Onde anda você?

No mundo do trabalho portuário (e toda a sua cadeia produtiva), a necessidade de mudar é ainda mais profunda

Por: Hudson Carvalho  -  21/02/23  -  06:19
Novas tecnologias e ferramentas têm que ser consideradas no trabalho portuário
Novas tecnologias e ferramentas têm que ser consideradas no trabalho portuário   Foto: Arte: Max

“E por falar em saudade... Onde anda você?” Canção de Hermano Silva e Vinicius de Moraes, sucesso nas vozes de grandes intérpretes brasileiros


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Nessa coluna, temos abordado muitas vezes as diversas mudanças pelas quais passa (e continuará passando) o mundo do trabalho. No mundo do trabalho portuário (e toda a sua cadeia produtiva), a necessidade de mudar é ainda mais profunda e deveria andar com velocidade maior.


Gostaria de dizer que “no futuro” poderemos esperar por mudanças ainda mais significativas em nosso dia a dia de trabalho. Não seria verdade. As mudanças já estão aí e nos afetam seriamente, como têm demonstrado outros colegas que igualmente assinam artigos na editoria Porto & Mar de A Tribuna, abordando pontos de vista muito interessantes como o futuro do trabalho avulso, o papel dos Órgãos Gestores de Mão de Obra (Ogmo) e o uso da inteligência artificial, entre outros.


No fundo, as novas tecnologias e ferramentas que os colegas descrevem têm por objetivo mostrar a necessidade de se adaptar às tais mudanças que descrevi acima. Repetindo Darwin em sua teoria de seleção natural (ou da evolução), os sobreviventes não serão os mais fortes, mas aqueles que melhor e mais rapidamente se adaptarem.


No campo comportamental, sinto falta de uma discussão qualificada sobre as mudanças tão necessárias para enfrentar esses cenários. Discussão, nesse sentido, pressupõe partes dialogando respeitosamente a respeito dos resultados que pretendem atingir. Esse é o meu ponto. Vejo ações da iniciativa privada e do Poder Público (talvez ainda tímidas, mas concretas) tentando entender os traços comportamentais que irão nortear as relações do trabalho num futuro próximo.


Essas iniciativas porém, são planejadas e implementadas sob o ponto de vista dos “donos do negócio”, que buscam, com toda razão, o binômio qualidade-produtividade para os produtos e serviços que oferecem. Conheço de perto essas iniciativas, assumidas por muitos de nossos clientes quando buscam otimizar processos de trabalho ou desenvolver seu time de líderes. A pobreza atual da discussão está na menor presença do outro interlocutor, os principais interessados, os trabalhadores portuários.


Faltam iniciativas dos representantes dos trabalhadores? Pode ser. Mas não se pode desprezar a capacidade de organização e de realização dos sindicatos que atuam no Porto. Conheço pessoalmente a maioria dos dirigentes e suas boas intenções. Negociei muitas vezes com eles temas árduos. Mas quem aciona, motiva e empurra os sindicatos e associações a agirem? Repito: os próprios trabalhadores, sejam eles avulsos ou contratados diretamente pelos operadores portuários.


Algumas perguntas simples ajudariam a apresentar a perspectiva que abordo neste texto. Quantos livros você leu no ano passado? Quantos cursos fez por iniciativa própria? Quantas vezes buscou o sindicato de sua categoria e pediu para incluir ações efetivas de qualificação profissional nas pautas de acordos e convenções coletivas?


Enquanto as respostas forem "não" e "nenhum", fica claro que uma de duas possibilidades ainda está ocorrendo: ou falta conscientização sobre a gravidade e a urgência de adquirir novas competências comportamentais ou se espera uma solução mágica, vinda de algo ou alguém que não preza pelo esforço e a determinação, características próprias de quem quer não só permanecer no mercado de trabalho, mas progredir.


Vamos mais longe? Eu me arrisco a dizer que a qualidade das decisões que forem tomadas agora afetarão não só esta, mas as próximas gerações de trabalhadores portuários. O poeta Vinicius perguntou e eu repito: “onde anda você?”


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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