Histórias do Carnaval: Cidadão e cidadã samba de Santos, Jacaré e Mestre Daniel

Veja quem está nos bastidores do Carnaval santista e dos que vão se apresentar na Passarela do Samba Dráuzio da Cruz

Por: Eduardo Silva  -  17/01/24  -  02:00
  Ricardo Reis, o Jacaré, o intérprete da Mocidade Amazonense, de Guarujá
Ricardo Reis, o Jacaré, o intérprete da Mocidade Amazonense, de Guarujá   Foto: Fernando Godoy/Divulgação

“É muito nervosismo. É emoção à flor da pele, mas tem que entrar concentrado, né? Dá vontade de chorar na hora de entrar na avenida, mas tem que segurar, porque, apesar do nó na garganta, é preciso soltar a voz”. Ricardo Reis, o Jacaré, o intérprete da Mocidade Amazonense, de Guarujá, define assim o momento de entrar na avenida para defender a escola do coração. Ele tem 50 anos de idade é e músico de profissão.


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“Eu comecei na Mocidade Amazonense em 1981. Iniciei como ritmista, tocando chocalho. Depois, reco-reco, caixa, surdo, tamborim. Só não fui para a cuíca”. Após vários anos na bateria, Jacaré passou para o time de canto da escola em 2006. Pouco tempo depois, assumiu o microfone do carro de som da Amazonense.


“Cheguei a cantar com João Carlos Malaca e Edmar Guiã. Fui aprendendo com todos, mas aprendi também com o saudoso Lambari.” Jacaré só tem gratidão pelo Feitiço da ilha. “É inexplicável. É uma paixão ser Amazonense. É uma paixão bem forte, e aprendi muito aqui. Como músico, cantor, aprendi tudo lá dentro. Tenho muita gratidão pela minha escola.”


Conversar com Marcos de Brito Silva e Tereza Cristina Pereira Félix, eleitos cidadão e cidadã samba do Carnaval santista de 2024, é ouvir muito sobre o amor pelo mundo do samba e pelo universo dos desfiles oficiais. A história destes dois sambistas viaja pelas escolas da Baixada Santista.


De Brito começou na ala das crianças da Mocidade Independente de Padre Paulo. E Tereza Cristina, aos 7 anos, se encantou com o som de uma batucada e nunca mais o esqueceu. Depois do início na Padre Paulo, De Brito foi convidado pela Unidos da Zona Noroeste e, com o incentivo do saudoso Mestre Benê, começou a realizar o sonho de ser mestre-sala. Após dois anos na escola da ZN, foi convidado por Tia Isaurinha para ser o segundo mestre-sala da Campeoníssima. “Meu ídolo Chocolate formava o casal com a Lídia Aparecida, a Majestosa. Eles encantaram várias gerações”. Com o passar do tempo, “não posso esquecer do Paulo Sérgio Nunes e da Dona Irene, porta-bandeira”.


Tereza Cristina tinha o DNA do samba. É herdeira de Eurípedes Adão Ribeiro, o Mestre Lourinho, que foi cidadão samba na década de 1980 e mestre de bateria da Brasil. “Foi aos 15 anos, frequentando o sambão da X-9 na antiga quadra do Canal 4, que eu descobri a minha escola do coração”. Era o auge da Pioneira, com visitantes de São Paulo que desciam a Serra para ver o sucesso da escola. “O Cabo Roque (fundador da X-9) ainda frequentava a quadra.”


De Brito e Tereza Cristina são movidos pela paixão pelo samba e pelo Carnaval e, por isso, nunca pararam. Atuaram em muitas funções em defesa de vários pavilhões. O novo cidadão samba sempre quis ser mestre-sala, e hoje ele é O Notável. Apesar dessa paixão, ele já fez de tudo um pouco para ajudar as escolas que defendeu. “Eu sempre sonhei em ser cidadão-samba e, na terceira tentativa, consegui. (...) É tudo pra mim. Representa a minha história.”


Tereza também é muito versátil. Já foi do Balé Afro-Vargas, saiu na frente de bateria, atuou como coreógrafa de comissão de frente e se formou jurada desse quesito. Esteve também em várias escolas, e nos últimos tempos cuida dos mestres-salas e porta-bandeiras, primeiro como apresentadora e, depois, como coordenadora de casal. Ela também falou dessa realização. “Sonho com isso há cinco anos. Ia concorrer uma vez, mas não consegui. Agora, decidi. Eu quero isso pra mim, e deu certo logo na primeira vez. Confesso que ainda estou extasiada. Aos poucos, vou entender melhor tudo que estou vivendo. Eu amo tanto o Carnaval que eu quero participar. Em qualquer função, o importante é viver essa emoção.”


Com tanta devoção ao Carnaval, De Brito e Tereza, com certeza, vão honrar toda a tradição santista na passarela do samba.


Mestre Daniel
"Sempre tem bossa diferente. O Morro sempre traz novidade. Além das três bossas que a gente já tem programadas, tem a coreografia, que a gente sempre coloca como surpresa, que a bateria sempre promete”. Daniel Corrêa de Araújo tem 44 anos e, na vida profissional, é coordenador de crédito e cobrança. Fora do expediente de trabalho, ele é o Mestre Daniel, da Bateria Chapa Quente, da Unidos dos Morros, e tem uma longa história com a escola.


“Eu comecei em 1996 como ritmista. Sempre toquei caixa”. A história de Daniel começou a mudar quando o Carnaval de Santos ficou parado, entre os anos de 2001 e 2006. “Naquela época, muitos ritmistas pararam durante esse tempo. Quanto retornamos, nós fomos procurar ritmistas, fazer escolinha para ensinar o pessoal a tocar instrumento de escola de samba, e foi nesse período que eu comecei a tomar a frente e eu fui ficando.”


E como é, para um mestre tão experiente, o momento de colocar a bateria na avenida? Qual o momento mais tenso? “Eu acho que é toda a preparação, mas, quando toca a sirene, a gente está cantando nosso hino, o pessoal soltando os fogos de artifício, é ali que a gente fala. Chegou a hora. É agora que a gente tem que resolver.”


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