Histórias do surfe: Reinaldo Andraus, o Dragão

A trajetória do nome começou com um desenho de leão, signo que lhe rege

Por: Gabriel Pierin  -  23/04/24  -  06:28
Reinaldo Dragão e Gabriel Pierin são historiadores especializados na trajetória do surfe
Reinaldo Dragão e Gabriel Pierin são historiadores especializados na trajetória do surfe   Foto: Divulgação

A viagem ao Rio de Janeiro, em 1970, rendeu a Reinaldo Andraus sua sonhada prancha São Conrado e o apelido que o tornaria conhecido no mundo do surfe. A trajetória do nome começou com um desenho de leão, signo que lhe rege. Ele e sua mãe vasculharam a Enciclopédia Britânica e encontraram, numa página dupla, os brasões da realeza do Reino Unido.


Dona Marina usou um pantógrafo para contornar o leão rampante, ampliou para o papel vegetal e pintou com tinta nanquim. O desenho foi entregue para o Coronel Parreiras estampar a nova prancha. Com a Surfboards São Conrado e a forma estilizada do desenho, Reinaldo virou Dragão.


Ele é o segundo dos três filhos do casal, os primos de primeiro grau Marina Petrella e René Andraus. Nascido em 24 de julho de 1956, Reinaldo Dragão descende de italianos e libaneses, povos antigos que dominaram a navegação no mediterrâneo.


Sua aproximação com o mar paulista vem da forte ligação da família paterna com as cidades da Baixada Santista. Os irmãos Andraus, René, Roberto e Raul, fundaram a Ocian (Organização Construtora e Incorporadora Andraus), responsável pela canalização de água e iluminação elétrica na Cidade Ocian, região distante da Praia Grande, ainda pertencente à cidade de São Vicente, nos fins dos anos 1950.


O pioneirismo levou o tio Roberto Andraus a concorrer e vencer a disputa à Prefeitura de São Vicente, enquanto a Ocian erguia prédios na orla da praia de Santos, utilizando o sistema de sapatas.


Foi num desses prédios, o Edifício Santa Therezinha, na Praia do Embaré, que a família escolheu seu apartamento e passava os finais de semana e feriados. Reinaldo teve seu primeiro contato com a praia, aprendeu a pegar onda de peito e ganhou a intimidade com o mar.


Na Capital, Reinaldo estudava no Colégio Santo Américo, instituição de ensino dirigida por padres húngaros, no Morumbi. Ele formou nas seleções de basquete e vôlei do colégio, mas sua alma já era de surfista. Nas aulas, Reinaldo desenhava ondas e se projetava para fora da sala com o surfe em pensamento.


Em 1967 os pais venderam o apê no Edifício Santa Therezinha e compraram no Vila Rica, em frente à Ilha Pombeva, na Praia de Pitangueiras, em Guarujá. Ali, os surfistas e competições saltavam aos olhos, despontando os primeiros campeonatos de surfe do estado de São Paulo, organizados pelo Clube da Orla.


Nessa época foi lançado o filme Alegria de Verão (Endless Summer) no Conjunto Nacional da Avenida Paulista e sua vida mudou. Aos 11 anos e três sessões de cinema depois, descobriu que o surfe faria parte da sua vida para sempre. Ele acompanhou com as exibições no Cine Praiano, em Guarujá, e Roxy, em Santos.


Reinaldo ganhou sua primeira prancha, uma Glaspac MK3, comprada na Fiberglass Center em 1969, mas foi a São Conrado do Dragão sua prancha mais marcante, seguida pela monoquilha Lightning Bolt, shapeada por Tom Parrish e laminada pelo brasileiro Paulão Uchoa, em Sunset. Com ela, Reinaldo saiu numa icônica foto de Klaus Mitteldorf, em página dupla na histórica reportagem da Brasil Surf, intitulada Paulistas no Havaí, em 1978.


Do Guarujá, Reinaldo desbravou as praias do Litoral Norte, atravessando as pontes de madeira, estradas de terra e pelas areias das praias de Bertioga, São Lourenço, Itaguaré, Guaratuba e Boraceia. A descoberta de Maresias foi um sonho. Sozinho ou com os amigos Egas Atanazio, Alex Dumont, Thyola, Madinho Chiarella, Dany Boi e Sidão, as surftrips marcaram uma época de aventuras.


Em 1974, conheceu Imbituba e Saquarema, picos de ondas grandes no Brasil. Foi um prelúdio para as viagens internacionais: Peru, em 1975, com Marcelo Magoo e Sérgio Richer; North Shore, Havaí, com Paolo Zanotto e Sidão Tenucci; Indonésia, em 1980, no segundo grupo de brasileiros que surfaram Nias.


Reinaldo competiu no Festival Luau Lightning Bolt, no Guarujá e no primeiro Festival Brasileiro, em Ubatuba, 1972. Anos mais tarde passou a disputar as categorias Master e Longboard, alcançando a sétima posição na Abrasa e sempre entre as 20 melhores na Abrasp. Em 1994 venceu as categorias Sênior e Master do Festival Toads, na Praia do Pernambuco. Porém a contribuição de Dragão vai além do que ele fez no mar. Ele é hoje um dos maiores historiadores de surfe do Brasil e talvez do mundo.


Em 1985, começou no jornalismo de surfe da TV Band, foi editor nas revistas Fluir de 1986 a 1990 e Hardcore até 2002; colaborador na Alma Surf, Venice Mag, Tracks, The Surfer’s Journal e TSJ Brasil. Especialista em Marketing e Finanças pela Fundação Getúlio Vargas, Reinaldo ainda trabalhou como coordenador de marketing na Quiksilver (1996-98) e na HD (2010-12).


Seu maior legado para o mundo do surfe está em andamento. O primeiro livro da coleção Grande História do Surf Brasileiro já foi lançado. A obra será o maior registro da história do surfe nacional, com fotos, entrevistas e histórias, muitas histórias...


Acompanhe nossas publicações nas redes sociais @museudosurfesantos. Coordenador de pesquisas históricas do Surfe @diniziozzi - o Pardhal


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