Ócio criativo, muito mais do que não fazer nada

Antes de associarmos ócio à preguiça, é preciso dizer que ócio criativo é diferente do ócio alienante

Por: Hudson Carvalho  -  03/12/22  -  07:45
  Foto: Max/AT

“Quem não tem nada para fazer deve ter muita disciplina para fazer alguma coisa” - Wilmar Leitte, pensador e escritor brasileiro


Em tempos em que se discute se home office significa maior ou menor carga de trabalho, penso nos comentários que ouço sobre como as pessoas usam o tempo em que estão trabalhando em casa.


Pessoalmente, acho mais importante controlar as “entregas” que cada um precisa fazer do que a sua jornada de trabalho (isso é só a ponta do iceberg de algo que discutiremos com profundidade em outra oportunidade). Por hora, me vem à mente o conceito de “ócio criativo”.


Antes de associarmos ócio à preguiça ou ao dolce far niente, é preciso dizer que ócio criativo é diferente do ócio alienante. Esse, sim, significa não fazer absolutamente nada.


Ócio criativo une trabalho-estudo-lazer. Aspas para o criador do conceito, Domênico de Masi: “Aquele que é mestre na arte de viver faz pouca distinção entre o seu trabalho e o tempo livre. (…) Distingue uma coisa da outra com dificuldade. Almeja, simplesmente, a excelência em qualquer coisa que faça, deixando aos demais a tarefa de decidir se está trabalhando ou se divertindo”. Trata-se daquela pessoa que gosta tanto do que faz que nem sente que está trabalhando.


Ora, se alguém sente prazer no que faz, a ponto de não distinguir trabalho de lazer, é provável que também não lhe seja incômodo aprender cada vez mais sobre os assuntos de sua área.


Pronto! Fechou-se o ciclo trabalho-estudo-lazer.


Imagine o significado de possuir profissionais nessa condição, propensos a serem mais criativos, mais produtivos, na medida em que acham soluções mais simples, rápidas e de menor custo para os desafios que enfrentam em seu dia a dia. Outro ganho!


Eu sei. É uma forma muito diferente de entender o mundo do trabalho, onde a obtenção de resultados ainda está relacionada ao esforço, acima das reais possibilidades e também com a capacidade do profissional em abrir mão de necessidades pessoais e do convívio social em prol da organização em que trabalha.


Esse é o único caminho?


Se não for, as empresas precisam dar sua parcela de contribuição para que esse ambiente seja criado e que as relações de trabalho se transformem. Eu começaria indicando a seguinte lista:


1.Estabelecer metas: não estou falando de baixar as expectativas da organização e exigir menor comprometimento das pessoas. Estou defendendo aquilo que pode ser feito de verdade, sem exigir que se faça mais do que os recursos disponíveis permitam;


2.Preparar as equipes para essa realidade: para ilustrar, vou pegar carona em Peter Senge e seu livro A Quinta Disciplina, quando fala sobre a importância da reflexão como parte das atividades rotineiras.


Segundo o autor, quando uma pessoa está em silêncio em sua mesa parecendo não fazer nada, está realizando um trabalho muito importante: está pensando;


3.Criar espaços e momentos de convivência para as equipes: sugiro que as empresas tenham espaços que possam ser utilizados pelas equipes para encontrar-se. Conversar de maneira informal traz efeito positivo sobre o ambiente de trabalho. Conhecer o outro é base para que se estabeleça a confiança entre as pessoas.


Sendo honesto, parte das pessoas permanece em seus empregos exclusivamente pelo salário que recebe. É isso que queremos?


A decisão está entre ficar refém do modelo atual, cujos resultados estão esgotando-se, ou mudá-lo, buscando a melhoria da produtividade que tanto queremos por meios que sejam favoráveis a um número maior de pessoas. Mais uma vez, a decisão é sua.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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