Venezuela repreendida

A reação do governo brasileiro foi tímida, mas certeira, demonstrando “preocupação” com os rumos de Maduro

Por: ATribuna.com.br  -  28/03/24  -  06:24
  Foto: AGÊNCIA BRASIL

Finalmente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cedeu ao bom senso e aos fatos e repreendeu o governo venezuelano por uma notória disposição de distorcer o processo eleitoral. A reação do governo brasileiro foi tímida, mas certeira, demonstrando “preocupação” com as decisões do regime de Nicolás Maduro, no poder desde 2013, em relação ao pleito. O Itamaraty, em nota, afirmou literalmente que a candidata pela Plataforma Unitária Democrática (Corina Yoris) foi impedida de se registrar no Conselho Nacional Eleitoral (CNE), apesar de não haver medidas judiciais contra ela. Por último, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro conclui que a exclusão da opositora é “incompatível” com o acordo de Barbados.


Nas negociações de Barbados, o Governo Maduro, perante representantes do Brasil e Estados Unidos, e de outros países, garantiu eleições livres e uma votação justa. Em contrapartida, os EUA liberaram um venezuelano detido e retiraram parte das sanções econômicas. Entretanto, o presidente da Venezuela, que atua nos moldes de um ditador, confirmou o que já se sabia, que não é um democrata. A começar, porque controla o Judiciário e o CNE, portanto, com potencial para influenciar as eleições. Mas mesmo com Barbados, o regime de Caracas manteve uma série de medidas impedindo a atuação dos opositores nas eleições. Uma dessas iniciativas foi excluir as possibilidades de María Corina Machado, eleita em prévias da oposição para enfrentar Maduro, de ir às urnas. No fim, ela indicou sua homônima (Corina Yoris), filósofa e professora, para registrar a candidatura presidencial.


A reação do governo venezuelano em relação às declarações do Brasil foi dúbia. Caracas disse que a nota do Itamaraty parecia ter sido “ditada” pelo Departamento de Estado dos EUA. Por outro lado, elogiou Lula, a quem agradeceu por condenar as sanções americanas, que foram retomadas após Maduro descumprir Barbados.


Desde Hugo Chávez, o radicalismo venezuelano sempre preocupou os governos petistas nos bastidores, o que continuou até os dias atuais. Porém, na política conduzida pelo assessor do Planalto para a política externa, Celso Amorim, o país é visto como parceiro, em meio a um apoio ideológico que não contestava o autoritarismo.


Entretanto, falta entender até que ponto o Governo Lula pretende ir em relação a Maduro. Oficialmente, a reação brasileira foi motivada por decisões da Venezuela que representaram um deboche a uma série de países, incluindo o Brasil, no acordo de Barbados. Mas o Palácio do Planalto, pressionado por queda de popularidade, quis dar uma resposta às redes sociais, onde a esquerda estava sem condições de responder aos adversários. Deve-se lembrar ainda que a eleição presidencial da Venezuela, que geralmente ocorre em dezembro, será realizada em 28 de julho, curiosamente dia do aniversário de Hugo Chávez.


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