Saindo do anonimato

A saída do anonimato foi involuntária, mas que tenha servido para jogar luz sobre categorias nem sempre valorizadas

Por: Da Redação  -  10/05/20  -  12:26

“Estou com medo, mas estou aqui até tudo isso terminar”. Assim terminou a entrevista de uma enfermeira de Roma a uma TV italiana. Em palavras apressadas, ela entrava para mais um plantão no hospital em que trabalhava desde que se formou e, aos 35 anos, dizia nunca ter imaginado enfrentar tamanho desafio.


A pandemia do coronavírus trouxe à superfície da sociedade um sem-número de iniciativas e movimentos até então desconhecidos ou pouco divulgados. De um momento para o outro, centenas de milhares de pessoas passaram a confeccionar máscaras de pano, empresas se juntaram na doação de recursos para montagem de hospitais de campanha, aquisição de insumos e equipamentos, entidades e organizações de cultura se uniram para levar espetáculos virtuais a todos aqueles que passaram a ter os quatro cantos da casa como único universo.


Mas se há uma categoria a quem toda a humanidade deve prestar reverência são os profissionais da Saúde: médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem, atendentes que atuam em hospitais, unidades básicas de saúde e prontos-socorros.


Da africana Duala até a charmosa Roma, passando pela cosmopolita Nova York e chegando ao Brasil, a pandemia do coronavírus já matou centenas de profissionais da Saúde - e infectou outros milhares deles. 


A rotina desse exército vocacionado para tentar salvar vidas é muito difícil e desafiadora em tempos normais, mas se tornou ainda mais dramática nos últimos meses.


O considerável fluxo de pacientes, a falta de equipamentos, o medo da infecção e a necessidade de dar suporte aos pacientes mais graves são as dificuldades e tarefas que devem superar a cada dia. Some-se a isso a privação do convívio familiar a que muitos passaram a se submeter, para resguardar os mais próximos do risco da contaminação.


No universo desses profissionais há os melhor remunerados, como os médicos, e os que ainda recebem proventos ínfimos e tratamento precário dentro de hospitais públicos e privados, com jornadas extenuantes e condições primárias de trabalho. Mas todos, sem distinção, têm a vida humana do outro como foco e matéria-prima. A pandemia do coronavírus deixou todos eles em uma linha de frente que mistura aplausos e músicas na varanda, presentes inesperados e homenagens de anônimos por todos os lados.


Embora haja um esforço financeiro para prover a rede pública e privada de recursos suficientes para dar conta do desafio, é sabido que nem todos os hospitais têm condição suficiente para garantir a esses profissionais a segurança necessária. Que ao menos sejam vistos, no final dessa jornada de dor e sofrimento, de forma distinta por governos, hospitais privados e operadoras de saúde. A saída do anonimato foi involuntária, mas que tenha servido para jogar luz sobre categorias nem sempre valorizadas.


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