Os portões da casa dos Prado estavam sempre abertos para a galera do surfe. Por ali passaram Giba, Zizi Passarelli, Miguel Sealy, Ucho, Lafrainha, João de Deus, Celso Sotille, Dirceu e tantos outros que se reuniam em um gazebo, um espaço de convivência na propriedade, para consertar e fabricar pranchas ou jogar conversa fora.
O casarão, com vasto jardim e árvores imensas, ficava no número 104 da rua Azevedo Sodré, em frente à rua Jorge Tibiriça, e pertencia ao casal de artistas plásticos Paulo e Vera Prado. O espaço na casa se tornou um ateliê para a juventude ávida por novas experiências.
Paulo Prado Neto era neto de Paulo Prado, escritor, poeta e um dos principais organizadores e financiadores da Semana de Arte Moderna de 1922. Neto seguiu os passos da família nos negócios ligados ao café, era pintor e foi diretor da Galeria de Arte do Centro Cultural Brasil Estados Unidos. Vera, sua esposa, era irmã de Jua Hafers, um dos pioneiros do surfe no Brasil.
O casal Prado teve cinco filhos: os meninos, Paulo e Marcos e as meninas Renée, Patrícia e Helena. Marcos seguiu no ofício dos pais e deles recebeu o talento para as artes plásticas. Apesar de não surfar, Marcos fez parte da turma de surfistas do Canal 3 e se engajou no movimento, abrindo os portões da casa para o mundo do surfe.
A irmã Helena, ou Lena como era conhecida, foi uma pioneira do surfe feminino. Ao lado de Carla Canepa, Lena surfou as ondas do Gonzaga, do Itararé e das praias de São Pedro e Iporanga, no Guarujá. As duas estudavam juntas no Stella Maris e dividiam a prancha de Carla, uma Surfboards São Conrado.
Como ainda não existia o mercado de surfwear, a mãe de Lena costurou um conjunto jeans (short e bustier) para a filha surfar. No Guarujá, Lena e Carla alugavam umas motos para chegar até a Praia de Iporanga. Quando não estavam na água, elas apostavam corrida de moto na estrada que se abria para as praias recém-desbravadas. As frutas e sanduíches eram deixados perto da cachoeira para um delicioso piquenique depois do surfe. Em dias de sol as duas passavam óleo de urucum para pegar um bronzeado e espantar as butucas.
O quartinho na casa dos Prado sucedeu a garagem do Petito no Edifício Paulistânia e a casa do Nando Gouveia na rua da Paz, primórdios na guardaria das pranchas e pontos de encontro da turma. Naquela época existiu o histórico Big Kahuna Surf Club. Juntos, os membros do clube compartilharam a alegria da juventude e a liberdade do surfe.
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