Baile de emoções

Ao entrar no salão da Sociedade Humanitária de Santos, a impressão é de ter atravessado a fronteira do tempo

Por: Fernanda Lopes  -  20/01/24  -  06:30
Atualizado em 21/01/24 - 17:11
  Foto: Fernanda Lopes/AT

Ao entrar no imponente salão da Sociedade Humanitária de Santos, a impressão é de ter atravessado a fronteira do tempo, com passaporte para imaginar as muitas histórias contadas por seu pé direito altíssimo, pelos detalhes adornados minuciosamente nas paredes imponentes e pelo ar de nostalgia que entra através dos muitos janelões, arredondados, em madeira legítima, sem esconder que vêm de outra época.


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Uma época em que a música entoava ao vivo para todos dançarem e rodopiarem em icônicos bailes, que juntaram e separaram muitos casais. Meu avô Wilson era um verdadeiro pé-de-valsa e batia cartão nos salões da Humanitária. Minha avó nunca foi de festa e, invariavelmente, não o acompanhava. Ele mesmo contava que era disputado, já que havia mais mulheres do que homens.


Soube, durante esta minha visita, que os bailes continuam a acontecer e com lotação máxima. Há tantos detalhes no salão. Adornos delicados pintados de dourado se destacam aqui e ali e compõem um visual imponente junto com o piso de taco restaurado e os lustres em formato de globo, no melhor estilo art decó. O pé direito é tão alto que há uma espécie de passarela rodeando todo o ambiente, como uma frisa para acompanhar o movimento da pista de dança com uma vista privilegiada.


Um cenário que transcende e nos transporta para um tempo de homens de terno e mulheres com vestidos tubinho e belos chapéus.


Fiquei feliz em saber que casais ainda rodopiam por aquele salão. Senti um conforto por algo do passado ainda permanecer intocado. Nesse mundo de mudanças tão rápidas e de tudo tão passageiro é um respiro bem-vindo saber que algo não mudou.


Eu mesma nunca fui em um baile desses, sou mais de uma noite de rock ou até de pagode e certamente não herdei os talentos de dança do meu avô, mas estar ali foi como receber uma certa dose de energia ancestral.


Quando meus avós contavam das suas ‘baladas’ eu era uma criança ou adolescente que não sabia de nada. Nada do que fui saber depois. De que deveria ter ouvido mais deles, com menos pressa e mais interesse. Conhecido mais histórias dos meus avós, dos meus pais e de outros que se foram e deixaram bem mais do que uma lacuna nas fotos. Deixaram um buraco que talvez se preenchesse melhor com mais lembranças, com mais das peças que formaram suas vidas, por mais de suas risadas, por mais das músicas que dançaram... Estar ali onde pessoas que fazem parte de mim passaram bons momentos e ser transportada por toda a atmosfera de um século de memórias colocou mais uma pecinha nesse espaço vazio.


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