor/Cansei da bossa que não me aceitou/E foi só isso que sobrou”. E ainda encerra: “Depois do João/Não há quem possa”.


As seis canções do EP são muito distintas entre si, mas, mesmo assim, apontam para vários pontos em comum. Há sempre como pano de fundo uma latente inquietação, tanto nas palavras quanto nos sons. Quase tudo é propositalmente inconcluso, questionado com sons sobrepostos e vozes que se traduzem nos versos da vida que “passa correndo, gritando entre ciclos e portais”.


A ironia é outro traço marcante que aparece quase todo o tempo. Em Se Eu Pudesse, por exemplo, sons eletrônicos e orgânicos se misturam em um quase rap que se dissolve em uma bela e curta melodia no refrão. Mais uma vez, ele junta no mesmo balaio seus dilemas, coisas inalcançáveis, com um certo deboche: “Não era de pano/Mas era boneca/Quem me dera que eu fosse poeta”.


O mesmo ocorre em Titânio, gravação em que, com um arranjo feito de poucos sons e pausas longas, ele escancara: “Não me peça pra voltar que eu volto/Não me peça pra ficar que eu fico”, mais uma vez brigando de maneira leve com o que foge do alcance das suas mãos.


Mesmo quando fala sobre coisas dramáticas, como a própria morte, um fato absolutamente imponderável para seus vinte e poucos anos, Antonio tem o dom de não se deixar levar muito a sério. Sua música é leve, inquieta, inventiva e, ao mesmo tempo, despreocupada, ao contrário da imensa maioria dos compositores na sua idade.


Vale entrar neste ponto de partida com ele. E torcer pra que consiga manter daqui por diante o espírito livre e, é claro, o talento.


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