Histórias de Carnaval: os personagens do samba

Nessa coluna, Lúcio Nunes, assessor da Licess, e as rainhas Renata Costa, Kaylane Chavier, Lika Borges e Selma Santos

Por: Eduardo Silva  -  10/02/23  -  06:24
Renata Costa, rainha da Bateria Ousadia, da Mocidade Independente de Padre Paulo
Renata Costa, rainha da Bateria Ousadia, da Mocidade Independente de Padre Paulo   Foto: Cristiano Feder/Divulgação

Alô povo do Samba! De tantos colaboradores que atuam nesta época, é bom registrar o trabalho competente e de muito amor ao Carnaval do jornalista Lúcio Nunes. Assessor da Liga das Escolas de Samba (Licess), ele sempre incentiva todos os profissionais que atuam na Baixada Santista. A coluna Histórias do Carnaval só pode agradecer pelas dicas e sugestões que ele faz questão de passar. Além das informações necessárias sobre o desfile oficial, ele também vibra quando as reportagens são apresentadas ou publicadas na imprensa. Tão discreto quanto eficiente, Lúcio merece todos os elogios e a nota máxima nos quesitos informação e organização.


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Renata Costa


“Eu sou a cara do Carnaval. Quem olha, já fala na hora: ‘Essa aí é do Carnaval’. Tem coisas que são inatas de cada um, né?” Esta é a Renata Costa, 40 anos de idade, psicopedagoga da Prefeitura Municipal do Guarujá, e foliona de primeira. Ela é a rainha da Bateria Ousadia, da Mocidade Independente de Padre Paulo, e se encantou com a alegria dos blocos de Carnaval. Começou pelo Gonzaguinha, em São Vicente. E, aí, passou a frequentar blocos vicentinos e santistas. Toda hora era convidada: “Me chamavam para ser rainha, princesa, madrinha. Em todos os blocos. Era só me chamar que eu ia mesmo.”


O primeiro desfile de Renata Costa foi pela Sangue Jovem. “Desfilei dois anos na Sangue, mas em carros alegóricos. Depois, fui convidada pelo Dentinho para sair na X-9”. Na escola do Macuco, Renata saiu uma vez na frente da bateria e mais quatro anos como musa da X-9. Depois da Pioneira, foi chamada pelo mestre Rogério Santos, que na época também era presidente da escola. “Estou na Padre Paulo há cinco anos, sempre como rainha.”


Renata não para. Ela mora em São Vicente, trabalha em Guarujá e desfila pela Padre Paulo, em Santos. Quando não está na agremiação, ainda curte os blocos do Estuário. “Eu fui abraçada pela comunidade do Estuário. Estou na escola, nos blocos”. Ela está pronta para o desfile deste ano e quer ajudar a Padre Paulo a recuperar o seu lugar na elite do Carnaval. “É uma emoção indescritível, porque você está no coração da escola. Eu acho que é uma responsabilidade muito grande. Eu tento levar toda minha alegria, charme, beleza. Me sinto honrada de estar na frente da Bateria Ousadia.”


Kaylane Chavier é rainha de bateria da Academia do Samba Unidos da Zona Noroeste
Kaylane Chavier é rainha de bateria da Academia do Samba Unidos da Zona Noroeste   Foto: Divulgação

Kaylane Chavier


A rainha de bateria da Academia do Samba Unidos da Zona Noroeste tem samba na veia. Kaylane Chavier cresceu numa família apaixonada por Carnaval e que começou a história da escola. Neta de um dos fundadores, Cassius Clay, e de dona Guiomar, primeira porta-bandeira da agremiação, ela também teve nos pais o incentivo necessário para seguir no samba. Desde os 3 anos de idade, ela frequentava os ensaios.


“Meu pai foi uma grande influência porque sempre me levava com ele, mas a família toda sempre foi da escola”. Desde cedo, ela estava, literalmente, em casa. O pai, Edson Chavier, era o mestre de bateria, e a mãe, Ruanita Rosa, era a madrinha da bateria. Foi só uma questão de tempo para Kaylane seguir esse caminho. “Com 5 anos, eu já era madrinha-mirim da bateria e saí com a minha mãe de madrinha. Chegamos a desfilar juntas alguns anos”. Kaylane foi musa e princesa, até ser coroada em 2020. “Eu fiquei bem feliz, porque sou da comunidade e nem sempre é isso que acontece.”


Depois da estreia, ela viu a pandemia parar com os desfiles e, agora, está pronta para voltar a desfilar como rainha da Bateria Ritmo Perfeito, do Mestre Mutchacho. “A retomada vai ser de muita alegria e emoção. É um Carnaval muito esperado e vai ser gigantesco.”


