Odalto de Castro na Surfing

Esportista foi o primeiro brasileiro a estampar uma revista estrangeira da modalidade

Por: Gabriel Pierin  -  30/04/24  -  06:41
Odalto na capa da Revista Surfing em 1982
Odalto na capa da Revista Surfing em 1982   Foto: Reprodução

Antônio Odalto Smith Rodrigues de Castro: o tamanho do nome condiz com a extensão da trajetória desse cearense, nascido em 28 de maio de 1960.


O avô materno, médico da aeronáutica no Rio de Janeiro, foi servir no Recife. O pai, Valzenir Rodriques de Castro, estudante de medicina na capital pernambucana, encontrou a colega Leda Maria Smith Rodrigues, filha do militar e neta de Albert James Smith, um inglês que veio ao Brasil na implantação da imprensa oficial. Ele casou com uma carioca oriunda da família Duque Estrada, Antonieta Otília Duque Estrada Meyer de Barros Smith. Dos antepassados da família materna originou-se o Bairro Méier, uma imensa fazenda produtora de açúcar, no século 18.


Valzenir e Leda cursaram a faculdade juntos, se casaram e tiveram três filhos. Odalto era o filho do meio entre duas irmãs, Lissie e Thereza. Em 1966, os Castro foram morar na Praia de Iracema, em Fortaleza, e nos anos seguintes Odalto, estudante no Santo Inácio, começou a pegar suas primeiras ondas numa pranchinha de isopor da Planondas.


Muito ligado ao esporte e extremamente competitivo, Odalto de Castro começou no judô aos três anos, inspirado pelo pai, faixa preta nos tatames. Ele também jogou futebol de salão pelo Sumov, time seis vezes campeão brasileiro, considerado a maior força desse esporte no país na época.


Em 1973, Valzenir precisou fazer um tratamento médico em São Paulo e no retorno a família passou pelo Rio para visitar os parentes da mãe. Odalto acabou ganhando sua primeira prancha de surfe, uma Hati vermelha, comprada na loja Sears do bairro de Botafogo.


Época marcada pela raridade do surfe no Ceará, restrito a uma turma que fazia intercâmbio nos Estados Unidos e traziam de lá suas pranchas, Odalto começou a pegar onda com essa turma, ao frequentada pelo primo mais velho, Juninho, conhecido no mundo da música popular como Neo Pi Neo, na Praia do Náutico.


Aos 15, Odalto, Juninho e André Greiser começaram a fabricar pranchas, orientado pelos surfistas e shapers cariocas, Carlos Mudinho e Duda Ovo Quente. No ano seguinte, ele montou na casa do pai sua própria fábrica de pranchas, a Nortão Surfboards, trabalhando com Zorrinho, Ronaldo Jorge Negão e o Pena. A Nortão, uma das pioneiras na fabricação de prancha do estado do Ceará, formou uma equipe de destaque com Raimundo Cavalcante, Adriano Fonseca, Bene Rodrigues, César Picureia e Joca Júnior.


Em 1978, Odalto foi um dos primeiros a surfar em Fernando de Noronha. Mesmo sem nenhum relato sobre picos de surfe na ilha, Odalto, Fedoca e Franklin pegaram um grande swell nas praias do Boldró, Conceição e Abrás. No ano seguinte, ele aproveitou o conhecimento do amigo Perdigão pelos picos mexicanos e fez uma surftrip pela América do Norte e Central.


Em 1980, o cearense trancou a matrícula de engenharia mecânica na Unifor e foi para Oahu. Roberto Lima (de Floripa) esperava o jovem surfista e juntos fizeram uma temporada muito proveitosa, que lhe rendeu uma icônica foto de capa na Surfing, a primeira de um surfista brasileiro numa revista estrangeira, publicada em janeiro de 1982.


Na volta, fundou a Associação de Surf do Ceará. Nos primeiros eventos, promovidos pelo jornal O Povo, Odalto conquistou o Setembro Surf (1981) e a vice colocação no Summer Time Surf, ganhando uma passagem para o Havaí, sua segunda temporada.


No arquipélago havaiano, o brasileiro também fez fama no futebol, marcado por um fato pitoresco. Ele formou no time da Lightining Bolt, que treinava na Sunset School. O manager da marca, Fat Paul, sabendo da habilidade dos brasileiros, escalava Odalto e Fred Ansley, entre outros. Fredão, um cara grande, se engraçou com uma havaiana linda e não queria mais voltar pro Rio. O pai, Coronel Onaldo, um paraibano que fez a vida como oficial no Rio de Janeiro, foi buscá-lo. A viagem trouxe outro resultado. O coronel parrudo acabou escalado na quarta zaga do time e estendeu ainda mais a temporada havaiana do filho.


Odalto resolveu respirar outros ares e se profissionalizou fora da água. Formado em engenharia mecânica e especialista em engenharia de irrigação, comprou terras no sul do Piauí, lugar com muita água e clima propício para produção de frutas tropicais.


Ao voltar ao Ceará, retomou ao mar e fundou a Associação de Surf Master do Ceará. Em 2012, Odalto de Castro foi campeão do Circuito Brasileiro de Surf Master, conquistando a vaga para o Grand Kahuna, o Mundial Master da ISA na Nicarágua, onde terminou em quinto lugar e em terceiro por equipe, ao lado de Júnior Maciel, Jojó de Olivença, Cardoso Júnior, Sérgio Noronha e Gabriel Macedo.


Odalto de Castro, surfista que abriu as portas para o surfe nordestino no Brasil e no mundo, vive hoje no Ceará com sua esposa, Renata Lima de Castro. Seu filho André seguiu os passos dos avós e é oftalmologista. Já Eduardo, o mais novo, é procurador do Estado do Paraná. Os dois são grandes judocas, faixas pretas multicampeões.


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Coordenador de pesquisas históricas do Surfe @diniziozzi - o Pardhal


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