Dos livros que não leremos

Quando nos damos conta sobre uma missão impossível, a de se ler tudo o que planejamos, podemos ter mais do que um sentimento. Vamos conversar sobre?

Por: José Luiz Tahan  -  14/06/19  -  18:28

Quando vivemos cercados de livros, e isso vale tanto se você é livreiro como também se você é um leitor civil, e tem um lugar de leitura em sua casa, apê ou local de trabalho, sabemos que a missão de ler tudo o que já um dia adquirimos é quase impossível. Mas, exatamente por saber que é inatingível, ela, a missão não cumprida, nos liberta.


Além de nos libertar ao aceitarmos o destino como leitores, nos gera um sentimento de sermos humildes. Somos menores do que as gigantescas estantes dos livros um dia escritos. No meu ofício, me deparo sempre com leitores especialistas em determinadas épocas, assuntos e autores. Eu, que já fui bobo, mas hoje sou um pouco menos, ouço com atenção as suas impressões e os seus aprendizados sobre suas paixões.


Sou um lutador de judô, uso a força do meu adversário em meu proveito e, humildemente, assumo que este livro não foi lido por mim, e talvez não seja lido futuramente. E assumo pro meu cliente, sem neuras, por vezes uso até uma saída do tipo: não li, mas li sobre o livro, sei, é um crime leve, vai...


Outra constatação que pode ser ao mesmo tempo angustiante como também uma grande notícia para nós, como leitores, é a de que mesmo que vivamos séculos não daremos conta de todas as grandes obras do mercado, os clássicos universais. Acho isso sensacional, saber que se tivermos um bom caminho como leitores vamos ler autores inesquecíveis, de todos os cantos do mundo, de todas as épocas e escolas, de correntes diferentes.


Eu gosto de ser cobrado pelos meus livros não lidos. Quando passo pelas minhas estantes, em casa, eles me encaram, e eu paro rapidamente e faço aquela promessa leviana para mim e para o livro: a sua vez vai chegar, logo logo.


Num resumo do que pensei em dividir com vocês, é isso que sinto, a certeza de diversão no nosso caminho como leitores até o nosso último suspiro, e o sentimento de sermos menores do que tudo o que foi escrito. Portanto, sejamos humildes, sempre haverá alguém que leu mais do que você.


Um abraço, tenho que voltar a ler o livro em andamento, o ainda inédito no Brasil “A Instalação do Medo”, de Rui Zink, um autor português.


Obrigado pela preferência, voltem sempre!


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