Novamente, vai estar ao lado dos pais, que continuam firmes na Unidos da Zona Noroeste, todos com o coração batendo mais forte pela escola. Estudante de Enfermagem, sonha em se formar médica. Nem assim pensa em parar de desfilar. “É uma emoção superdiferente. É muita responsabilidade, mas também, uma experiência muito rica.”


Lika Borges é rainha de bateria da Escola de Samba Acadêmicos Bandeirantes do Saboó
Lika Borges é rainha de bateria da Escola de Samba Acadêmicos Bandeirantes do Saboó   Foto: Divulgação

Lika Borges


A rainha de bateria da Escola de Samba Acadêmicos Bandeirantes do Saboó, Lika Borges, vive intensamente o dia a dia. Pode ser no trabalho, em casa e, claro, no Carnaval. A paixão pelos desfiles é tão grande que as duas filhas já seguem o caminho da mãe. Letícia tem 22 anos e é segunda porta-bandeira da União Imperial. Por sua vez, Gabriela está com 18 anos e é ritmista da Zona Noroeste. O filho mais novo, Ícaro, tem apenas 12 anos e, por enquanto, só ajuda a mãe.


Lika nasceu em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, e se aproximou do samba por influência do pai, que era da ala de compositores da tradicional Beija-Flor, de Nilópolis, junto com o famoso Neguinho. Ela chegou a Santos aos 8 anos de idade e, como foi morar no Saboó, não demorou muito e já estava no Bloco UTI, onde fez parte da Comissão de Frente por dois anos. O bloco virou a escola Acadêmicos do Bandeirantes do Saboó.


“A partir desse momento, a escola passou a fazer parte da minha vida. Tive que me ausentar um pouco por ser mãe das meninas, mas voltei em 2006. Fui nomeada musa em 2015 e fiquei três anos. Em 2018, fui coroada rainha da bateria Furacão e não deixei mais o posto”, conta.


Para Lika Borges, que tem 42 anos, o Carnaval só faz bem: “Esse meio me rejuvenesce. Eu faço o que amo e só me divirto, por isso, estou sempre bem”. Lika tem um estúdio de tranças com as filhas, As Borges 013, e quando não está trabalhando no estúdio gosta de ir ao barracão. A escola e a bateria têm muita importância na vida dela. “A bateria é o coração e o nosso pavilhão é vida. Sem ele, eu não sou nada”. Lika não para um minuto e, não bastassem o trabalho, a família e o Carnaval, ela quer voltar a estudar Jornalismo. Começou no ensino a distância e quer fazer aulas presenciais para conhecer melhor a profissão.


Nada parece impedir essa sambista agitada de realizar os seus sonhos. “Quero fazer o possível para ajudar meu pavilhão, confeccionando fantasia, ajudando nos carros e onde for preciso. Só sei do amor que inunda o peito por algo que nem muitos entendem.”


Selma Santos é rainha de Bateria Pura Cadência
Selma Santos é rainha de Bateria Pura Cadência   Foto: Divulgação

Selma Santos


“Meu nome é Selma, mas pode colocar Nega, porque todo mundo me conhece assim”. Selma Santos tem 44 anos e é assistente social, mas vive o Carnaval há muito tempo. “Eu lembro que, com 12 anos, a Márcia, minha irmã, era porta-bandeira, e meu cunhado, o Caraúba, atual Cidadão Samba, era mestre-sala da escola Império Dourado. Eles me levavam para os ensaios e, aí, começou tudo. Ao lembrar a minha história, passa um filme na cabeça. De todos que me ajudaram. De todos que me apoiaram.”


Selma começou como passista, saiu na Comissão de Frente, depois participou de alas. Da Império Dourado, ela se transferiu para a Imperatriz da Ilha, quando foi coroada rainha do Carnaval de São Vicente. “Desde essa época, faz 19 anos, eu sou a rainha da Bateria Pura Cadência, do mestre Peter Pan”. Com o tempo, o nome mudou para Imperatriz Alvinegra, e ela seguiu firme, “sempre com muito amor e dedicação”.


Quando fala do Carnaval, Selma fica muito à vontade: “É uma dedicação que é difícil até de explicar, mas se resume a afeto e acolhimento.”


Como as demais rainhas de bateria, Selma Santos está na maior expectativa com a volta do desfile oficial. “Essa retomada vem com muita garra, muito trabalho e muito amor”. Apesar de toda a alegria e da ansiedade por momentos felizes, Selma também se lembra com saudade das pessoas queridas que partiram, como o Gilson Café, que há 19 anos era intérprete da escola. “Vai ser um Carnaval muito difícil, em que a gente vai ter que estar muito unido, muito forte, muito fortalecido, com muito amor, mas Carnaval é isso também. Boa sorte para todas as agremiações.”


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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