Luz de outono

Estou escrevendo esta crônica de frente para janela e o vento que entra por ela vem fresquinho, com aroma de mar

Por: Fernanda Lopes  -  06/04/24  -  06:35
  Foto: Pixabay

Estou escrevendo esta crônica de frente para janela e o vento que entra por ela vem fresquinho, com aroma de mar, sem deixar dúvida de que o verão se despediu. Nada de ar quente sendo soprado como se viesse direto de um caldeirão fumegante. E o céu azul-anil, sem nenhuma nuvem, é uma das coisas de que mais gosto no outono. A luz parece diferente nesta época. Tudo é mais vibrante. E já ouvi especialistas explicando que não é só impressão. É real. O tempo seco contribui para que haja menos material particulado no ar, deixando as cores mais intensas.


O outono chegou que nem percebi. Quase um quarto do ano já se foi e eu ainda sinto o gosto do tender do Natal. Deve ser por isso que existe a expressão outono da vida, aquela época em que você já completou muitas primaveras e ainda não chegou em tempos invernais.


Bem, me parece, de qualquer forma, minha estação preferida. É um convite a sair de casa, sentir o outono com todos os sentidos. No perfume do ar, na brisa no rosto, no som dos pássaros que parecem também mais felizes.


E andando a gente percebe as folhas ganhando um tom terroso, que fica perfeito com o azul do céu, como uma tela de artista que, na verdade, se inspirou na paisagem.


Se lá no Hemisfério Norte a festa é para a primavera, eu já escrevi nesse espaço e repito, aqui deveríamos comemorar o outono. Ele traz também uma calmaria, como se agora a gente pudesse desacelerar das aventuras do verão e só contemplar.


Será que a idade combina com a estação? Quando mais jovens, dezembro e seu calorão é aguardado com ansiedade. O tempo passa, as primaveras também, e a gente (pelo menos eu) vai cada vez mais querendo o ameno, sem arrojos ou exageros.


Nessa época também começam a florescer os ipês. Roxos e amarelos dão aquele contraste aos tons mais quentes e terrosos que dominam a paisagem.


Não sei se vocês já estiveram em alguma cidade do cerrado brasileiro, mas lá parece que é outono o ano todo. A luz tem um efeito que põe lente de aumento no que é belo. Sem falar na emoção de ver de pertinho, em seu habitat, araras, tucanos, papagaios... E, geralmente, estão em casal. Fiquei sabendo, em uma dessas viagens, que essas aves são monogâmicas e por isso são observadas em pares.


Uma das cidades mais charmosas e belas que fui chama-se Pirenópolis. Fica no meio do caminho de Goiânia e Brasília e, por isso, é um refúgio turístico bem disputado. Cachoeiras, trilhas, montanhas de pedras, fazendas e uma avifauna belíssima dividem espaço com um centrinho histórico charmoso e ainda uma rua gastronômica. O local é patrimônio tombado e conta um importante pedaço da história de Goiás, dos tropeiros e da formação do Centro-Oeste.


Há também uma atmosfera mística no lugar. Comunidades alternativas acreditam que há uma energia especial ali, com alinhamento das pedras. O nome Pirenópolis vem de Cidade dos Pirineus, porque a cidade é cercada por formações rochosas remetendo aos Pirineus na Europa.


Também tem o fato de a região estar entre os paralelos 14 S e 16 S, seguindo as linhas imaginárias do plano equatorial terrestre. As coordenadas – que também passam pela mítica Machu Picchu, no Peru – são consideradas por esotéricos como indicadores dos locais que menos seriam atingidos pelas intempéries do fim do mundo. Outro ponto é que a cidade é rica em cristais, apontados como potentes catalisadores de energias.


Mesmo para quem não acredita em nada disso, o local é um destino que equilibra. Por suas paisagens, pela preservação de seus casarios antigos, pelo empadão goiano e pela luz de outono.


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