“Quem não tem nada para fazer deve ter muita disciplina para fazer alguma coisa” - Wilmar Leitte, pensador e escritor brasileiro
Em tempos em que se discute se home office significa maior ou menor carga de trabalho, penso nos comentários que ouço sobre como as pessoas usam o tempo em que estão trabalhando em casa.
Pessoalmente, acho mais importante controlar as “entregas” que cada um precisa fazer do que a sua jornada de trabalho (isso é só a ponta do iceberg de algo que discutiremos com profundidade em outra oportunidade). Por hora, me vem à mente o conceito de “ócio criativo”.
Antes de associarmos ócio à preguiça ou ao dolce far niente, é preciso dizer que ócio criativo é diferente do ócio alienante. Esse, sim, significa não fazer absolutamente nada.
Ócio criativo une trabalho-estudo-lazer. Aspas para o criador do conceito, Domênico de Masi: “Aquele que é mestre na arte de viver faz pouca distinção entre o seu trabalho e o tempo livre. (…) Distingue uma coisa da outra com dificuldade. Almeja, simplesmente, a excelência em qualquer coisa que faça, deixando aos demais a tarefa de decidir se está trabalhando ou se divertindo”. Trata-se daquela pessoa que gosta tanto do que faz que nem sente que está trabalhando.
Ora, se alguém sente prazer no que faz, a ponto de não distinguir trabalho de lazer, é provável que também não lhe seja incômodo aprender cada vez mais sobre os assuntos de sua área.
Pronto! Fechou-se o ciclo trabalho-estudo-lazer.
Imagine o significado de possuir profissionais nessa condição, propensos a serem mais criativos, mais produtivos, na medida em que acham soluções mais simples, rápidas e de menor custo para os desafios que enfrentam em seu dia a dia. Outro ganho!
Eu sei. É uma forma muito diferente de entender o mundo do trabalho, onde a obtenção de resultados ainda está relacionada ao esforço, acima das reais possibilidades e também com a capacidade do profissional em abrir mão de necessidades pessoais e do convívio social em prol da organização em que trabalha.
Se não for, as empresas precisam dar sua parcela de contribuição para que esse ambiente seja criado e que as relações de trabalho se transformem. Eu começaria indicando a seguinte lista:
1.Estabelecer metas: não estou falando de baixar as expectativas da organização e exigir menor comprometimento das pessoas. Estou defendendo aquilo que pode ser feito de verdade, sem exigir que se faça mais do que os recursos disponíveis permitam;
2.Preparar as equipes para essa realidade: para ilustrar, vou pegar carona em Peter Senge e seu livro A Quinta Disciplina, quando fala sobre a importância da reflexão como parte das atividades rotineiras.
Segundo o autor, quando uma pessoa está em silêncio em sua mesa parecendo não fazer nada, está realizando um trabalho muito importante: está pensando;
3.Criar espaços e momentos de convivência para as equipes: sugiro que as empresas tenham espaços que possam ser utilizados pelas equipes para encontrar-se. Conversar de maneira informal traz efeito positivo sobre o ambiente de trabalho. Conhecer o outro é base para que se estabeleça a confiança entre as pessoas.
Sendo honesto, parte das pessoas permanece em seus empregos exclusivamente pelo salário que recebe. É isso que queremos?
A decisão está entre ficar refém do modelo atual, cujos resultados estão esgotando-se, ou mudá-lo, buscando a melhoria da produtividade que tanto queremos por meios que sejam favoráveis a um número maior de pessoas. Mais uma vez, a decisão é sua.
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