Na marca implacável do tempo

A voz do Manduca se calou, mas suas histórias vão ficar para sempre

Por: Eduardo Silva  -  26/07/20  -  18:04
Atualizado em 19/04/21 - 18:44
 Armando Gomes faleceu neste domingo, aos 77 anos
Armando Gomes faleceu neste domingo, aos 77 anos   Foto: Reprodução/Facebook

Armando Gomes foi radialista e jornalista, mas eu sempre disse aos amigos de profissão e aos próprios colegas do Armando que ele era um artista. Isso mesmo: um artista do microfone. Com ele na mão fez história no rádio. Foi repórter, comentarista e narrador dos bons. Criou um estilo e um bordão inesquecível na hora de falar do tempo do jogo que transmitia: "O destino da bola na marca implacável do tempo". Trabalhou em todas as emissoras de rádio de Santos e foi levado para São Paulo por outro santista apaixonado como ele, o Peirão de Castro. Na Rádio e Tv Gazeta se orgulhava de ter trabalhado com celebridades da TV, como Milton Peruzzi, Zé Italiano, Geraldo Blota e Geraldo Bretas, além do próprio Peirão.


Armando voltou para a Baixada Santista e ficou a Rádio A Tribuna onde também fez história.Mas curiosamente foi na TV, começando na Litoral e depois na Santa Cecília TV que uma legião de jovens começou a acompanhá-lo.Durante um bom tempo garotos da faculdade pediam para ir ao Programa Esporte por Esporte para ver de perto aquele apresentador carismático e polêmico.


Com inteligência e irreverência ele cativava os santistas e provocava os adversários, principalmente, os corintianos. Armando seguia o que aprendeu com ídolos da vida dele, como Ernani Franco, considerado o maior locutor esportivo de Santos. Armando chamava Ernani de "professor". A convivência com Ernani e com os mestres da Gazeta deram a Manduca a receita de um programa de sucesso. Juntou seu lado polêmico e a audiência estava garantida. Você poderia concordar ou discordar do Armando, mas era impossível ignorar suas opiniões. Também lançou muitos talentos e incentivou muitos esportistas.


É difícil escrever sobre uma pessoa que você acompanha a vida inteira. Eu era ouvinte da Rádio Cacique já nos anos 70. Ouvir o Armando, os também saudosos Orlando José e Leonardo Augusto e o Paulo Roberto Martins, atualmente na Tv Bandeirantes. Era um hábito diário. Cheguei a ir no estúdio da Cacique, no Centro de Santos, só pra ver esses grandes radialistas. Mas um funcionário da emissora me colocou pra correr pelas escadarias do prédio da rádio. Mas ainda bem que antes do susto eu vi o Armando, o Paulo Roberto e o Orlando José no estúdio. Foram minutos mágicos que me deram a certeza que eu queria fazer parte daquele mundo. Devo isso também ao Armando e outros ídolos. A voz do Manduca se calou, mas suas histórias vão ficar para sempre na marca implacável do tempo.


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