Be water, my friend (seja água, meu amigo)

Espera-se que os profissionais adaptem-se às mudanças organizacionais com rapidez

Por: Hudson Carvalho  -  24/03/23  -  06:48
Espera-se que os profissionais adaptem-se às mudanças organizacionais com rapidez
Espera-se que os profissionais adaptem-se às mudanças organizacionais com rapidez   Foto: Pixabay

A frase de Bruce Lee em Longstreet, série de TV de 1971 – parte de uma cena do famoso ator e lutador de artes marciais que ficou famosa nos anos 70 -, hoje volta com força, ressuscitada no mundo corporativo, tentando explicar a necessidade que todos nós temos de nos adaptarmos aos vários fatores aos quais estamos expostos no mundo do trabalho: pressão por mais produtividade, redução de custos, adição de novas tecnologias. A explicação é simples: a água, ao ser colocada em qualquer recipiente, assume imediatamente a forma à qual está acondicionada. Da mesma maneira, espera-se que os profissionais adaptem-se às mudanças organizacionais com rapidez, apresentando de imediato as entregas que são esperadas de sua posição. Mudanças, mudanças, mudanças.


É simples? Não! Pelo contrário, muito complicado. Vamos aos números que explicam o cenário? Segundo a Consultoria HR Tech Pulses, em matéria apresentada recentemente pela revista Você S/A, os pedidos de demissão em 2021 representaram 10% do total de trabalhadores demitidos. Em 2022 esse número subiu para 48%. Quase cinco vezes mais. Quase metade das demissões ocorreu por iniciativa própria do Trabalhador, a maioria deles qualificados. As razões? Baixo senso de realização, falta de identificação com a missão e história da empresa e condições de trabalho com as quais não concorda.


Quer mais? Pesquisa recente, emitida pelo famoso Instituto Gartner, afirma que 67% dos empregados esperam que suas empresas adotem posturas mais flexíveis em relação a horários e rotinas de trabalho, remuneração e benefícios, nesse período após o período mais crítico da pandemia.


Por fim, a Robert Half, uma das maiores empresas de contratação do planeta, informa que 62% dos Empregados pesquisados em todo o mundo desistem da dedicação ao emprego, fazendo apenas o mínimo necessário em suas atividades diárias, configurando o fenômeno conhecido por quiet quitting (desistência silenciosa), uma espécie de Operação Tartaruga.


Como a toda ação há uma reação, existem empresas adotando a postura que recebeu o nome de quiet firing (demissão silenciosa), na qual – sistematicamente – um colaborador deixa de ser envolvido nas principais ações do dia a dia, até que resolve se demitir.


A continuar dessa forma, estaremos num jogo de perde-perde, que carece de explicação quanto ao seu significado. Enquanto líderes e liderados investem seu tempo e energia imaginando formas de fazer menos, a produtividade cai, os custos sobem e os resultados pioram. São as questões do “e eu?” se sobrepondo às demais que realmente importam para a organização.


É preciso inverter essa lógica! Transformar esse ciclo vicioso em virtuoso, com uma ação boa gerando outra ainda melhor em resposta. É o ganha-ganha. Como? Vamos lá para as dicas.


Primeiríssimo e mais importante do que tudo: comunicação clara. Cartas na mesa. Quais são os motivos do descontentamento de parte a parte? Vamos discuti-los abertamente, até que sejam descobertas de reais causas e como solucioná-las. Sem paixões, apenas fatos e dados. Meu comportamento lhe incomoda? Por quê? Como resolvemos isso?


Criar trilhas de carreira também é uma boa ideia a ser utilizada pelas organizações. São planos onde se deixa claro a todos quais são as competências necessárias e os critérios necessários para que sejamos promovidos ou transferidos para uma área ou atividades que interesse àqueles que desejam mudar de ares, mas permanecer na organização. Trilhas são muito boas para gerenciar expectativas. Uma estratégia que eu gosto muito e já pratiquei bastante enquanto executivo em RH é o job rotation, um período em que um profissional assume o papel de outro, enquanto alguém vem para o seu. Nada como sentir as dores do outro para dar valor ao que se tem e aos papeis e dificuldades dos demais.


Por fim, uma que considero fundamental, base para o restante, algo que pratico e diariamente aprendo em minha vida pessoal e profissional: criar conexão humana, que vai além do meramente profissional. Podemos complicar muito essa ação ou fazer como dizia Madre Teresa de Calcutá, em sua objetividade cristã: “Ninguém deve ter o direito de deixar o outro sair de sua presença pior do que chegou”. Profundo e simples ao mesmo tempo.


É muito para você? Última dica. Não faça tudo de uma vez. Um pouco por dia, mas todos os dias.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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