Do litoral de SP para o mundo, as aventuras e o sucesso de Jorge Limoeiro

Próximo de completar meio século como shaper, ele tem vida de muita gratidão e aprendizado

Por: Gabriel Pierin  -  14/06/22  -  07:44
Na foto acima estão Mori, Tato (irmão do Cisco), Paulo Pé, Cisco e Jorge Limoeiro
Na foto acima estão Mori, Tato (irmão do Cisco), Paulo Pé, Cisco e Jorge Limoeiro   Foto: Crédito - Jorge Limoeiro.

Nascido em Santos, em 31 de janeiro de 1958, Jorge Lopes Francisco, o Jorge Limoeiro, frequentava a praia desde pequeno ao lado do irmão, José. Aos 6 anos, já encarava as ondinhas de peito sobre as tabuinhas de madeira. Os anos se passaram, o menino cresceu, ganhou uma pranchinha de isopor da Planondas e, depois, passou a experimentar as de madeirite.


Quando as pranchas passaram para a fibra de vidro, Jorge conheceu o processo pelas habilidosas mãos de Tony Varandas. Outras influências vieram dos irmãos gêmeos Arnaldo e José Carlos, além de Juca Negão, José Luís Santana e o conhecido Zé Geraldo. Eles formavam a Turma do Campo Grande. Era o tempo em que a molecada da Rua Gonçalves Ledo se reunia para correr onda. O termo surfe ainda era pouco usual.


O surfe foi se desenvolvendo naturalmente, nas conversas que ouvia, na curtição do mar, da natureza, entre os amigos. A primeira prancha fabricada por Limoeiro foi em novembro de 1970. Ele e o amigo Maurício Babão foram sócios nessa empreitada. Era uma prancha precária de isopor, isolada por celofane, coberta com manta de fibra de vidro. A disputa pela prancha nos dias de surfe terminou com a sociedade. Limoeiro comprou a outra parte e passou a fabricar sozinho. Nascia ali o famoso shaper. Um negócio que começou no chalé da avó, na Rua Gonçalves Ledo, 77.


No início dos anos 1970, o surfe explodiu. Junto com ele, o preconceito. Sem as cordinhas e com o aumento dos acidentes com banhistas, a prática ficou restrita aos dias de semana e a 50 metros do canal, até atingir toda a extensão da praia.


No início das obras do Quebra-Mar, um incidente ajudaria a mudar o estigma. O mar estava revolto e Limoeiro salvou uma família em afogamento. O jornal fez a cobertura, houve uma ampla divulgação e reacendeu-se a discussão da prática do surfe. Os surfistas passaram a ser vistos como aliados dos salva-vidas e o surfe foi liberado. Nessa época, Limoeiro já surfava em outras praias e também disputava alguns campeonatos no Guarujá, no Quebra-Mar, em Itanhaém e Peruíbe, sempre no Estado de São Paulo. Porém, seu foco e seu destino estavam na fabricação de pranchas.


O shaper santista começou com a marca Jorge (1970-71). Com o crescimento, o nome mudou para Limoeiro Surfboards (1972-75) e o processo ganhou uma linha de montagem, com novos parceiros e colaboradores. Em 1975, nascia a Dolphin Surfboards. Ele também formou uma parceria com o amigo Júlio Akira. Juntos criaram a L&A, Limoeiro e Akira Surfboards.


Em 1981, Limoeiro foi para a França, em Hossegor. Nas férias de verão, o brasileiro conheceu Portugal. Em Carcavelos, apresentou o surfe para a garotada portuguesa. Jorge Limoeiro foi o primeiro brasileiro a fabricar uma prancha naquela região. Sem recursos, de forma totalmente artesanal, causou sensação ao terminar uma prancha para os irmãos Azevedo, locais de Carcavelos. Sua partida foi marcada pela tristeza e promessa de retorno.


De volta ao Brasil, Limoeiro trouxe uma certeza na bagagem. Com a esposa e o primeiro filho, planejou sua mudança para Portugal. Lá, montou sua primeira fábrica internacional, mas conviveu duramente com a sazonalidade e aproveitando as oscilações do câmbio brasileiro, voltou ao Brasil para recomeçar a vida na terra natal. Em 1984, após retornar ao País natal, Limoeiro registrou a marca Seven Seas Surfboards e passou a patrocinar surfistas de expressão nacional e internacional, como Jair de Oliveira e Renato Wanderley, seguindo sua trajetória de sucesso.


Limoeiro está próximo de completar meio século como shaper. Uma vida de muita gratidão e aprendizado. Seus três filhos experimentaram o surfe e têm uma forte relação com o mar. Christian é sargento do Corpo de Bombeiros em frente à Urubuqueçaba. O segundo filho, Patrick, mostrou-se bastante habilidoso sobre a prancha. Richard, por fim, seguiu seu legado em terras estrangeiras como professor de surfe em Portugal.


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