Fernanda Lopes: O Brasil do Brasil com pavulagem e calabresos

Estou passando por uma abstinência de BBB

Por: Fernanda Lopes  -  20/04/24  -  06:53
  Foto: Reprodução/Rede Globo

Estou passando por uma abstinência de BBB. Já falei aqui que esta foi a primeira edição a que realmente assisti e viciei. Nos outros 23 anos, via sem muita frequência e não acompanhava essa verdadeira novela cheia de reviravoltas, tretas, romances, amizades, festas e, claro, publis.


E dessa vez os merchans foram turbinados por uma participante que é uma publi ambulante e já entrou até com um bordão. Podem criticar a Beatriz, mas não há dúvida do potencial de venda dela. Quem já entra na casa com um bordão pronto e que dá certo? Não tem quem não tenha escutado ou repetido a frase “É o Brasil do Brasil”. Sim, o Gil do Vigor também tinha seus bordões, mas ela criou mais do que uma palavra. Criou um conceito.


Até seus exageros acabaram funcionando para o programa, porque era enredo. Aliás, enredo não faltou nessa edição. Em praticamente todos, o campeão Davi estava envolvido. Gostando dele ou não, é fato que ele foi o protagonista. Seu sonho de ser doutor, suas mesas postas, bolos confeitados, obstinação, embates, cantorias e isolamento pelos camarotes renderam muita audiência e conversa aqui fora.


Os recortes nas redes sociais turbinaram a viralização de tudo o que acontecia ali. Dos sincerões às festas. Mesmo quem não assistiu, acabou acompanhando por meio dos perfis. O Globoplay foi outro fenômeno. Teve um crescimento de 56% em horas consumidas e um aumento de 42% no alcance de usuários em relação ao BBB 23.


Esta edição bombou e continua reverberando. Os finalistas e até os eliminados lá no comecinho seguem fazendo sucesso e acumulando milhões de seguidores. Participam de desfiles da SPFW, de programas, e reúnem fãs famosos, como cantores e atores que passaram a segui-los nas redes.


Claro, o campeão Davi é o queridinho dos artistas. Ganhou admiradores de norte a sul. Mas Isabelle, por exemplo, com o destaque que deu à cultura amazônica, acabou sendo considerada uma embaixadora da floresta. Até o governador do Amazonas fez campanha para a conterrânea.


A cunhã, como ficou conhecida, conseguiu a proeza de juntar os bois Garantido e Caprichoso, cuja rivalidade extrapola um Fla-Flu. Para se ter uma ideia, a Coca Cola muda sua cor para o azul nos outdoors da arquibancada do Capichoso, já que vermelho, como vimos nesses 100 dias, é a cor do Garantido, o boi da Isa, a Bela, como diz sua música-tema.


E o Matteus, seu par romântico na reta final, ganhou até cavalos crioulos, emblemáticos no Rio Grande do Sul, do diretor Jayme Monjardim. “Você merece muito isso, Matteus, porque você colocou o cavalo crioulo no teu coração”, disse o diretor. Assim como Isabelle fez com o Amazonas e Alane, com o Pará, o bom moço Matteus enalteceu a cultura gaúcha da sua cidade Alegrete (que agora todos conhecem).


A rainha das publis trouxe a luta dos camelôs, com direito à festa temática. Foi, sem dúvida, uma edição que exibiu um mosaico coloridíssimo de Brasil, escancarando também atitudes e falas racistas, machistas e capacitistas que, infelizmente, ainda fazem parte da nossa realidade .


Foram muitos sotaques, incluindo o ‘Sô’ mineiro do Michel, o ‘Se liga’ paulista do MC Binn, e o ‘Psiu’ do baiano Davi. A casa lançou palavras desconhecidas por uns e tão comuns para outros, dependendo do CEP que mora. Teve até uma resenha se o certo era goteira ou pingueira, como chamam nortistas e nordestinos. Mas, calma, calabresos, curumins, lobas e sereias: não precisa de pavulagem que o banzeiro já passou! Será que demora ‘muitcho’ (como diria a Pitel) para chegar o BBB25 e a gente poder ver mais um pouco desse Brasil do Brasil?


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter