Histórias do Carnaval de Santos

Nesta coluna, uma exposição em homenagem ao Carnaval santista, Nísio Lemos e a rainha Muriel Quixaba

Por: Eduardo Silva  -  05/02/23  -  06:30
Câmara abre nesta segunda (6) exposição em homenagem ao Carnaval santista
Câmara abre nesta segunda (6) exposição em homenagem ao Carnaval santista   Foto: Divulgação

ALÔ, POVO DO SAMBA.Quem gosta de Carnaval tem um programa muito legal a partir desta segunda (6), às 8 horas. A Câmara Municipal de Santos e a Secretaria Municipal de Cultura vão abrir uma exposição em homenagem à história do Carnaval santista. A mostra conta com dez painéis, com material cedido pela Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams), e reúne fantasias, fotos, placas e troféus que relembram grandes momentos dos desfiles oficiais de Santos. O presidente da Câmara de Santos, Cacá Teixeira (PSDB), chanceler do samba, foi presidente da X-9 e é um grande incentivador do Carnaval na Cidade. A mostra na Câmara Municipal de Santos fica na Praça Tenente Mauro Batista, 1, na Vila Nova, e pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 8 às 18 horas, até 28 de fevereiro. A entrada é gratuita.


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A voz do Carnaval


Quem acompanha o Carnaval santista há muito tempo conhece o radialista que fez histórias em transmissões inesquecíveis do rádio do Litoral Paulista. Nísio Lemos é carioca do Engenho Novo e se encantou com o samba desde a infância com a pequena Escola Unidos da Matriz, ainda no Rio de Janeiro. No próprio bairro, aprendeu tocar atabaque com apenas 12 anos de idade.


Cheio de sonhos, Nísio pegou um trem e veio para Santos tentar ser jogador de futebol. Até treinou como meio-campista nas categorias de base do Santos Futebol Clube e chegou a disputar amistosos com jogadores que tinham estourado a idade. Voltou para o Rio de Janeiro e depois dos primeiros serviços profissionais na Cidade Maravilhosa foi trabalhar na Rádio Relógio federal. Depois, se encontrou na Rádio Carioca, grande sucesso no rádio do Rio nos anos 1960, mas em pouco tempo estava de volta para a Baixada Santista.


Se o futebol não virou profissão, serviu de ponte para arrumar um emprego. Num torneio entre rádios, na Vila Belmiro, Nísio foi defender a Rádio Cultura. Conheceu vários radialistas e ganhou uma chance para trabalhar na emissora. Daí para frente, se tornou um dos nomes mais importantes do nosso rádio. Com uma voz linda, inteligente e muito versátil, se destacou num período em que o rádio de Santos tinha profissionais de alto nível e reconhecidos até na Capital Paulista.


Naquela época, para entrar no rádio era preciso ter uma voz potente e uma dicção perfeita. Quem orientou bastante o Nísio foi o locutor carioca Edson Fernando, que também trabalhou em Santos. “Ele me ensinou muito. Como colocar a voz no microfone. A dicção e tudo que era importante para o meu crescimento. Aproveitei muitas dicas e segui em frente”.


Depois da Cultura, Nísio Lemos esteve nas rádios Clube, Cacique, Guarujá, A Tribuna AM e Atlântica. Entre uma emissora e outra, foi se destacando pelo talento e pela maneira fácil de se adaptar a diferentes funções: “Apresentei programas musicais, fui locutor noticiarista, comercial e narrei futebol. Isso me deu base para encarar qualquer desafio”.


A história de Nísio Lemos é tão rica que deveria ser contada num livro, mas como a coluna é de Carnaval, vamos destacar mais esse período em que ele comandou as transmissões. “Eu sempre gostei de Carnaval desde criança no Rio de Janeiro, mas quando cheguei em São Paulo estranhei as transmissões. Fui me preparando para implantar um sistema de apresentação do desfile, que era baseado num jogo de futebol. Valorizando todo o espetáculo. Num dia de Carnaval, eu estava escalado como repórter, o locutor principal ficou sem voz e daí surgiu a minha oportunidade”.


Carioca de nascença, Nísio Lemos virou santista por adoção e a voz do Carnaval santista
Carioca de nascença, Nísio Lemos virou santista por adoção e a voz do Carnaval santista   Foto: Divulgação

Nísio já tinha tudo na cabeça. Queria uma transmissão que valorizasse a escola e o seu enredo. “Eu queria destacar as alas, fantasias, cores e o enredo e para isso sugeri que as emissoras convidassem profissionais de outras áreas que colaborassem com o nosso trabalho”. Nísio Lemos marcou épocas em transmissões das rádios Atlântica e A Tribuna AM.


Trabalhou com ótimos profissionais em quase 20 anos de avenida. Um deles foi Sérgio de Oliveira, naqueles tempos, o famoso repórter da Vila, porque cobria o Santos na Equipe Fórmula 1, comandada por Walter Dias. “O Nísio era sensacional. Um dos grandes nomes do rádio santista em todos os tempos e tinha um jeito especial de narrar o Carnaval”. Nísio retribui: “O Sérgio, além de conhecer todos os sambistas, todas as escolas, tinha muita versatilidade”.


A experiência do locutor passou os limites das cabines de rádio. E no período entre 1993 até 1996, ele foi o locutor oficial dos desfiles e produtor cultural. Ao lado de grandes profissionais do Carnaval, teve papel importante na organização de vários eventos. ‘Tive a sorte de trabalhar com muita gente competente que comandou os eventos carnavalescos em Santos, como o Marco Aurélio, o Marcão, entre tantos outros”. Nísio lembra com saudade desses tempos do Carnaval santista.


“Eu fiz o melhor possível, como locutor e produtor cultural. Acho que dei a minha colaboração. Tudo com muito profissionalismo, amor e dedicação”. Com certeza, caro Nísio Lemos, você emprestou seu talento e prestígio e o Carnaval de Santos só pode te agradecer.


A Rainha


Muriel Quixaba estará à frente da bateria Ritmo Santástico da Sangue Jovem
Muriel Quixaba estará à frente da bateria Ritmo Santástico da Sangue Jovem   Foto: Divulgação

Uma rainha de Carnaval em jornada dupla. Assim é Muriel Quixaba. Ela vai estar à frente da bateria Ritmo Santástico da Sangue Jovem e da bateria Qualidade especial da Acadêmicos do Tatuapé. Muriel descobriu o Carnaval de mãos dadas com a mãe que a levava pelos desfiles do Jardim Iracema. O nome da primeira escola já dava mostras da afinidade que viria pela frente.


“Aos 3 anos de idade, com as dificuldades da época, minha mãe improvisava a minha fantasia com papel crepom e vidrilho. Imagina quando suava?” (risos) Depois, a Rosas de Ouro apareceu na vida dela. “Era a escola mais próxima da minha casa e fiquei nela por vários anos”. A paixão de Muriel pelo samba só foi crescendo. Ela tem orgulho de lembrar que já fez de tudo nos desfiles: “De passista até a ala de apoio, quando cheguei a empurrar carro alegórico”.


Com o passar do tempo, ela se envolvia mais e mais com o Carnaval e queria disputar o concurso da Corte Carnavalesca da União das Escolas de Samba de São Paulo (Uesp), grupo de acesso de São Paulo. Indicada para a Colorado do Brás, em 2016 ela virou madrinha de bateria. Um ano depois, já era rainha.


“Foi até uma surpresa quando fui convidada, mas foi uma identificação imediata. Me abraçaram superbem. Eu sou uma rainha não só pra colocar a faixa e a coroa. Eu gosto de me integrar à escola. Curto ajudar nas fantasias, no barracão”.


Em 2020, a Sangue Jovem apareceu na vida de Muriel. “A Suê, que é atual madrinha da bateria da Sangue Jovem e desfilou comigo na Colorado do Brás, me indicou para o mestre da bateria Ritmo Santástico, Ronaldo Balio”. Muriel já conhecia as histórias da escola e do Carnaval santista: “Nós conversamos, ele me contou mais da Sangue Jovem e eu gostei muito da conversa”.


Logo, ele fez o convite para a futura rainha. “Eu não pensei duas vezes. Aceitei de primeira porque a galera da Sangue Jovem é muito diferente. Uma turma muito acolhedora. E eles me receberam de braços abertos”.


Nesta semana, ela vai estar na Passarela Dráuzio da Cruz para defender a Sangue Jovem. Na outra semana, no Anhembi, vai reinar à frente da bateria da Acadêmicos do Tatuapé. “É uma loucura tremenda, mas quando a gente realmente ama o samba, sempre dá um jeitinho. Minha coroa não me faz diferente de ninguém. Eu quero mesmo é estar junto com os passistas. Com a harmonia. Estou feliz da vida, tanto por desfilar em São Paulo como em Santos. E espero continuar na Sangue por bons Carnavais como rainha de bateria”.


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