Fernanda Lopes: Hábitos que vêm de longe

Eu sei que é a vigésima quarta edição, mas esta é a primeira vez que acompanho mais assiduamente o BBB

Por: Fernanda Lopes  -  27/01/24  -  06:35
  Foto: Reprodução/Rede Globo

Eu sei que é a vigésima quarta edição, mas esta é a primeira vez que acompanho mais assiduamente o BBB. Talvez porque agora não precise de pay per view. Basta ter Globoplay para entrar e espiar. Não consigo, diante das demandas do dia, ficar grudada, de olho em tudo o que acontece, mas diante da enxurrada de recortes de cenas nas redes sociais, é quase impossível não acompanhar.


No reality, alguns hábitos arraigados quando o assunto é alimentação têm chamado a atenção. Viralizou, e eu até compartilhei no meu Instagram, um vídeo do Davi, que se elegeu o cozinheiro da casa, lavando peito de frango dentro da pia. Eram tantos problemas na cena que me deu até nervoso.


Ele ficou uns cinco minutos esfregando o frango sob a água torrencial da torneira. Na cozinha, o pecado por excesso pode ser tão prejudicial como por omissão. Ao tentar higienizar os alimentos antes de cozinhá-los, algumas práticas podem acabar aumentando os riscos de contaminação. É o caso do frango, cujas bactérias podem contaminar outros objetos da cozinha durante o preparo.


Os respingos da água que tocou no frango tocam em utensílios como facas, garfos, copos e pratos, que já estão limpos, e também nas superfícies da cozinha e até em alimentos, como frutas e outros, que serão consumidos crus. E o frango pode ter muitas bactérias, como é o caso da salmonela, altamente contaminantes. E tudo que ele respingou só seria esterilizado utilizando água sanitária ou com temperaturas acima de 85ºC, o que não acontece no uso cotidiano na cozinha. Assim, o risco de contaminação cruzada das bactérias oriundas da lavagem do frango cru é bem alto.


Basta comprar um franguinho de boa qualidade e fazer um temperinho gostoso de limão, sal, ervas, lemon pepper, especiarias, alho, páprica, enfim, o que gostar. Depois, cozinhar, fritar, assar etc... Nada de frango mal passado.


Dá para perceber que o Davi gosta de cozinhar e ele sabe, fez um polêmico e bonito bolo de frutas, que parecia ótimo, e prepara cafés da manhã dignos de hotel para os confinados reclamões.


Ele e outros da casa têm costumes que são difíceis de serem mudados. Vêm de família, de aprender com a mãe, a avó. Mas são ultrapassados, como lavar o arroz. Antigamente, a gente precisava mesmo higienizar os grãos. Existia até escorredor de arroz, item indispensável em todas as listas de chá de cozinha e inventado por uma brasileira. Porém, isso foi há muito tempo, quando era preciso remover poeira, insetos, pedrinhas e pedaços de casca que sobravam do processamento do grão. Hoje, o processamento é meticuloso na indústria nacional.


O arroz agulhinha polido, tipo 1, usado para acompanhar o feijão nosso de cada dia, não precisa e não deve ser lavado, caso você queira um arroz soltinho. Quando é lavado, o amido do cereal solta e pode deixar o arroz empapado, grudado. Se for esse o objetivo, vá em frente. Lavar também pode tirar nutrientes. Aí você vai me dizer: “Mas quando eu lavo, a água sai branca”. Isso é do polimento do arroz, na hora de tirar a casca. Não é sujeira. Mas é difícil demais mudar hábitos.


Eu me diverti com os memes da Yasmin Brunet usando, no que parecia ser a primeira vez na vida, uma sanduicheira. Daquelas antigas e muito práticas, que a gente põe o pão de forma dentro e coloca diretamente na boca do fogão. Ao invés dela virar a sanduicheira para dourar dos dois lados, Yasmin abriu e virou o pão. Claro, viralizou. Nos comentários, fiquei pasma, pois um monte de gente faz o mesmo. Subverteram o objetivo do acessório.


Estou gostando de ver que os confinados têm consumido poucos processados, excetuando o pão de forma, frios e o leite condensado, que, aliás, em todo BBB rende briga. Brasileiro não resiste a uma lata de Leite Moça. Acho que é o país que mais o consome no mundo, o que inclusive nos distanciou de alguns doces mais saudáveis e tradicionais, como os de fruta no tacho: goiabada, bananada... Temos tantas frutas nativas que deveríamos comer mais compotas, geleias e cremes com elas.


Vocês me desculpem se pensavam que eu iria falar do egocentrismo do Rodriguinho, do humor ácido da Pitel, da personalidade do Davi ou da autenticidade da Beatriz. É que tudo pode ser único e interessante de acordo com o observador. O olhar de cada um tem o poder de modificar até o fato observado. E procurar um novo viés, ainda mais de rotina alimentar, é o que me instiga.


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