Histórias do Carnaval: Eterno mestre-sala

Nesta coluna, as trajetórias do mestre-sala Jadir Muniz de Souza e da rainha Lezir Ferreira

Por: Eduardo Silva  -  01/02/23  -  06:46
O time do canalsambabrasil.com
O time do canalsambabrasil.com   Foto: Divulgação

ALÔ, POVO DO SAMBA.Quem gosta de conhecer os bastidores do carnaval pode seguir o site, que traz entrevistas e curiosidades com todos os eventos que antecedem o desfile oficial. A equipe é formada por Nei Sposito, responsável pelas imagens e pela edição, Izildo Santos Pereira, nas reportagens, e Marcelo Guedes, na coordenação do site.


Clique, assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe centenas de benefícios!


Eterno mestre-sala


Ele nasceu no samba. Jadir Muniz de Souza fez história nos desfiles de carnaval de Santos. Durante 19 anos foi o mestre-sala da pioneira X-9 substituindo o ídolo dele, o saudoso Nahum Caetano. Ainda desfilou um ano pela Mocidade Amazonense, de Guarujá. Filho do Marechal do Samba, J. Muniz Jr, desde os 4 anos Jadir ia para o Rio de Janeiro e acompanhava o pai e a mãe Marli pelas quadras da Mangueira, Salgueiro, Império Serrano e Portela.


O menino Jadir teve a sorte de presenciar as conversas do pai com Cartola e Mano Décio da Viola. Nessas visitas também era comum encontrar Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Tia Zica (mulher do Cartola) e Tia Neuma.


“Eu aprendi muito com essas idas às quadras do Rio de Janeiro. E desde muito cedo, meu pai conta que nos ensaios eu já me encantava com a apresentação dos mestres-sala. Na época eles se apresentavam com um lencinho na mão, e meu pai lembra que eu pegava qualquer saquinho de pipoca e ficava imitando os mestres. Aí foi a minha grande paixão”.


Jadir Muniz de Souza foi mestre-sala da X-9 durante 19 anos
Jadir Muniz de Souza foi mestre-sala da X-9 durante 19 anos   Foto: Matheus Tagé/AT

Fã do notável dançarino, o Mestre Delegado, da Mangueira, e da histórica porta-bandeira Vilma Nascimento, da Portela, Jadir tinha mesmo que brilhar na passarela do samba. Além de frequentar as quadras cariocas e vivenciar momentos históricos da X-9, em pleno Macuco, Jadir ainda guarda, com muito carinho as histórias contadas pelo pai, J. Muniz o maior conhecedor do samba santista.


“Ele me contou o dia que a X-9 se apresentou no Rio de Janeiro. Pela amizade do meu pai com o Natalino José do Nascimento, o grande Natal da Portela, a X-9 desfilou no Rio em maio de 1968, no bairro do Méier. Vila Isabel, Portela, Império Serrano, Salgueiro e a X-9 estava lá no meio. Foi a grande oportunidade a X-9 mostrar o seu valor aos grandes do Rio”.


Jadir lembra de outro momento inesquecível deste dia. “meu pai também falou que o famoso dançarino Delegado da Mangueira fez questão de levar o casal da X-9, Nahum Caetano, o Magnífico, e Cida, a Soberana para apresentar o pavilhão da X-9 ao governador Negrão de Lima que estava no palanque oficial”.


Jadir seguiu os passos do mestre Nahum e se tornou o “príncipe dos mestres-sala. “Eu tive várias parceiras e tive grandes momentos com todas elas: Vera, a Divina; Valéria, a Graciosa, cheguei a realizar o sonho de me apresentar com Cida, a Soberana, nos 50 anos da X-9. Dei uma parada, depois de alguns anos voltei e desfilei com Josy, a sublime”.


Jadir Muniz de Souza é embaixador do samba e faz parte do restrito quatro do Estado Maior do samba, maior honraria do carnaval santista. É professor de educação física, escritor com dois livros publicados: Mestre-sala e porta-bandeira, uma reverência a nobreza do samba. E O Imperador do samba. A história de Drauzio da Cruz. Ele se emociona ao falar do carnaval.


