Nas últimas semanas se multiplicaram as análises dos economistas que acham que o País está crescendo mais rapidamente do que se esperava a ponto de gerar preocupações sobre impacto na inflação. Por fim, após cortar a taxa Selic mais uma vez em 0,50 ponto percentual, para 10,75% ao ano, o Banco Central garantiu apenas mais uma redução em maio. Depois disso, a ideia é avaliar os indicadores do País e decidir por novos rumos, como suprimir apenas 0,25 ponto ou mesmo congelar os juros. Por enquanto, os economistas apostam que a Selic chegará em dezembro em 9%.
Nesta semana, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, que considera apenas o mercado formal de trabalho, apontou a geração de 306 mil vagas em fevereiro, bem à frente das 252 mil em igual mês do ano passado e 168 mil em janeiro último. Se de um lado isso é excelente para a arrecadação do governo, principalmente da Previdência Social, para a economia é injeção de dinheiro novo no consumo, em investimentos e na quitação de dívidas. Mas quando a economia avança em um ritmo mais forte do que as empresas planejaram, é sinal de demanda pressionando a oferta. Assim, há risco da inflação se reaquecer. É uma possibilidade, porém, não uma regra, pois parte dos preços é influenciada externamente, como a cotação do petróleo. Apesar dela estar na casa dos US$ 80, países ricos como os europeus, o Japão e a China estão em baixo crescimento, recessão ou desaceleração, o que não deve empurrar o preço do barril para muito mais que isso.
A inflação pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está acumulada em 4,5% nos últimos 12 meses, coincidindo com o teto da meta do BC para 2024. Porém, nas entrelinhas do IPCA, há pressões sobre serviços e alimentos, permanecendo a desconfiança em relação aos combustíveis, de represamento pela Petrobras por questões políticas.
Muitas dessas dúvidas lançadas pelo mercado podem ser exageradas ou o pior não se confirmar, mas o histórico da economia brasileira é de volta da inflação de tempos em tempos. Não necessariamente no formato de um estouro, mas mantendo o perfil do País de baixo crescimento alternado com recessões – a inflação sobe, a Selic é elevada para contê-la e o Produto Interno Bruto (PIB) perde fôlego.
O problema do reaquecimento pressionando a inflação não é apenas brasileiro. Os Estados Unidos também vivem esse dilema. Por aqui, há o risco do governo errar a dosagem de seus programas sociais por motivos populistas, gerando uma expansão mais forte do PIB movida a gastos públicos, que já estão em níveis preocupantes. Além disso, o presidente Lula e as lideranças do PT retomaram os xingamentos ao BC. Lamenta-se, pois as ferramentas de controle da inflação foram duramente implantadas desde o início do Plano Real há três décadas e, até agora, nada mais eficiente foi implantado.