Histórias do surfe: Gersão do Quebra-mar

O segundo e único surfista de um total de seis filhos do casal Orlando Miguel e Maria Aparecida da Silva

Por: Gabriel Pierin  -  05/03/24  -  06:27
Gersão, a surfista Layla e seu filho Antônio, que é neto do amigo Jefferson Bigode
Gersão, a surfista Layla e seu filho Antônio, que é neto do amigo Jefferson Bigode   Foto: Arquivo Pessoal

No dia em que a coluna completa 200 edições, vamos falar de Gerson Luiz da Silva Miguel, que nasceu em 29 de agosto de 1958 no hospital San Remo, em Santos. O segundo e único surfista de um total de seis filhos do casal Orlando Miguel e Maria Aparecida da Silva era um bebê com quase 4kg, fazendo justiça ao apelido que o tornaria conhecido por toda a vida.


Aos 13 anos, alto, Gersão jogava basquete no Clube de Regatas Santista, nas categorias mirim e infantil. Ele continuaria a praticar o esporte em competições pelo Codespão, evento esportivo promovido pela Codesp, empresa em que Gerson trabalhou a partir de 1984.


O pai, motorista de empilhadeira na Companhia Docas de Santos, foi um exemplo para o menino morador do Campo Grande. Em 1975, o pequeno marmiteiro, estudante colegial do Avelino da Paz Vieira, passou a trabalhar como mensageiro de Raio-X na Santa Casa de Santos, seu primeiro emprego com registro em carteira. Nessa época Gersão começou a surfar com uma Gledson Surfboards do Osvaldo Negão, um entre seus vários amigos surfistas, entre eles, Chiquinho, Jorge Limoeiro, Camilo, Maurício Babão, Zé Dunga e Padeiro.


A amizade entre os surfistas era celebrada nos bailes do Clube Sírio Libanês, no prédio do Atlântico, onde futuramente seria a Discoteca Lofty. Depois das 22h, quando o baile terminava, a galera enchia a Galeria Ipiranga. Em 1975 o Sírio mudou de endereço e a domingueira do Sírio, o Dallas Saloon, passou para avenida Ana Costa, ao lado do antigo Cine Iporanga.


Os encontros permaneceram no Sírio até o Caiçara Clube promover as domingueiras. No Caiçara a galera tocava o terror, pulando o muro, causando brigas e sendo perseguida. Um dia a turma foi retirada em peso pelo Velha, o responsável pelo baile. Ele fechou todas as entradas porque a molecada já estava manjada. Com o tempo, a desconfiança virou amizade. Os diretores do Caiçara gostavam de ver aquela molecada jovem e animada, os cabelos loiros parafinados e compridos se destacando no salão. Eles eram a estrela do baile. Gersão sempre adotou uma postura disciplinada e disciplinadora. Especialmente quando o Picuruta aprontava. Os surfistas tinham o costume de fazer um corredor, forçando a galera a passar entre eles e a piscina. A hora que um desavisado passava por ali, Picuruta empurrava o cara na piscina para delírio da galera que caía no riso. Gersão não precisava olhar duas vezes. Com ele não tinha brincadeira.


Em 1977, Gersão participou do Campeonato de Surf do Quebra-mar, organizado pelo Zanetti e Carioca. Nessa época, só existiam os canos e as pedra. Com o passar do tempo, a Prefeitura aterrou o píer, tornando-o um estacionamento de ônibus para o turismo de um dia. Na Prefeitura de Telma de Souza, houve o primeiro aceno para a urbanização do local, com a construção de uma pista de skate, uma torre de madeira para salvamento, um chuveiro para banhistas e iluminação.


Em 1981, ele conseguiu emprego no Hospital Ana Costa como técnico em Raio-X, até finalmente ser admitido na Codesp. Foi pelo Ogmo (Órgão Gestor de Mão de Obra) do Porto de Santos que Gerson se aposentaria em 2008, como trabalhador de capatazia.


Antes de se aposentar, Gersão viveu o sonho e por quatro anos seguidos, entre 1996 e 1999, viajou para a Ilha de Oahu, em frente à praia de Sunset, no Havaí, ao lado de amigos santistas e cariocas. No segundo ano de Havaí, Gersão já se sentia um local. Seu jeito de ser, irradiava o astral do lugar, o verdadeiro espírito aloha, sempre de bem com a vida.


Em 2005, Diniz Iozzi criou o Santos Surf Festival, o primeiro de uma série de cinco festivais consecutivos. O evento reuniu milhares de pessoas no Emissário Submarino, numa atmosfera em torno do surfe, em suas diversas atrações. Essa iniciativa e os atos promovidos pelos surfistas surtiram efeito e, em 2009, o Emissário foi reurbanizado e o Museu do Surf inaugurado. Gersão trabalhou como monitor, uma incrível experiência de ouvir e contar histórias de surfe, entre 2009 e 2012.


Aos 65 anos, Gersão segue em atividade, fomentando as histórias do surfe, um verdadeiro baluarte da cultura de praia santista.


Acompanhe nossas publicações nas redes sociais @museudosurfesantos. Coordenador de pesquisas históricas do Surfe @diniziozzi - o Pardhal


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