“O sambista se torna o ator principal de uma peça. Onde existe aquela igualdade social. Aquela oportunidade da pessoa humilde que pode se tornar grandiosa. É um momento de sonho. De alegria. De esquecer das dificuldades. Fico até emocionado porque ali no desfile você pode ser o que quiser. Ali eu podia ser um príncipe e me sentir numa realeza”.


Colecionadora de títulos, Lezir Ferreira nasceu para ser rainha do Carnaval
Colecionadora de títulos, Lezir Ferreira nasceu para ser rainha do Carnaval   Foto: Matheus Tagé/AT

A Rainha


Lezir Ferreira nasceu para ser rainha do Carnaval. É só conferir quantos títulos ela coleciona mesmo sem tanto tempo de desfiles. Tudo começou em 2011, com um convite da escola de samba Dragões do Castelo. Daí para a frente, Lezir reinou nas passarelas de Carnaval da Baixada Santista.


Sempre com muito carisma e samba no pé, ela se tornou uma das sambistas mais respeitadas no Litoral. Lezir dançava axé. Num certo dia, no mesmo evento, houve um concurso de Carnaval na Banda da Tia Bola, em São Vicente. Depois desse dia, Lezir passou a participar de concursos de blocos e bandas da Zona Noroeste. Ela foi convidada por Vanessa Wonsuit para assumir o posto de rainha de bateria da escola Dragões do Castelo. Descoberta pelo mundo do samba, não demorou para se encantar com as quadras, os ensaios, apresentações e desfiles.


“Não tenho tanto tempo de samba, não. Como minha família não era desse meio, eu não sou cria do Carnaval”. Lezir ficou dois anos na Dragões, quando recebeu um convite para desfilar na Mocidade Amazonense. Ela não aceitou, mas o chamado se repetiu e, depois de uma visita à quadra da agremiação de Guarujá, ela não resistiu.


“Fui apresentada à presidente Sandra Oliveira e, dias depois, ela me convidou para ser rainha da bateria Feitiço da Ilha”. Lezir desfilou pela Verde e Branco de 2013 a 2016. Nesse período, também brilhou em outros ares. Foi segunda princesa de Cubatão em 2014, rainha do Carnaval de Guarujá em 2015 e, em 2016, assumiu a coroa da Corte Carnavalesca de Santos. “Foi quando eu saí da Amazonense e fui convidada pela presidente Sandra Franco para ir para a escola de samba Brasil, para ser a rainha da bateria Feitiço Brasileiro”.


Como as demais rainhas de bateria, Lezir nunca mais parou desde que virou rainha da primeira vez. Ela também subiu a Serra para concorrer à Corte de Carnaval da Uesp, que reúne as representantes do Grupo de Acesso e foi princesa do samba. Em 2018, foi eleita rainha de São Vicente. “O Carnaval, para mim, é alegria. É conectar pessoas com alegria, paz e união.”


Lezir não esconde a satisfação de participar dessa festa popular. “Reinar na bateria é só a cereja do bolo. O bolo é a bateria, e a rainha, apenas uma cerejinha”. Apesar do sorriso aberto e da simpatia, ela fala sério sobre outro tema. “Rainha de bateria deveria ser um quesito no desfile oficial. Deveria entrar em julgamento, porque ela tem uma representatividade no enredo”.


Lezir é funcionária púbica e microempreendedora na área de estética. Ama o Carnaval e não se vê longe da passarela. “Eu sou muito orgulhosa de ser rainha no Carnaval, porque tem que ter muito amor. Se o Carnaval é só em fevereiro, você precisa estar pronta o ano inteiro. Não pode se descuidar. Eu amo fazer parte de tudo isso. Amo fazer parte da bateria, porque sou uma componente também. Eles mostram musicalidade, e eu mostro samba nos pés. Essa junção é maravilhosa.”


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter